Nação Zumbi e Mundo Livre S.A. lançam disco em que um grupo interpreta canções do outro

As bandas pernambucanas que consolidaram o manguebeat nos anos 1990

por Eduardo Tristão Girão 24/08/2013 00:13

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André Fofano/Divulgação
Du Peixe, da Nação Zumbi, banda criada por Chico Science, garante que o estilo se mantém forte e que ainda tem muita lama para se lambuzar (foto: André Fofano/Divulgação)
As bandas pernambucanas Nação Zumbi e Mundo Livre S/A. acabam de lançar disco juntas, sem nem uma única música inédita sequer. Entretanto, Mundo Livre S.A. vs Nação Zumbi (Deck) interessa aos fãs tanto quanto um trabalho 100% original: uma banda interpreta músicas da outra em cada metade do disco, numa mescla das mais interessantes, evidenciando os dois principais estilos que ajudaram a consolidar as bases do movimento manguebeat, que ganhou o Brasil a partir do Recife, nos anos 1990.

“É diversão levada a sério”, resume o cantor e compositor Jorge Du Peixe, da Nação Zumbi, parafraseando Chico Science (1966-1997), figura central do manguebeat e ex-líder da banda. Os dois grupos gravaram isolados um do outro, praticamente sem saber que canções haviam sido escolhidas para o projeto, tampouco dos arranjos. A parte da Nação foi produzida pelo próprio grupo e gravada nos estúdios paulistanos El Rocha e Fine Tunning; Leo D, tecladista do Mundo Livre S.A., produziu, gravou e mixou o material da sua banda no estúdio Mr. Mouse, em Olinda (PE).

Formado por Fred ZeroQuatro (voz, cavaquinho, violão e guitarra), Leo D (teclado, samples, escaleta, harpa de boca e backing vocal ), Areia (baixo e backing vocal), Xef Tony (bateria e backing vocal) e Tom Rocha (percussão e backing vocal), o Mundo Livre S/A abre o disco com releituras de dois clássicos do obrigatório disco 'Da lama ao caos' (1994), 'A cidade' e 'A praieira'. Ambas foram talentosamente rearranjadas, em perfeita conformidade com a estética da banda de ZeroQuatro, com um quê underground e reforço no tempero roqueiro.

A versão matadora de 'Meu maracatu pesa uma tonelada', ao lado de 'Rios, pontes e overdrives', mostra o lado mais pesado e punk do Mundo Livre S/A. O indispensável cavaquinho de ZeroQuatro brilha em Samba Makossa e o cantor surpreende ao pinçar 'No Olimpo', canção não tão conhecida do último disco da Nação, 'Fome de tudo'. “O lado lírico do Jorge Du Peixe às vezes é esquecido por causa do som avassalador da banda. Por isso optamos por essa música e gravamos num formato mais acústico e delicado”, explica ZeroQuatro.

“A Nação é uma banda sem concorrente no país. Sou testemunha do nascimento dela, vi os caras com aparelhagem tosca em Olinda. Conectei-me com a emoção daquela época. Foi algo muito oportuno para a Nação também, pois eles chegaram a anunciar recesso. Foi um gancho para ficarem novamente motivados. O projeto Orquestra Manguefônica, que fizemos juntos em 2005, contribuiu muito para o resultado que conseguimos nesse disco. Nos conectamos”, declara o líder do Mundo Livre S/A.

Suor

Já a Nação Zumbi, em seu bloco, apresenta logo de saída três hits do Mundo Livre S/A: 'Livre iniciativa', 'Musa da Ilha Grande' e 'Bolo de ameixa'. Da mesma forma, todas são sublinhadas por elementos característicos da banda, composta por Jorge Du Peixe (vocal), Dengue (baixo), Lucio Maia (guitarra), Pupillo (bateria), Toca Ogan (percussão) e Bola 8 (percussão). Estão lá, por exemplo, o peso da marcação das alfaias e a guitarra cheia de efeitos.

Mas a Nação não se ateve às músicas mais conhecidas, brindando os fãs com interpretações de faixas menos óbvias de ZeroQuatro e companhia, como 'Girando em torno do Sol' (com guitarra à la Hendrix), 'Pastilhas coloridas' e 'Seu suor é o melhor de você'. “A gente sempre ouviu os discos e viu os shows do Mundo Livre S/A. Vínhamos tocando 'Girando em torno do Sol' em nossos shows, só que agora ficou mais psicodélica, mais paradona. Fazemos isso até com a gente mesmo. De 'Manguetown', por exemplo, temos umas três versões”, conta Jorge Du Peixe.

O disco é encerrado com boa versão de 'O velho James Browse já dizia', canção de duplo sentido em ritmo de frevo. Jorge acredita que Mundo Livre S.A. vs Nação Zumbi é um disco de “estados alterados”, ou seja, cada banda sentiu-se à vontade com as músicas da outra para propor releituras que realmente pudessem se mostrar interessantes ao ouvinte. “Nós e o Mundo Livre S/A continuamos acesos e pulsando. A ideia é essa, nos renovar a cada disco. Temos bala para isso. Ainda há muita lama para se lambuzar”, garante o vocalista da Nação.

TRIBUTO
Fred ZeroQuatro revela que há intenção de realizar, mês que vem, show em tributo aos 20 anos de lançamento dos discos de estreia do Mundo Livre S/A e da Nação Zumbi, 'Samba esquema noise' e 'Da lama ao caos', respectivamente. Seriam duas noites com as duas bandas no Sesc Pompeia, em São Paulo. “Estamos pensando num formato”, adianta ele. Fora isso, é possível que o revival de 'Samba esquema noise' seja feito no carnaval pernambucano do ano que vem.



Repertório

MUNDO LIVRE S/A TOCA NAÇÃO ZUMBI
A cidade
A praieira
Etnia
Meu maracatu pesa uma tonelada
No Olimpo
Rios pontes e overdrives
Samba Makossa

NAÇÃO ZUMBI TOCA MUNDO LIVRE S/A
Livre iniciativa
Musa da Ilha Grande
Bolo de ameixa
Girando em torno do Sol
Pastilhas coloridas
Seu suor é o melhor de você
O velho James Browse já dizia

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