

Em pouco mais de uma hora, o rapper e sua banda competente – com o animadíssimo DJ Dan Dan, Marcelo Cabral e Ganjaman, entre outros – apresentaram as novidades de 'Convoque seu Buda', que mescla rap, MPB, baião, rock, reggae e samba, cujas letras politizadas falam do Brasil contemporâneo. Jornadas de junho de 2013, ocupações urbanas, cracolândia, o coletivo Fora do Eixo, a metrópole paralisada pela greve, Instagram e a obsessão consumista por roupas Armani e sapatos Louboutin fazem parte das rimas contundentes e poéticas de Criolo. No palco do Parque das Mangabeiras estava alguém que realmente representa aquela moçada.
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O repertório do show trouxe também canções mais antigas do compositor, sobretudo do disco 'Nó na orelha' (2011), como 'Grajauex' e o hit 'Não existe amor em SP', que inspirou até cartazes nos protestos de 2013. Criolo chegou a BH depois de empolgar, na madrugada de sábado, a carioca Fundição Progresso. Sobrou gás -- e muito -- para fazer barulho no Parque das Mangabeiras. O som estava ótimo, a plateia alegre e bonita: gente de todas as tribos foi até lá ver o rapper: patricinhas, rastas, o pessoal do hip-hop, a garotada indie. Todo mundou cantou com ele 'eu tenho orgulho da minha cor/ do meu cabelo/ e do meu nariz/ sou assim e sou feliz/ índio, caboclo, cafuso, criolo/ sou brasileiro' -- refrão mais que oportuno neste momento pós-eleições em que teve gente defendendo até a "expulsão" dos nordestinos do Brasil.
BRASIL DE HOJE
Os universitários Rafael Sedov, de 25 anos, e Gabriela Rúbia Vieira, de 24, vieram de São João del-Rei só para assistir ao show. Para Gabriela, Criolo traduz como poucos o Brasil de hoje. Sedov diz que as canções do paulistano denunciam e também trazem a esperança de transformação. Ao encerrar sua apresentação, o cantor e compositor saudou a juventude e foi acompanhado pela multidão ao bradar: 'Convoque seu Buda!'.
Colado na grade, Jorge Lisboa, de 15, estudante do Colégio Santo Antônio, vibrava com o segundo show de sua vida -- o primeiro foi 'Abraçaço', de Caetano Veloso. Ele já chegou ao Parque das Mangabeiras com as rimas de 'Duas de cinco' e 'Convoque seu Buda' decoradas. Voltou para casa feliz com o CD de Criolo na mão, vendido a R$ 10 na barraquinha do músico, preço compatível com a mesada.
Meninos como Jorginho e jovens como o casal são-joanense não deixaram de mandar o seu recado para o rapper, cantor e compositor, que chegou a pensar em não gravar esse terceiro disco e até em desistir da música. Agora, não tem volta: vai ser difícil Criolo descer do palanque -- ops, do palco... Afinal de contas, rap é compromisso, como bem avisou o saudoso Sabotage.