Emicida faz show de lançamento de seu primeiro disco em BH

Revelado como MC, o rapper já gravou ao lado de artistas como Elza Soares e Skank. 'O glorioso retorno de quem nunca esteve aqui' será apresentado nesta quarta-feira, no Sesc Palladium

por Mariana Peixoto 24/09/2013 07:20

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Ênio César/Divulgação
(foto: Ênio César/Divulgação)
Fazer com que uma pessoa dedique seu tempo, nos dias de hoje, a ouvir um álbum do começo ao fim não é tarefa para qualquer um. Rapper brasileiro mais celebrado da atualidade, Leandro Roque de Oliveira, de 28 anos, o Emicida, sabia que tinha que fazer diferente, ainda mais com sua estreia em disco. Até chegar ao recém-lançado 'O glorioso retorno de quem nunca esteve aqui', ele havia lançado duas mixtapes e dois EPs. Com músicas como 'Triunfo', 'Emicídio' e 'Dedo na ferida', o MC, revelado em batalhas de improviso, fez com que seu discurso ultrapassasse as fronteiras do hip-hop. Gravou com Skank, Elza Soares, NX Zero; teve Neymar como estrela de um clipe; cantou ao lado de Gaby Amarantos e Cidade Negra; fez música para novela ('Zóião', de 'Sangue bom'). “Quando comecei a achar que a minha poesia estava um pouco redundante, comecei a fazer uma pesquisa”, admite. A produção do álbum – lançado pelo Laboratório Fantasma, coletivo criado por ele, um misto de selo/editora/produtora – consumiu seis meses.

Emicida chega amanhã a Belo Horizonte para o show de lançamento do álbum, apresentação só vista, até agora, em duas ocasiões em São Paulo. Vai ser em teatro, no Sesc/Palladium, espaço em que até bem pouco tempo atrás ele não se sentia confortável. “Era coisa de jovem, mas odiava tocar em teatro. Achava que as pessoas iam ficar sentadas. Além disso, meus irmãos nunca frequentaram teatro, um ambiente meio elitizado, que não pertence ao povo.” Essas impressões ficaram no passado. “Minha música flerta com coisas densas e quero desmitificar o espaço.”

Ele vai tentar realizar tal missão em grande estilo, acompanhado de banda formada por Doni Jr. (voz, percussão, violão, cavaco e guitarra), Anna Tréa (voz, percussão, violão e guitarra), Carlos Café (percussão), Samuel Bueno (baixo) e DJ Nyack. “Já passei por muitas bandas. No final, quis ter uma formação com uma rapaziada que entendesse a música brasileira.” Isso porque, ainda que seja o álbum de um rapper, o samba é um dos gêneros mais visitados por Emicida. “O hip-hop nasceu influenciado por outras culturas. O rap veio do sample, que é o fragmento de outra música. Ou seja, não é um lugar para se ter preconceito.”

O show de amanhã vai contar com a participação de Tulipa Ruiz, que gravou com Emicida a canção 'Sol de giz de cera'. No álbum, ele não economizou nas participações. 'Milionário do sonho' é um poema da atriz Elisa Lucinda recitado pela própria; 'Crisântemo' traz dona Jacira, mãe de Emicida, recitando um trecho da letra em que ela e o filho relatam a morte do pai dele; 'Hoje cedo' foi cantada por Pitty; Trepadeira, pelo veterano baterista Wilson das Neves; e 'Samba do fim do mundo' reuniu as cantoras Juçara Marçal e Fabiana Cozza.

Muito elogiado, o álbum vem gerando alguma polêmica. A música 'Trepadeira' atiçou as feministas, por causa de versos como “Gatinha, quem não fica bravo dando sol e água/ E vendo brotar erva daninha/ Chamei de banquete era fim de feira/ Estendi o tapete mas ela é rueira/ Dei todo amor, tratei como flor/ Mas no fim era uma trepadeira”. Nas redes sociais, a reação negativa foi grande, levando o rapper até a emitir uma carta justificando a letra. “Na verdade, o que me entristece é o fato de fazerem uma crucificação meio cega, que não gerou efeito de debate. 'Trepadeira' é uma música sobre dor de cotovelo, sobre um cara que perdeu uma menina que não queria ser só dele. Houve mulheres que lutam pelos direitos de mulheres que perseguiram minha mãe”, afirma.

Sem fugir da briga, Emicida segue em frente. Não teme que seu antigo público, aquele que o conheceu como “assassino” que “matava” os adversários com rimas nas batalhas de improvisação, o abandone. “As histórias vão se entrelaçando novamente. No último show, vi muitas pessoas que estavam nos meus primeiros shows. Esse disco traz uma importância grande por conta do apego às raízes. Não se deve desfazer disso”, conclui.

Confira o clipe da faixa 'Cristânemo':




Memória

Protesto e prisão em BH


Em 13 de maio de 2012, depois de um show do projeto Palco Hip-Hop, no Barreiro, Emicida foi detido e encaminhado para a 36ª Delegacia Seccional da Polícia Civil. A acusação foi de desacato a autoridade. Antes de apresentar a música 'Dedo na ferida', ele falou com o público: “Antes de mais nada, somos todos Eliana Silva (comunidade com 350 famílias do Barreiro que estava sendo despejada na época), certo? Levanta o seu dedo do meio para a polícia que desocupa as famílias mais humildes, levanta o seu dedo do meio para os políticos que não respeitam a população e vem com ‘nóis’ nessa aqui, ó. Mandando todos eles se f..., certo, BH? A rua é ‘nóis’ .”  Detido por volta das 19h30 daquela noite, foi liberado três horas mais tarde. O caso gerou muita repercussão na época (o próprio Emicida contou da detenção pelo Twitter). Um ano e quatro meses mais tarde, o rapper afirma: “O tema central da discussão não foi abordado. A música fala de desocupação violenta de moradias, de desrespeito à população pobre. Centraram tudo no Emicida. Passado mais de um ano, duvido que a situação do Eliana Silva tenha mudado muito. Reforma agrária e urbana são temas muito urgentes. É muito bizarro que casa própria seja um sonho da população. Não pode ser sonho, tem que ser realidade”.

Discografia


» Mixtapes

    'Pra quem já mordeu um cachorro por comida, até que eu cheguei longe...' (2009)
    'Emicídio' (2010)

» EPs

    'Sua mina ouve meu rep tamém' (2010)
    'Doozicabraba e a revolução silenciosa' (2011)

» CD

    'O glorioso retorno de quem nunca esteve aqui' (2013)

EMICIDA
Show quarta-feira, às 21h, no Sesc Palladium, Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro, (31) 3270-8100. Ingresso + CD: R$ 60 e R$ 30 (meia).

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