Lee Ranaldo, ex-Sonic Youth, faz apresentação acústica em BH

Na apresentação de hoje n'A Obra, um dos mais inventivos guitarristas do rock, mostrará faixas de Electric trim, álbum que lança em setembro pela gravadora independente Mute Records

por Carlos Marcelo 16/08/2017 08:00

Cristiane Oliveira/Divulgação
(foto: Cristiane Oliveira/Divulgação)

Aos 61 anos, Lee Ranaldo não para de buscar novidades. Um dos mais inventivos e influentes guitarristas do rock ao comandar com Thurston Moore as dissonâncias da banda nova-iorquina Sonic Youth, ele continua à procura de novas experiências. A mais recente delas foi uma temporada em Brasília para a produção de músicas para a trilha original de Ainda temos a imensidão da noite, longa-metragem do cineasta Gustavo Galvão. A vinda ao Brasil para o trabalho ganhou como complemento uma turnê acústica, que passou por Ribeirão Preto, Rio de Janeiro e chega hoje a Belo Horizonte para apresentação única, com ingressos esgotados.

Na apresentação de hoje n’A Obra, Lee Ranaldo mostrará faixas de Electric trim, álbum que lança em setembro pela prestigiada gravadora independente Mute Records. “Esse é um disco bem diferente dos outros que lancei, que foram gravados como a gente fazia no Sonic Youth, com a banda tocando no estúdio”, antecipa Ranaldo em entrevista ao Estado de Minas. “Desta vez o processo foi muito mais experimental, com uso de colagens, beats eletrônicos e samples produzidos pelo espanhol Raúl Fernández”, revela.

Além do trabalho em parceria com Fernández, Electric trim tem participações da cantora Sharon Van Etten, do guitarrista Nels Cline (Wilco) e letras assinadas pelo escritor Jonathan Lethem (conhecido no Brasil pelo romance A fortaleza da solidão). Duas faixas podem ser conferidas nos serviços de streaming: Circular (right as rain) e New thing – esta última, um comentário de Ranaldo sobre as novidades tecnológicas que surgem a cada instante e mudam as nossas vidas.

CINEMA E foi em busca de coisas novas que Lee Ranaldo desembarcou em Brasília para produzir as músicas da banda Animal Interior, formada pelos músicos-atores escalados por Galvão para o seu longa-metragem: “Gosto de trabalhar com cinema, é fascinante. Já tinha feito algo parecido na série Vinyl, de Martin Scorsese. Apareceu essa oportunidade, foi ótimo”. Para Ayla Gresta, uma das integrantes do Animal Interior, foi um “encontro mágico”. “Ele foi muito generoso, jovial e gentil. Tê-lo aprovando o som da gente deu a confiança para fazer esse trabalho tão delicado em tão pouco tempo de banda.” Outro dos músicos-atores, Gustavo Halfeld conta que a gravação pilotada por Ranaldo tentou captar a energia da sonoridade ao vivo e complementa: “Vê-lo chegando ao estúdio enquanto ensaiávamos foi inacreditável, daquelas experiências que fazem a vida valer a pena”.

O cineasta Gustavo Galvão lembra que Lee Ranaldo, antes de iniciar o trabalho, pediu a tradução das letras, escritas em português pelo diretor, para entender a temática da banda que aparecerá na tela. “Ele tem uma trajetória artística muito forte, voltada para a experimentação. E isso me interessava bastante, ainda mais em um momento em que o rock está tão fofo”, explica o diretor. Ranaldo produziu cinco músicas do grupo montado para o filme, entre elas duas instrumentais. Definida pelo diretor como uma história de amor entre dois integrantes da mesma banda, sem perspectivas pessoais e profissionais, Ainda temos a imensidão da noite terá filmagens em Brasília e Berlim nos próximos dois meses, com lançamento previsto para 2019.

 

 

 

Neil Young e viola caipira 

 

 Apesar do formato voz e violão, não se deve esperar uma apresentação plácida de Lee Ranaldo hoje em BH, a partir de 20h30 n’A Obra. Tudo porque ele transporta para o instrumento acústico as mesmas dissonâncias e afinações inusitadas que utiliza na guitarra elétrica, pontuando o show com momentos desconcertantes e catárticos – uma das marcas registradas do Sonic Youth. Ele não se oporia a uma eventual volta da cultuada banda depois da separação de Thurston Moore (guitarras e voz) e Kim Gordon (baixo e voz), mas considera “muito difícil” que isso ocorra: “Provavelmente não, mas quem sabe?”. Ranaldo enaltece o legado de seu grupo, que conseguiu – mesmo quando foi contratado por uma grande gravadora, no início dos anos 1990 – lançar os discos que queria fazer, sem interferências externas.


“Um de nossos objetivos foi apontar para novas direções, e continuo fazendo isso na minha carreira solo”, destaca Ranaldo, sempre curioso para conhecer mais sobre a cultura de outros países. Ele se impressionou com as afinações da violeira sul-mato-grossense Helena Meirelles. “Viola caipira? Great!”, comentou o músico, que costuma encerrar suas apresentações com Revolution blues, do canadense Neil Young. “Neil continua sendo um grande exemplo de alguém que confronta as expectativas, prefere se arriscar a se repetir. Eu também: agora, por exemplo, estou cantando mais e com maior convicção. Comecei minha carreira de forma mais experimental com a guitarra elétrica, agora faço apresentações com um instrumento mais tradicional, o violão. Mas do meu jeito”, enfatiza.

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