Chega às lojas a segunda caixa de CDs que reúne a obra do sambista Moreira da Silva

Box tem quatro discos que compreendem raridades e sua produção entre 1967 e 1979

por Walter Sebastião 27/10/2015 08:30

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DISCOBERTAS/DIVULGAÇÃO
(foto: DISCOBERTAS/DIVULGAÇÃO)
Leva o nome de Sempre sucesso (Discobertas) a segunda caixa de gravações de autor notável: Moreira da Silva (1902-2000). São quatro discos lançados entre 1967 e 1979: Manchete do dia, O sucesso continua, 70 anos de samba e Raridades (os discos anteriores estão em caixa lançada há três anos). “Ainda dá para fazer algo com as gravações dos anos 1930 e 1940, mas mais para a frente”, avisa o produtor e pesquisador Marcelo Fróes, responsável pela empreitada. Fróes vem recolocando em circulação tesouros do acervo histórico musical brasileiro há quase duas décadas.


“Chamam a atenção a personalidade, a interpretação e o repertório de Moreira da Silva, além do fato de ser uma obra extensa e mal difundida”, afirma Fróes. “Foi um prazer realizar este trabalho de digitalizar tudo que ele fez”, acrescenta, sem economizar admiração pelo artista. O mesmo prazer, observa, que vem movendo o trabalho sobre Jackson do Pandeiro. “Moreira da Silva influenciou de forma que talvez nem possamos imaginar”, observa, lembrando que se trata de um artista que gravou durante 80 anos, começando por 78rpm para as antigas Odeon, RCA etc.

Quem brilha nos CDs é um intérprete único, cujo carisma e competência musical continuam impactantes. Estão nos discos composições que constroem a personalidade artística de Moreira da Silva, como Acertei no milhar e Na subida do morro. Mas o divertido é descobrir outras preciosidades, todas marcadas pela verve do intérprete, o que revela coerência artística poderosa no conteúdo e na forma. De um lado, está extensa crônica da vida popular com olhar carioca. De outro, farto repertório dedicado ao samba de breque, gênero pouco exercitado com o registro de excelência que Moreira da Silva dá a ele.

PASSO LARGO
Fróes diz que ser dono de um selo ou gravadora nunca foi sua ambição. “Mas após anos trabalhando para todas as multinacionais e vendo a dificuldade que tinha de aprovar projetos, ouvi do presidente de uma gravadora a sugestão de criar um selo só para os projetos de pesquisa. No início, achei que era um passo largo demais. Depois, não tive opção”, afirma o homem à frente do selo Discobertas. “Infelizmente, as multinacionais não estão em condição de investir, sistematicamente, em projetos assim. A única saída para trabalhos com nosso acervo musical histórico são projetos patrocinados”, acredita.

O selo Discobertas já lançou mais de 300 CDs, resgate da discografia de Beth Carvalho, Celly Campello, Zimbo Trio, Miltinho, Pery Ribeiro e Sérgio Ricardo, entre outros. “A cultura e a memória musical estão registradas em discos e pouca coisa foi digitalizada, quando se constata a quantidade do que foi feito em 100 anos”, explica. O produtor aponta que até existem ações na área (destaca “livros preciosos” e sites), mas sente falta de um trabalho mais consistente. Contando sobre como a música entrou em sua vida, Marcelo Fróes, que é formado em direito, se remete ao impacto dos discos que teve na infância.

Nos anos 1990, profissionalizou-se nesse mercado escrevendo livros e produzindo discos. Tem a sua assinatura a caixa com CDs de Gilberto Gil lançada em 1999, com material raro e inédito achado em arquivos de gravadoras. Trabalho pioneiro que abrangeu outros músicos, de Nara Leão a Renato Russo, passando por Vinicius de Moraes.

Fróes também escreveu um livro sobre a Jovem Guarda e reeditou discos de artistas ligados ao movimento, além de coordenar a edição da obra de Roberto Carlos em CD, em boxes divididos por décadas, lançados entre 2004 e 2007.

O produtor, junto com Michel Jamel, criou, em 2013, a Editora Sonora, voltada exclusivamente para livros sobre música. Entre os títulos já lançados estão volumes sobre Noel Rosa, Moreira da Silva, Zeca Pagodinho, além das biografias de Dona Ivone Lara, Whitney Houston e Syd Barrett, entre outros.

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