Discos ganham 'biografia' em forma de livro

Coleções 'Indiscotíveis', da Lote 42, e 'O livro do disco', da Cobogó, são registros históricos deste formato que já foi a maior da indústria fonográfica

por Fernanda Machado 27/05/2015 08:30

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

RECOMENDAR PARA:

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

CORREÇÃO:

Preencha todos os campos.

Divulgação
Benjor tem dois de seus álbuns lançados nos anos 1970 analisados nas coleções 'Indiscotíveis' e 'O Livro do Disco' (foto: Divulgação)
"Livros, discos, filmes – essas coisas importam.” A frase do filme 'Alta fidelidade' parece totalmente sem sentido em 2015. Menos pessoas compram discos inteiros, as maiores produções audiovisuais são séries de TV e os livros também já tiveram dias melhores. As coleções 'Indiscotíveis', da Lote 42, e 'O livro do disco', da Cobogó, servem no mínimo como registro histórico desta forma de arte que já foi a maior da indústria fonográfica e hoje tenta um revival em vinil.

Itaici Brunetti, que organiza 'Indiscotíveis', escreve no prefácio de forma quase saudosista de uma época off-line em que o lançamento de um álbum impactava a vida das pessoas. É esse impacto que aparece nos textos do livro. Em uma das análises, o músico Tatá Aeroplano conta a história de como comprou 'A sétima efervescência do júpiter maçã'. O vocalista do Cérebro Eletrônico e Jumbo Elektro conversou com Marcelo Nova enquanto ouvia o clássico disco dos anos 1990 na Baratos Afins, lojinha de Carlos Calanca, um patrimônio cultural paulistano. Ele teve que convencer o líder do Camisa de Vênus de que o rock e a psicodelia ainda eram pungentes naquele trabalho contemporâneo.

Brunetti diz que a ideia de falar sobre álbuns veio de uma conversa com o amigo e um dos donos da Lote 42, João Varella. Eles fizeram uma lista de discos que achavam importantes e saíram atrás de pessoas que tivessem interesse em escrever sobre o tema. “Os autores tinham total liberdade, a gente só teve o cuidado de ver se o álbum era realmente importante, senão a pessoa poderia falar da banda de um amigo que não tem relevância para a música.”

ACABAMENTO Além dos textos apaixonados, a coleção tem como ponto forte o acabamento gráfico. O livro vem em uma caixinha que lembra os compactos de 7 polegadas e cada volume tem o desenho com uma reinterpretação das capas originais. “Pedimos aos ilustradores que ouvissem os discos e criassem algo novo”, diz. Deu certo.

Enquanto 'Indiscotíveis' trata de obras nacionais, 'O livro do disco' mescla artistas brasileiros e internacionais. Aliás, foi uma coleção americana que inspirou Frederico Coelho e Mauro Gaspar, organizadores da edição. Enquanto eles faziam parte de um mestrado em Nova York e Filadélfia, respectivamente, conheceram a coleção 33 1/3. Quando voltaram ao Brasil, começaram a buscar editoras, até entrar em acordo com a Cobogó. Compraram os direitos para traduzir os livros sobre o 'The Velvet Underground and Nico', aquele da banana, 'Daydream nation', do Sonic Youth, e 'Endtroducing', do DJ Shadow. Eles ainda buscaram pessoas que pudessem escrever sobre as obras nacionais. Na última hora, a função de falar sobre 'Lado b lado a', d’O Rappa, caiu no colo de Frederico Coelho. “Esse é um disco que ouvi muito, mas, se fosse para escolher, provavelmente escreveria sobre o 'Aprender a nadar', do Jards Macalé”, conta ele.

O livro do disco tem textos de mais fôlego. Ainda é possível ler em uma sentada, assim como 'Indiscotíveis', mas, aqui, o momento histórico da composição, bem como o background de como os compositores chegaram ao resultado clássico, importa tanto quanto a sensação de apertar o play e ser arrebatado pela música. 'Lado b lado a' fala de um momento específico do Rio de Janeiro, de violência endêmica e a tentativa de mudar isso. Já 'The Velvet Underground and Nico' mostra como Lou Reed encontrou John Cale, como Andy Warhol enfiou Nico goela abaixo na banda e outras questões que extrapolam a produção do disco em si.

Mesmo analisando várias obras, o único artista comum às duas coleções é Jorge Ben (agora Jor): 'Solta o pavão' (1975) em 'Indiscotíveis' e 'A tábua de esmeralda' (1974) em 'O livro do disco'. Frederico Coelho diz que há outra edição de 'O livro do disco' sendo feita. Já em relação a 'Indiscotíveis' não há nada concreto por enquanto.

MAIS SOBRE MÚSICA