Carioca Lucas Castello Branco lança Sintoma apenas em formato digital

Cantor e compositor vive em São Paulo há mais de um ano e também tem um livro de poesias, Simpatia, publicado com financiamento coletivo

por Estado de Minas 03/11/2017 07:47

YouTube/reprodução
(foto: YouTube/reprodução)

Da janela do apartamento, no Bairro de Perdizes, Lucas Castello Branco é capaz de enxergar a serra em dias ensolarados, limpos de nuvens. Ali, na beirada do concreto, de olho no verde ao fundo, o carioca, há pouco mais de um ano e meio em São Paulo, foi capaz de entender sua persona artística, seu lugar no mundo, seu ofício. Serviço, o disco de estreia, lançado há quatro anos, era uma entrega, como ele mesmo diz. Erguido com a ajuda dos amigos, o álbum não foi promovido ou vendido. Não fez videoclipes, dispensou singles. Desenhando o amor em traços de pulso leve, o álbum cresceu organicamente, no boca a boca. “Foi um disco que me foi doado. Tive ajuda para fazê-lo. Quis que ele também fosse uma doação”, diz Castello Branco – o nome artístico escolhido não inclui o Lucas. “Serviço, o disco, foi um serviço, mesmo”, brinca.

A estreia solo era o descolamento do que se conhecia do trabalho do artista. Um cânion de distância do som criado por ele, coletivamente, com o grupo R.Sigma, banda influentíssima na cena da indie carioca, findada em 2011. Das guitarras distorcidas e das letras melancólicas, Castello Branco seguiu para o mato, um ambiente sonoro brejeiro. Experimentou – ou reviveu – seus dias no monastério fundado pela mãe em Serra do Capim, em Teresópolis, no Rio de Janeiro, onde viveu dos 5 aos 16 anos. Naquele disco, o carioca encontrava quem havia sido no período pré-vida urbana.

Sintoma, o enfim lançado segundo disco, é Castello a olhar para um mundo doente – ferido de amor, de desânimo, desalentado. Não se trata de dor física e, sim, da agonia que gela a alma. No intervalo de quatro anos entre os dois álbuns, o músico precisou encontrar quem era, artisticamente. Não era mais o garoto criado no Núcleo de Serviço Crer-Sendo, como cantava em Serviço, também não era o jovem de coração partido ao tentar encontrar seu lugar no mundo com o R.Sigma. Veio Simpatia, livro de poesias realizado com o auxílio de financiamento coletivo – e 5 mil cópias vendidas. Em seus poemas ele se encontra. Contorce-se para deixar sair desejos, sexuais e amorosos, paixões e solidões, gritos e sussurros, em estrofes curtas e versos de poucas sílabas.

DEFEITOSint

Algumas das palavras de Simpatia ganham o canto em Sintoma. “Com o livro, pude aprender mais sobre mim, sobre meus defeitos. Entendi que é possível me expor de forma que não consegui em Serviço, porque ele tinha outro objetivo”, explica. O segundo álbum veio motivado por uma “fome”. “A música é a melhor forma que tenho para me comunicar”, diz.

Sem gravadora e formato físico, Sintoma está disponível digitalmente e se esparrama por 11 canções e 42 minutos. “É um espelho. Meu e do mundo onde vivemos”, explica Castello. As mensagens são mais diretas e menos filosóficas, como em O peso do meu coração, que entrou na lista das 50 músicas mais tocadas de forma viral no Spotify. Cara a cara, Coragem e Não me confunda são mântricas. Apoiados em violões e sons sintetizados, os versos parecem vasculhar os pontos de dores no corpo. Todos os dias, no Instagram, ele replica mensagens de agradecimento dos fãs. São casos de depressão a insônia apaziguados por Sintoma, dizem eles.

Sem soar messiânico, Castello Branco se dá por satisfeito. “Quando digo cura, não quero ser pretensioso. Não sou eu quem vai curá-los, mas posso propor uma vivência de cura. Que as pessoas entrem na mesma vibração com a qual me curo”, afirma.  (Estadão Conteúdo)

SINTOMA
• De Castello Branco
• Independente
• Disponível nas plataformas digitais

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