Supla lança livro sobre sua multifacetada carreira pop

Astro pioneiro de reality shows, 'coxinha príncipe' e punk do BRock, ele acaba de fazer música para Donald Trump

por Mariana Peixoto 22/02/2016 07:00

Mateus Mondini/divulgação
(foto: Mateus Mondini/divulgação)
“Ninguém gosta de ser criticado. Who da fuck like that? Os caras nem me conhecem e falam. Mas sou um cara gente boa, you know, minha história é complicada... Tem a política, o PT, a posição em que tudo está agora. Tento sair pela tangente, mas estou acostumado com isso.” Supla passou a vida toda sob os holofotes – 50 anos (em 2 de abril) “vividos de verdade”, além de três décadas de carreira.

Essa trajetória o próprio conta no livro Supla: Crônicas e fotos do Charada brasileiro (Edições Ideal). A noite de autógrafos será nesta terça-feira, na Leitura do BH Shopping.

O livro, de passagem, é muito (mas muito mesmo) mais imagem do que palavras. O que ele fez foi recuperar sua história criando 50 textinhos ilustrados (que ele chama de crônicas). Supla não pensou em fazer um livro cronológico, mas acabou ficando assim.

Com prefácio de mamãe Marta e papai Eduardo Suplicy, a narrativa descortina a trajetória única no universo pop nacional. Porque Supla já fez de tudo: jogou futebol e polo (a fase “coxinha príncipe”, como denomina), lutou boxe, virou punk, participou da explosão do rock Brasil, demoliu paredes nos EUA, fez TV e cinema. Como se não bastasse, estrelou o primeiro reality show da televisão brasileira. Namorou meio mundo (de Nina Hagen a Bárbara Paz), morou muito tempo fora e aprendeu inglês antes do português.

Supla sempre fez o que quis, no matter what. Parece gente boa mesmo, como diz. Fala sem parar, pula de um assunto para o outro, sempre misturando expressões em inglês. “Você está sempre em busca de alguma coisa. O novo álbum ficou pronto (Diga o que você pensa, um disco solo, pois ele está dando um tempo da parceria com o irmão, João, no Brothers of Brazil) e deve sair em abril. Acabei de fazer cinco músicas novas, então não sei se vão entrar ou não no disco”, afirma.

Uma delas é Trump Trump Trump, sobre Donald Trump, pré-candidato do Partido Republicano à Presidência dos Estados Unidos. “Coloquei uma peruquinha e fui gravar o vídeo em Nova York”, conta. Lógico que deu problema. E ele ainda não resolveu o que vai fazer com ela.

Supla sabe rir de si mesmo. Os melhores momentos do livro são quando ele não se leva a sério. Nasceu em berço esplêndido, filho de um Matarazzo e de uma Smith de Vasconcellos. Logo no início, o primeiro dos três herdeiros da família quatrocentona comenta quão bizarra é a fotografia do bisavô materno, um barão cheio de glórias.

Antes de completar 1 ano – Marta o chama Edu; Suplicy, de Eduardo mesmo –, Supla se mudou com os pais para os EUA. A política nunca lhe interessou. “Você tem que dizer o que pensa, mas, para isso, não precisa ser candidato. Defendo a legalização”, afirma ele, cujo discurso sobre drogas é reforçado pela música Parça da erva, da safra mais recente.

Bastante jovem, Supla deixou a casa dos pais para morar com os avós maternos. É Marta quem revela que ele, sentindo-se invadido com as constantes reuniões em sua residência, pediu a ela e a Eduardo Suplicy que dessem um tempo. Os pais prometeram atender. Certo dia, ao acordar e ver a sala ocupada por uma equipe de TV gravando um programa do PT com Lula, Sócrates, Antônio Fagundes e Lucélia, ele arrumou as malas. Mimado, era a avó quem batia claras em neve para que os cabelos ficassem espetados.

Supla não tem o menor problema em assumir tudo o que fez. Admite não assistir, de maneira alguma, a reality shows, mesmo tendo participado (e se tornado um dos protagonistas) do pioneiro Casa dos artistas, exibido pelo SBT em 2001. Aliás, os pais só tomaram conhecimento disso quando o contrato estava assinado. “Nem sabia o que era. Entrei lá porque o Silvio Santos pagaria uma grana por cada semana de participação. E eu precisava dela.”

Recentemente, a geração que mal havia nascido quando ele viveu um romance com Bárbara Paz em frente às câmeras de Casa dos artistas assistiu, na MTV, a Papito in love, em que Supla procurava namorada. No final, a vencedora decidiria se ficaria com o dinheiro ou com ele. Na primeira temporada, a ganhadora optou por Supla, perdendo R$ 100 mil. O namoro não foi para a frente. Já na segunda, encerrada em novembro, a moça desistiu de se casar com Supla em Las Vegas. E levou os R$ 50 mil. “Essa foi mais esperta. As pessoas têm que fazer o que têm que fazer”, diz ele, como que falando também de si mesmo, you know?

SUPLA: CRÔNICAS E FOTOS DO CHARADA BRASILEIRO
• De Supla
• Edições Ideal
• 152 páginas
• R$ 59,90
• Lançamento nesta terça-feira, a partir das 19h.
• Livraria Leitura do BH Shopping. BR-356, 3.049, Belvedere, (31) 3263-2700.

Família quatrocentona

“Uma vez fui para a Itália junto com o meu pai para conhecer a origem da família Matarazzo, e almoçamos na casa de uma tia-avó italiana. Logo que entramos na casa, ela disse para mim e o meu pai: ‘Um político de sinistra (esquerda) e um bandoleiro!’”


O pai

“Não posso deixar de falar do dia em que ele me viu de cabelo descolorido pela primeira vez. Ele olhou para mim e na sequência perguntou a minha mãe: ‘Vai ficar assim para sempre?’”



Nina Hagen

“Nós tivemos um rápido romance. Eu tinha 19 anos e ainda morava com o meu avô... Lembro-me de estar no meu quarto com ela, e lancei a pergunta: ‘Quando você for mais velha, o que vai fazer?’ E ela respondeu: ‘Vou continuar sendo cantora de rock.’”



Billy Idol


“Apenas falei: ‘Sou um artista do Brasil que vai tocar na mesma noite que você no Rock in Rio e o vi passando de moto, achei natural vir me apresentar... Mas, devido a essa recepção supereducada, vou me retirar. See ya in Brazil, welcome to the jungle!’”


Abertura para os Ramones
(Onde levou uma cusparada)
“Eu simplesmente não entendia o motivo de tanta raiva. Pensei: 1 – Será porque sou filho de políticos?; 2 – Porque venho de uma classe social privilegiada e não tenho direito de estar ali?; 3 – Porque eu fiz um filme com a Angélica e participei da minissérie da Globo Sex appeal?; 4 – Porque o som era uma bosta?; 5 – O que fiz de errado?”


Reality show

“Nos dias de hoje, em que você vai almoçar e vê uma família reunida num restaurante e os filhos estão com seus iPads, sem ninguém conversar na mesa, acho até normal encontrar uma esposa num programa de TV.”

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