Pato Fu lança décimo álbum de estúdio, com novo baterista

Banda reafirma identidade com 11 faixas inéditas e leitura de canção de Roberto e Erasmo

por Eduardo Tristão Girão 19/11/2014 08:54

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42 Fotografia/Divulgação
Com Glauco Mendes na bateria e John nos vocais em duas faixas, o Pato Fu está à vontade com a pegada pop rock do novo trabalho (foto: 42 Fotografia/Divulgação)
'Não pare pra pensar' é o 10º disco de estúdio do Pato Fu, lançado depois de um período de cinco anos em que a banda belo-horizontina não apresentou músicas inéditas. Glauco Mendes é o novo baterista, ocupando o lugar de Xande Tamietti, que tocava com o grupo desde 1996. Fora isso, o guitarrista John Ulhoa, que segue como seu principal compositor, assumiu o microfone em duas faixas, o que não fazia há pelo menos 10 anos. Não há como evitar a palavra expectativa em torno desse recém-lançado trabalho.

Para a cantora Fernanda Takai (que é casada com Ulhoa, também produtor do disco), colocar esse álbum na praça era questão de sanidade: “Para a gente e para os fãs. Tínhamos muitos motivos para fazer um bom disco, mostrar que o Pato Fu resiste a todos os trabalhos paralelos dos integrantes e que somos uma banda que ainda tem muito o que dizer. Os fãs antigos têm a certeza de que ainda somos uma banda de pop rock”.

Ao mesmo tempo em que 'Não pare pra pensar' é um disco com forte influência roqueira, a tendência dançante é inegável. Isso é amarrado já na faixa de abertura, 'Cego para as cores', e vale para a seguinte, 'Crédito ou débito', ambas escritas por Ulhoa. São 11 faixas, todas assinadas por ele (sozinho ou com parceiros), à exceção da releitura de 'Mesmo que seja eu', sucesso de Roberto Carlos e Erasmo Carlos nos anos 1980.

O guitarrista escreveu quase todas a partir de janeiro. “Enquanto fui para a estrada divulgar meu último disco solo, até junho, o John ficou compondo. Começamos a gravar durante a Copa do Mundo. Ele ouviu muito a banda inglesa Muse durante esse tempo e foi quando a vimos tocando pela TV no Rock in Rio é que compreendemos a sonoridade densa e bem colocada da banda. Ouvimos os discos dela de novo e passamos a querer sons impressionantes, com alguma sonoridade eletrônica”, conta.

Ajudou nisso, sem dúvida, a entrada de Glauco Mendes, que, por enquanto, se mantém como baterista do Pato Fu e do Tianastácia. “Ele e o Xande são muito bons, mas o Glauco é mais rock. O Xande é impecável e foi difícil chamar alguém para ocupar esse lugar com tanta personalidade. Exigimos isso do Glauco, que desse a assinatura que já era dele”, compara Fernanda. Não por acaso, Neves gravou no mais recente álbum dela, 'Na medida do impossível'.

Sem crise Em 'Ninguém mexe com o diabo' e 'You have to outgrow rock’n roll' a artista deixa os vocais por conta do marido. “Há mais de 10 anos ele não cantava sozinho. Não conseguiria cantar com a destreza dele. São músicas ‘tão John’ que ele tinha de cantá-las. Em 'Ninguém mexe com o diabo', por exemplo, ele canta num timbre grave que deveria usar mais. É um som que prefiro”. Outra voz que marca presença no disco é a de Ritchie, em 'Pra qualquer bicho'.

Na avaliação de Fernanda, o novo álbum deixa bem explícita a cara de cada integrante do grupo, do qual também fazem parte Ricardo Koctus (baixo e voz) e Lulu Camargos (teclados e arranjos orquestrais): “Quero que as pessoas vejam por meio do disco que o Pato Fu é uma banda que gosta da carreira que tem, gosta de fazer show e continua com seus pilares muito bem definidos. Não existe crise criativa ou de ciúme. É uma banda que convive harmoniosamente”.

Nesse sentido, descolar seu trabalho solo da produção da banda foi um desafio, considera Fernanda. Como a banda compreendeu isso, fazer com que as contribuições de cada um entrassem na somatória final foi algo natural. “Isso deixa o Pato Fu com menos tendência a querer me agradar. Dou vazão à minha preferência por coisas mais suaves em minha carreira solo. Por outro lado, dou vazão a essa coisa mais energética com a banda. Aliás, nem conseguiria fazer isso sem eles”, observa.

E completa: “Este disco é o da crise dos 40 do Pato Fu. Todos nós passamos dessa idade, exceto o Glauco. É um álbum para pensar sobre o caminho que construímos até hoje, se as decisões foram certas ou não. Um disco de balanço e, curiosamente, dançante. Apesar de algumas letras serem bem leves e solares, é um disco mais pesado e dançante, pra cima. Aliás, nem sei como vamos lidar com essa característica no palco”, diverte-se ela.

Renovação

Se a grande demanda por shows do disco Música de brinquedo (2010) contribuiu para atrasar o lançamento do trabalho mais recente, isso trouxe um benefício valioso para o Pato Fu. “Nosso público está se renovando. As crianças que curtiram Música de brinquedo estão agora frequentando outros espaços de show. Temos feito alguns nos quais têm aparecido crianças. Os pais falam que os meninos querem conhecer como é a banda fora daquele formato”, conta a cantora Fernanda Takai.

REPRODUÇÃO
(foto: REPRODUÇÃO)

Papel
 
A capa e o encarte de 'Não pare pra pensar' são um atrativo à parte, com desenhos de Marcos Malafaia, diretor do grupo mineiro de teatro de bonecos Giramundo. “A gente vem trabalhando juntos há um tempinho. Víamos os  cadernos dele cheios de desenhos e perguntavámos como ele conseguia fazer isso”, elogia Fernanda. Para cada canção ele concebeu uma ilustração absolutamente diferente e rica em cores e detalhes, o que englobou a tipografia. “Dificil foi fazê-lo parar de desenhar”, lembra.
 
Faixa a faixa por John Ulhôa

• 'Cego para as cores'
Uma música sobre sair do buraco. É alguém convidando alguém a voltar a viver. Acho que o som reflete isso, tem dois lados bem definidos, um pesado e dissonante na introdução e outro solar quando entra a voz.
 
 
 
• 'Crédito ou débito'
Uma levada à Adam & The Ants – mais alguém é influenciado por essa banda?. Acho o som deles demais. Acho que é uma perspectiva do carma como uma forma de vingança branca.

• 'Ninguém mexe com diabo'
É um arranjo bem épico, com direito a solo, como poucas vezes me permiti no Pato Fu. Dizem que o amor sempre vence, mas parece que ele sofre muitas derrotas no caminho, somos governados pelo desamor.

• 'Não pare pra pensar'
House “de banda”, letra-mantra, com múltiplas interpretações. Convite ao hedonismo/declaração de que ninguém é capaz de mudar simplesmente pensando parado, sem seguir mais os instintos para não ficar preso à área de segurança a que nos impomos.

• 'Eu era feliz'
A Roberta Campos foi muito feliz ao musicar essa letra e a melodia dela acabou nos levando a um arranjo
bem -empolgante e a um texto bem melancólico. Lembra-me Walking on sunshine, Don’t get me wrong, Town called Malice e Modern love.

• ' Um dia do seu sol'
Balada folk, piano e guitarra. É outra em que alguém oferece uma visão positiva a alguém que está sofrendo, tentando fazer com que essa pessoa se sinta bem. Acho que é uma canção de amor e amizade.

• 'You have to outgrow rock'n roll'
A letra diz que você tem que superar o rock, virar um cara responsável e o som diz o contrário. Acho que gostamos de fazer esse contraste irônico no Pato Fu.

• 'Siga mesmo no escuro'
Tentamos fazer algo que remetesse às baladas do U2 e acabamos com um híbrido entre o dançante e o cantarolável. Mais uma vez, é um convite à paciência e à serenidade para superar uma barra-pesada.

• 'Pra qualquer bicho'
Participação do Ritchie, um cara singular no pop brasileiro. Chorar pra qualquer bicho que merecer é tentar entender as razões de cada um, é sobre tolerância.

• 'Mesmo que seja eu'
Clássico do Erasmo, gravamos para o MudaRock ainda com o Xande e ficou um arranjo empolgante. Não queríamos de jeito nenhum deixá-la sem registro. Já refletia a sonoridade que buscamos agora.

• 'Eu ando tendo sorte'
É a mais calma do disco. Tive a ideia quando entrei no estúdio por um motivo besta no exato momento em que houve um curto-circuito no ar-condicionado. Começou a pegar fogo e apaguei antes de ficar incontrolável. Pensei nessas circunstâncias que fazem a gente se safar do pior por um triz.

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