'Aloha from hell'. Quando ouvimos Elvis 40 anos depois da edição original em vinil duplo daquele que veio a se tornar um dos maiores campeões de venda da história fonográfica, talvez fosse mais justo rebatizarmos 'Aloha from Hawaii' via satellite diante da autêntica descida aos infernos que o Rei do Rock começaria a empreender a partir de tal registro.
Mesmo acompanhado por músicos do quilate do guitarrista James Burton (que tocou com Johnny Cash, Jerry Lee Lewis e Roy Orbison) e do baixista Jerry Scheff (cuja técnica de solar o instrumento lhe valeu aparições em discos de Bob Dylan e no clássico 'L.A. woman', dos Doors), a voz de Elvis se deixa afogar em meio aos grandiloquentes arranjos de metais e coros femininos assinados pelo também pastor evangélico Donnie Sumner.
O repertório também não ajuda: as poucas tentativas que poderiam conduzir a um rompante do Elvis de outrora ('Steamrolller blues', 'Hound dog', 'See see rider', 'Blue suede shoes') são devidamente soterradas por uma avalanche de baladas xarope ('A big hunk o’ love', 'I’ll remember you', 'You gave me a mountain', 'What now my love', 'Welcome to my world') e vergonhosas paródias de material alheio (vide as versões ao pior estilo “cassino de Las Vegas” para 'My way' e 'Something').
Mesmo expandido de modo a incluir a íntegra do até então inédito ensaio do show (agora em nova mixagem), além de contar com cinco músicas gravadas especialmente para a versão transmitida apenas pela TV norte-americana, um fartamente ilustrado libreto de 22 páginas em luxuoso formato digipack, 'Aloha from Hawaii via satellite' não passa de mero suvenir de memórias que envelheceram mal. Se alguém quiser saber o porquê da lenda em torno de Elvis, melhor se reportar aos primordiais 'Elvis Presley' e 'Elvis', de 1956; ou às coletâneas 'The Memphis Record' (1987)e 'The complete Sun sessions' (2005).