Netflix exibe filme de Liz Garbus sobre a vida de Nina Simone

'What happened, miss Simone?' conta a história da pianista clássica que o racismo transformou em cantora

26/06/2015 10:30

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ELEONORE BAKHTAZE/AFP
Nina Simone em show realizado na Argélia, em julho de 1969 (foto: ELEONORE BAKHTAZE/AFP)
Berlim
– Nina Simone influenciou gente de todo o espectro musical: de Bono a John Lennon, de Kanye West a Antony and the Johnsons, passando por Christina Aguilera. Ainda assim, segundo sua única filha, Lisa Simone Kelly, ela morreu sozinha, em 2003, aos 70 anos, sem saber o quanto era amada. “Isso é uma tragédia”, diz Kelly. Ela quis traçar um retrato mais fiel da complexa personalidade de sua mãe com o documentário 'What happened, miss Simone?', dirigido por Liz Garbus, que estreia nesta sexta-feira na Netflix, depois de ser exibido em festivais em diversos países.

Lisa Simone Kelly deixa claro que a relação com a mãe nem sempre foi das mais fáceis. “Mas ela merece ter sua história verdadeira contada por causa de sua jornada, sua música, seus sacrifícios, sua mensagem, as contribuições maravilhosas que deu a nosso povo. Era importante haver algo para educar e inspirar as massas”, explica. Um dos pontos essenciais era ressaltar como Nina Simone, nascida Eunice Kathleen Waymon em Tryon, Carolina do Norte, em 1933, sempre sonhou ser pianista clássica – a primeira pianista clássica americana negra. Queria estudar no Curtis Institute, na Filadélfia, mas foi rejeitada, o que sempre considerou um caso de racismo.

“A artista conhecida como Nina Simone, na verdade veio ao mundo por acidente, por não ter conseguido realizar o sonho de ser uma musicista clássica por conta do ambiente social e da cor da sua pele”, disse Kelly.

'What happened, miss Simone?' não esconde os piores momentos da família: o comportamento errático da cantora, as surras que levava do marido e pai de Lisa, o ex-policial Andrew Stroud, e, em dado momento, o abandono da filha pelos dois. “O processo é de descoberta, de cura, de enfrentamento da verdade. Não é fácil enfrentar a verdade quando ela não vem na forma que você gostaria”, diz Kelly.

Liz Garbus enfatiza que o longa não traz a visão da filha sobre sua mãe. “O filme foi construído a partir das próprias palavras de Nina Simone”, explica. O documentário deixa claro como a artista sempre se sentiu deslocada. Foi considerada cantora de jazz e de blues, quando, na verdade, o que mais ouvia era Bach. A dor e a raiva, sempre presentes em sua voz e em seu olhar, foram mais tarde transformadas em luta.

Nina Simone se jogou de cabeça na militância pelos direitos civis depois da morte de quatro garotas negras numa igreja bombardeada por racistas brancos em Birmingham, Alabama, em 1963. 'To be young, gifted and black' virou um hino entre os negros americanos. Mas logo veio a desilusão com a revolução, que não aconteceu. “No fim, ela dizia que suas canções não eram relevantes. Nisso não concordamos”, conclui a diretora.

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