Trio Metá Metá faz dois shows n'A Autêntica

Músicos paulistanos, que estão lançando álbum 'MM3', farão a trilha sonora do novo espetáculo do Grupo Corpo

por Márcia Maria Cruz 02/12/2016 11:10
Fernando Eduardo/Divulgação
(foto: Fernando Eduardo/Divulgação)
Com sonoridade que funde elementos da canção brasileira, música africana, jazz e rock, a banda Metá Metá fará shows na Autêntica, sexta (2) e sábado (3). Formado por Juçara Marçal (voz), Thiago França (sax) e Kiko Dinucci (guitarra), a banda foi convidada pelo Grupo Corpo para compor a trilha de seu próximo espetáculo. Desta vez, porém, o trio vem a Belo Horizonte lançar seu terceiro álbum, MM3.


As músicas são um potente diálogo, tanto na forma como nas letras, com o universo da cultura africana. “É mais uma vivência do que uma pesquisa. Eu, Kiko e Juçara somos praticantes do candomblé. É algo que está no nosso dia a dia. Os orixás são inspiração muito forte”, afirma França. Um exemplo é a faixa Oba Koso, uma cantiga do candomblé, e Osanyin, que, na forma, faz referência ao odu, uma espécie de parábola na tradição iorubá. “É como uma reza. Esse universo é tanto nosso assunto como a estética que adotamos.”

O que se tem no álbum não é, porém, uma referência literal a aspectos da linguagem das religiões africanas. Tampouco uma “releitura”, na opinião de França, que considera essa palavra completamente esvaziada de sentido. “São influências.” Em MM3, a banda apresenta a interlocução com a África do Norte, em especial com Marrocos, Etiópia, Níger e Mali.

“Tocamos em Rabat, capital do Marrocos. Captamos o sentimento do deserto”, diz sobre a turnê que fizeram em julho de 2015 por países da África e Europa. Nessa viagem, os músicos também encontraram conexões entre os países africanos e o Brasil. “Tem um mistério ali. Fomos a feiras em ruazinhas estreitas com a venda de produtos que não sabíamos direito o que era. A cultura árabe e muçulmana é muito forte. As imagens são muito fortes.” Juçara destaca as cores, as pessoas e os cantos religiosos que ecoavam pelas ruas.

A banda se identificou com a sonoridade dos músicos marroquinos. “É uma tradição diferente, sonoridade estranha, mais rasgada, com a qual a gente se identificou muito.” Na viagem, eles puderam ter a experiência do deserto, o que também marcou o olhar de França. “É um lugar árido, mas ao mesmo tempo nublado, com o céu cinza.” A viagem possibilitou aos músicos interação com colegas africanos. “É um músico que toca muito de forma intuitiva, meio manco, do jeito que dá. Nós nos identificamos muito com esse jeito. Não tem um estudo teórico. É algo visceral. Muitos álbuns de jazz são muito limpinhos. Aquela música tem algo de sujo, o que a gente gosta muito”, afirma o saxofonista.

CORPO
O músico lembra que a banda não hesitou quando recebeu o convite de Paulo Pederneiras para compor a trilha do próximo espetáculo do Grupo Corpo. Como é um trabalho em processo, França diz que ainda não é possível dar muitos detalhes, mas adianta que a inspiração será Exu. “Exu Bará é o orixá que rege o corpo, o movimento, a dança”, afirma. Como as coreografias do Grupo Corpo têm, em média, 40 minutos, o músico conta que eles trabalham com algo em torno de oito a 10 composições, que já foram gravadas em estúdio. No momento, a banda está no processo de finalização do trabalho.

Em momento em que cresce a intolerância no Brasil, principalmente a religiosa, o trabalho do Metá Metá abre as portas para o universo das religiões africanas. “A sonoridade da banda traz toda a inquietação e o desconforto com o dia a dia. Cada artista tem sua vocação. Mas não conseguiríamos fazer algo que não gerasse incômodo. Não sei se o jeito que a gente faz é o certo. Mas, para nós, é inconcebível outra coisa.”

O trio está num momento intenso, com diferentes frentes de criação. Juçara Marçal conta que Kiko Dinucci deve lançar o disco solo Cortes curtos no início de 2017. Thiago França pretende lançar uma loja virtual – Arranco o Toco – em parceria com Pedro Pinhel. “Vai vender todos os nossos produtos – discos, camisetas, sacolas – e terá também outros produtos.” Juçara está gravando o disco Os sambas do absurdo, em parceria com Rodrigo Campos, Gui Amabis e Nuno Ramos.

PRÊMIO APCA

O Metá Metá recebeu nesta semana o Prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes) de melhor álbum de 2016. O disco premiado,
MM3, é a base do repertório dos shows. MM3 foi gravado ao vivo, em três dias, com sonoridade dinâmica e marcada pela improvisação. A banda diz que usou esse método buscando ser fiel à sensação de êxtase, catarse e transe que caracteriza seus shows. O Prêmio APCA também reconheceu como melhor ator de 2016, na categoria teatro, o mineiro Leonardo Fernandes, por sua atuação no monólogo Cachorro enterrado vivo.


Metá Metá

Show de lançamento do disco MM3. Sexta (2) e sábado (3) , às 22h, na Autêntica (Rua Alagoas, 1.172 – Savassi). Ingressos a partir de R$ 30.

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