Após quase uma década, Martinho da Vila lança disco de inéditas

'De bem com a vida' faz um retorno às origens do sambista da Vila Isabel, reúne velhas parcerias e traz samba-rap em duo com Criolo

por Mariana Peixoto 31/08/2016 08:45

Leo Aversa/Divulgação
(foto: Leo Aversa/Divulgação)
Se as coisas estão ruins, o melhor a fazer é tentar levantar o moral. De bem com a vida, primeiro álbum de inéditas de Martinho da Vila em nove anos, foi concebido com essa intenção. “A situação está confusa, a incerteza é total. Então temos que ser positivos, pois são os otimistas que mudam o mundo. Fiz um disco para pensar, para ouvir, não para dançar e festejar”, afirma o sambista de Vila Isabel, hoje com 78 anos.

Para tal, Martinho reuniu um time com quem nunca havia trabalhado. O projeto foi capitaneado por André Midani, decano da indústria fonográfica. Preto Ferreira, o filho de número sete dos oito que tem, atuou como assistente. “Foi um de 83 anos, outro de 21 e eu”, continua Martinho. E à exceção dele, os outros eram neófitos no samba.

O encontro com Midani, executivo de gravadora que esteve nos bastidores da explosão da bossa nova nos anos 1950 e do rock nacional 30 anos mais tarde, ocorreu depois que ele produziu um show de Martinho sozinho no palco. A sonoridade é baseada no violão, cavaquinho e percussão, assim como Martinho fez no início da carreira. Para o repertório, ele selecionou canções inéditas, algumas antigas, outras compostas para este trabalho.

É uma ode à vida, ao samba e também ao choro. “Eu, violão, você, cavaquinho/Eu na canção, você no chorinho/ Sem acordar se era noite ou se era dia/ Felicidade?/ Uma utopia”, abre Martinho o álbum com Escuta, cavaquinho!, parceria com Geraldo Carneiro.

ÁFRICA

 

São 14 faixas, muitas delas com parceiros ilustres. Carlinhos Vergueiro dividiu com Martinho a autoria de Desritmou, canção amorosa, assim como Amanhã é sábado, em clima de dor de amor. A África é celebrada na percussiva Do além (com Arthur Maia), que tem início com belo arranjo vocal. Com Ivan Lins, Martinho assinou Saravá!, que celebra a ponte Brasil-Portugal-África, assim como Daqui de lá e de acolá, composta com Francis e Olivia Hime.

A entrada de Preto abriu o leque de Martinho, que gravou com Criolo as faixas Alegria, alegria minha gente! e De bem com a vida. “Eu tinha uns sambas falados e queria levar a mensagem deles para o disco. O Preto me falou para chamar o Criolo, eu disse que não conhecia a música dele. Demos uma ouvida, adorei, e o chamaram. Me disse que foi criado ouvindo minha música, já que a família deles é fanática por samba”, conta Martinho. O bate-bola entre o samba e o rap é simpático, natural, cada um na sua praia.

Uma faixa que destoa propositalmente do conjunto é Muita luz. Coautor da faixa, João Donato abre o samba ao piano. Jorge Mautner toca ao violino uma citação de Jesus alegria dos homens. Completando o time de instrumentistas está o baixista Arthur Maia. A letra é ora declamada, ora cantada.

De bem com a vida reforça o tom esperançoso e o encontro com o samba de sua origem. Os arranjos não foram preparados anteriormente, atesta Martinho. “O disco foi quase todo feito na base do improviso.” Algo que só um bamba sabe como fazer.

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