Inspiradas em modelo americano, apresentações intimistas ganham espaço no país

Tendência começou lá fora com os chamados living room concerts, ou show na sala de estar

por Rebeca Oliveira 08/09/2015 10:52

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

RECOMENDAR PARA:

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

CORREÇÃO:

Preencha todos os campos.

Facebook / Reprodução
Banda gaúcha 'Apanhador Só' sai em turnê na sala de fãs de todo o país (foto: Facebook / Reprodução)
Shows lotados em lugares enormes podem fazer a alegria da maior parte do público. Mas há quem tenha se cansado da confusão e empurra-empurra. Inclusive artistas, que têm se rendido à tendência de apresentar-se em locais cada vez mais intimistas. A tendência começou lá fora com os chamados living room concerts (show na sala de estar, em tradução literal). Com não mais que 30 fãs, os músicos têm como principal vantagem uma aproximação maior com o público.

Há um número limitado de pessoas. Todas se reúnem interessadas exclusivamente no som, que, dada a proximidade com os ouvintes, dispensa o uso dos amplificadores, embora a maioria dos shows sejam plugados, com formação completa das bandas. O clima é familiar. A cozinha está logo ali.

A banda gaúcha Apanhador Só arrecadou mais de R$ 100 mil em financiamento coletivo, comprou um carro e agora sai em turnê pela sala da casa de admiradores. Este mês, a trupe passa por Campinas, Rio de Janeiro, Vitória e Belo Horizonte. A turnê nacional deve passar por Brasília em março do ano que vem. A capital é uma entre as mais de 22 cidades (escolhidas por meio de votação no Facebook) por onde a banda se apresenta.

Vocalista e guitarrista do grupo, Alexandre Kumpinski afirma que o objetivo é “simplificar os shows para deixá-los mais potentes”. “Dependendo da estrutura, conseguimos ficar mais próximos do público e ter mais autonomia para circular com os shows. Inclusive, nos sustentar deles, o que não é uma realidade no cenário independente”, explica.

Para o músico, a principal motivação para a criação do turnê Na sala de estar é quebrar as barreiras entre eles e o público. “Ficamos mais expostos e num primeiro momento isso é um pouco difícil, mas depois se torna um grande estímulo. Gostamos de buscar a sinceridade e a transparência nas apresentações”, alega. O repertório passeia pelos discos já gravados pela banda, como o elogiado Antes que tu conte outra, de 2013, mas, assim que acabarem a turnê, ele servirá como material para um terceiro álbum.

Pequeno e secreto

A iniciativa da banda Apanhador Só é parecida com o que já fazia o pessoal do Sofar Sounds. Os shows são realizados em mais de 20 cidades do país e carregam o conceito de se voltar a um público menor, mas não menos engajado. Tanto que os ingressos são vendidos antes de saberem quem toca e onde será a apresentação. O local do show é divulgado 48 horas antes, por e-mail. As atrações, somente na hora em que o evento começa. Ninguém se incomoda com a surpresa — ela faz parte do espetáculo.

O projeto começou em Londres, em 2009. Fernando Remiggi trouxe-o para o Brasil três anos mais tarde. “Estudei produção musical e engenharia de som no país europeu. Um dos meus amigos de classe me convidou para conhecer o projeto. No primeiro instante, não achei interessante: ficar numa sala, ver um pessoal tocando, quando eu tinha uma balada para ir?”, recorda-se. “No dia seguinte, ele me mostrou vídeos do show, e me encantei pela ideia. Já sabia que quando voltasse para o Brasil eu traria o conceito para cá”, comenta.

“Como convidado, o principal atrativo é estar bem perto do artista, de conversar com ele. É um lugar aonde se vai para escutar música. Não tem gente conversando ou ao telefone. Como produtor, movimento uma cena forte criando espaços onde não havia”, acrescenta Remiggi. Os artistas são escolhidos em uma pré-curadoria feita no país. Depois, os nomes seguem para aprovação em Londres, sede cultural do Sofar Sounds.

Por parte do público, a procura é intensa. Somente na última edição em Brasília, cerca de 700 pessoas se increveram pelo e-mail dfsofar@gmail.com. Como as vagas se limitavam a 100 pessoas, o restante dos interessados entrou em lista de espera e tem prioridade na próxima apresentação, a ser realizada no próximo dia 27.

Na capital, o Sofar Sounds é organizado pelo músico Adolfo Neto (da banda The EgoRaptors), e já levou nomes como Ellen Oléria e Dhi Ribeiro para pertinho de plateia. O projeto se sustenta com contribuições, que variam entre R$ 25 e R$ 70 — a última dá direito ao ingresso e ao vinil. Atualmente, as apresentações do Sofar Sounds acontecem em mais de 50 países espalhados por cinco continentes.


Conhecida pela sonoridade retrô, a cantora Duffy também investe nesse formato de apresentação. Ela têm se apresentado em casas de fãs na Inglaterra, uma iniciativa que adotou depois de superar o fracasso do último álbum, Endlessly, de 2010.

Ex-vocalista da girlband Rouge, Fantine Thó também tem se apresentado em formato parecido, em shows realizados na casa do público e para média de 50 pessoas. Em São Paulo, o espaço cultural do Sesc Pompeia acredita tanto nesse tipo de performance que criou o projeto Sala de estar. A última a se apresentar foi a brasiliense Zélia Duncan, em um show com repertório onde revisita clássicos da carreira e de outros colegas, ambos significativos na formação musical da intérprete. Uma apresentação para poucos, mas bons fãs.

MAIS SOBRE MÚSICA