Marcelo D2 planeja sair pelo Brasil para pesquisar tambores

Minas Gerais está nos planos do rapper carioca, que incluiu sample de canção de Milton Nascimento em seu último CD

por Ângela Faria 07/02/2014 08:00

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Washington Possato/divulgação
O cantor e compositor Marcelo D2 diz que o rap brasileiro só tem a ganhar ao incorporaramelodia (foto: Washington Possato/divulgação)

Minas Gerais entra – com força – na rota de Marcelo D2. A cara do povo, uma das 16 faixas do disco 'Nada pode me parar' (2013), traz “refrão-sample” de 'Caxangá/Escravos de jó', canção de Milton Nascimento e Fernando Brant lançada em 'Milagre dos peixes' (1973) e regravada pelo lendário baterista 'Dom Um Romão', em 1976. O rapper carioca revela que a obra de Milton lhe abre caminhos: fã do álbum Os tambores de Minas (1998), ele planeja aprofundar sua antiga pesquisa sobre o legado dos tamborzeiros, sobretudo mineiros, baianos, maranhenses, pernambucanos e cariocas.

Marcelo planeja uma espécie de imersão em cada estado, tanto para aprender com os craques quanto para escrever seus versos e conhecer pessoas – enfim, mergulhar nas culturas locais. “Não vou passar dois dias, gravar os samples correndo e ficar por isso mesmo”, explica D2. Mesmo às voltas com a turnê de Nada pode me parar, o rapper pretende iniciar ainda este ano sua jornada pelo Brasil profundo.

Atento, ele ouve informações sobre trabalhos desenvolvidos em Minas por Maurício Tizumba, Titane e Tambolelê. No carnaval do Recife, vai dividir o palco com o pernambucano Naná Vasconcelos, mestre dos tambores. D2 se diverte ao saber que, nos anos 1970, Naná conquistou a simpatia de donas de casa do Bairro Santa Tereza, em suas andanças por BH. O amigo da turma do Clube da Esquina pesquisava sons batucando em panelas, chaleiras e canecas das zelosas senhoras, que não emprestavam seus tesouros a ninguém – só para Naná.

Duas décadas de carreira, 46 anos de estrada e avô de Giovana, de dois meses, Marcelo Maldonado Gomes Peixoto assume: a maturidade chegou. Projetado nacionalmente pela banda Planet Hemp – destaque do hip-hop nacional, o grupo durou 10 anos, com direito a revival em 2013 –, o músico e companheiros causaram polêmica com letras cheias de referências à maconha e marcadas por forte crítica social. Eles chegaram a ser presos sob acusação de apologia às drogas. Na jornada solo, iniciada no fim da década de 1990, D2 conquistou fãs ao pôr samba no DNA de seu rap. O revival com o Planet, ao que parece, resumiu-se ao ano passado e pode resultar em DVD.

Internet

Para Marcelo D2, o rap brasileiro vive o melhor momento em seus 30 anos de trajetória. Se veteranos como ele e o quarteto paulistano Racionais MCs – autores de discos emblemáticos como A procura da batida perfeita e Sobrevivendo no inferno – atuavam paralelamente, a cena contemporânea se tornou mais coletiva, estimulada pela internet. Compartilha-se de tudo, grupos de diversas regiões do país bombam no YouTube, comemora D2, citando os nordestinos Rapadura e Don L como talentos da cena atual. Todos buscam a própria linguagem.

“Num momento crucial, formamos uma base sólida, fizemos música de protesto e tal. Mas está na hora do próximo passo, de tirar um pouco daquele rancor do rap”, diz D2. O poeta personalista da quebrada e o discurso pessoal se abrem “à voz de todos, não só de alguns”, explica ele. Fortemente influenciado pelos EUA em seus primórdios, o rap nacional busca um caminho próprio, diz Marcelo. Isso ocorre também nas letras: há espaço para a crônica das mazelas da periferia, mas também para o amor. Rappers “das antigas” jamais discutiam a relação...

“A hora do próximo passo chegou”, acredita D2. Musical por natureza, o Brasil, pátria da canção, tem matéria-prima de primeira a oferecer à linha evolutiva do rap. O compositor carioca diz que esse passo está na melodia. Criolo é um exemplo desse momento. O recente disco solo de Edi Rock, do Racionais MCs, também remete a esse espírito – os cantores Seu Jorge e Marina de La Riva estão entre os parceiros da empreitada. “O grande lance é a melodia, pois ela fica na cabeça”, reforça o carioca.

A pesquisa sobre batuques brasileiros vem ao encontro da necessidade de “buscar música mais orgânica”, explica D2. Em seu projeto Assim Tocam os Meus Tambores cabem jongo, maracatu, congada, levadas maranhenses, funk carioca e o mestre Milton Nascimento. Aliás, Bituca, volta e meia, é paparicado por expoentes do rap – Mano Brown e Criolo são tietes assumidos dele. Por enquanto, a “parceria” rola no Instagram e no Facebook, no caso de Brown. Criolo já dividiu o palco com ele no Rio de Janeiro.

Lembrando que a linha evolutiva do hip-hop brasileiro não se resume a DJs e MCs, mas ao trabalho desenvolvido ultimamente por fotógrafos, grafiteiros, videomakers, artistas plásticos e blogs, Marcelo D2 avisa: “Essa indústria vai gerar mercado para todo mundo”.

Ele está na área

Marcelo D2 desembarca amanhã em BH para animar a festa Pimp my house, no Trevo Seis Pistas. O show mineiro será uma espécie de “terceiro tempo” das duas animadas apresentações em São Paulo, na semana passada, para gravar o primeiro DVD ao vivo dos 20 anos de carreira do rapper, que traz o repertório do CD Nada pode me parar (2013), sucessos da trajetória solo e hits do Planet Hemp.

Clipes caprichados estão na internet. D2 promete um para cada faixa do disco. Dirigido por Gandja Monteiro, Você diz que o amor não dói, com cenas gravadas em Angola, tem belo refrão cantado por crianças africanas. A Pimp my house começa às 22h, com ingressos a R$ 50 (fem) e R$ 70 (masc) – 2º lote. Informações: www.centraldoseventos.com.br

Assista ao clipe de 'Você Diz Que O Amor Não Dó', de Marcelo D2:


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