John Ulhoa prepara o primeiro CD solo, com trilha para o Giramundo

Como produtor, o músico pôs sua assinatura autoral em discos de Zelia Duncan, Arnaldo Baptista, Pato Fu e Fernanda Takai. Agora, ele apresenta o trabalho individual

por Mariana Peixoto 21/07/2013 00:13

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JAIR AMARAL/EM/D.APRESS
"Escolho muito o que vou produzir. Gosto de trabalhar com gente de personalidade" - John Ulhoa, músico (foto: JAIR AMARAL/EM/D.APRESS )

Ele era o cara que tinha paciência para ler manuais. Simples assim. É dessa maneira que John Ulhoa se lembra de sua primeira incursão no universo da produção musical. “Outro dia, estava ouvindo no carro o disco do Divergência Socialista, do Marcelo Dolabela (songbook lançado mês passado, que reúne 26 músicas registradas entre 1983 e 2008). Participei das primeiras formações do grupo e me lembro de que o Mário (Santiago), baixista do Divergência e do Sexo Explícito, comprou uma bateria eletrônica. Mas ele não teve tempo para mexer nos manuais. Fiquei ali fuçando e acabei fazendo as programações eletrônicas para o Divergência.”


Essa história tem bem lá uns 30 anos. Estamos no início da década de 1980, quando o circuito underground de Belo Horizonte era marcado por grupos que buscavam referência no pós-punk inglês, no experimentalismo e em outras tantas matizes da música alternativa. A tal bateria eletrônica pegou John de jeito. Foi por conta dela que o artista fundou o Pato Fu, em 1992. Quando isso ocorreu, ele já dava seus pitacos nas gravações de amigos, tudo meio descompromissado. Mas a atuação acabou ficando séria. Há alguns anos, John assina como produtor os discos de sua banda e de Fernanda Takai – que começa a produzir seu terceiro álbum solo na semana que vem.

Em agosto, o artista lança seu primeiro CD solo: um disco duplo com a trilha de Alice no País das Maravilhas, composta e produzida por ele a convite do Grupo Giramundo. Será o primeiro trabalho com a assinatura John Ulhoa. Por sinal, John não é nome artístico, mas apelido de uma vida inteira. No documento de identidade ele é João Daniel. O skate lhe deu a alcunha: aos 9 anos, virou John entre os skatistas. Nunca mais o apelido o deixou (tampouco o esporte, praticado ainda hoje, aos 47 anos, o que vem lhe exigindo sessões diárias de fisioterapia devido a sucessivas quedas). Esse nome apareceu em outros dois álbuns recém-lançados: Welcome sucker to Candyland, terceiro disco da gaúcha Gabi Lima, mais conhecida como Gru, e Sinamantes, do trio homônimo formado por Danilo Penteado, Mariá Portugal e Natalia Mallo.

“As pessoas que chegam até mim são amigas, temos afinidade não só sonora, mas pessoal. Como não sou produtor em tempo integral, escolho muito o que vou produzir. Gosto de trabalhar com gente que tem personalidade, para que eu possa acrescentar. Quem me chama gosta da minha marca, porque não sou um produtor que ‘desaparece’ no disco. Não pode ser alguém que chega e diz: ‘Tenho umas canções e uma grana!’ Há quem faça isso superbem, chama músicos, cria uns arranjos e pega a grana. Beleza, isso existe e é necessário, mas neste caso precisam é de um superengenheiro de som. Fazer um disco de samba? Como vou colocar os meus negócios?”, comenta John.

Os “negócios” são timbres diferentes de guitarras, barulhinhos aqui e ali, além de milhares de efeitos que vêm marcando tanto a discografia do Pato Fu quanto de outros artistas. A lista inclui Arnaldo Baptista (Let it bed), Zélia Duncan (Pelo sabor do gesto), Érika Machado (No cimento e o CD com o nome da artista). “Meu cartão de visitas como produtor foi o próprio Pato Fu”, afirma John.

Desde o álbum de estreia da banda, o cultuado Rotomusic de liquidificapum (1993), ele dava seus pitacos. “Fiz esse disco no estúdio do Haroldo Ferretti (baterista do Skank). Lá havia um técnico e o próprio Haroldo também tinha a manha, então foi produção minha e dele. Depois, com o André Abujamra (que assinou Tem mas acabou, de 1996), ocorreu a mesma coisa: achava um som de guitarra, fazia as programações eletrônicas e montava os arranjos.”

Mas o “professor” de produção foi Dudu Marote, que assinou três álbuns do Pato Fu: Televisão de cachorro (1998), Isopor (1999) e Ruído rosa (2001). “Ele me apresentou alguns programas e uma logística de produção: como se grava voz, como escolher takes e editar música. Esse cara levou o patamar de produção do Brasil para um outro nível. Na sequência de discos que a gente gravou, fui tomando cada vez mais conta da produção”, conta Ulhoa.

Nesse período, John já tinha um home studio em sua casa, na Pampulha. Primeiramente num quarto, depois numa extensão da residência, na área independente nos fundos. “Naquela época (meados da década de 1990), houve grande mudança na tecnologia. Com um computador e mais um pouquinho de equipamento, você já fazia muita coisa boa. Ainda acho que o 128 Japs é um home studio, pois não tenho assistente. Funciona só comigo dentro.” E isso ocorre praticamente todos os dias quando John está em Belo Horizonte.

 

Quatro em um

Gualter Naves/Divulgação
'Música de brinquedo': show para crianças e adultos (foto: Gualter Naves/Divulgação)

Atualmente, John Ulhoa participa de quatro shows. Toca na banda da mulher, Fernanda Takai, e com o Pato Fu em outras três apresentações: do álbum Música de brinquedo, o show tradicional da banda e o projeto Gol de quem?, que refaz no palco o segundo disco do grupo, lançado em 1995. “Tem dia que falo: o que vou tocar hoje mesmo?”, conta ele.

John é parceiro em quase todos os projetos solo de Fernanda. “Menos desse lance da bossa nova, em que ela cantou com o Roberto Menescal e gravou com o Andy Summers (Fundamental, de 2012). Não era mesmo para me meter nisso, pois não sei fazer esses troços”, comenta.

Ao vivo Não obstante os dois discos que produz atualmente (o terceiro solo de Fernanda e o novo do Pato Fu, que deve ser lançado em 2014), ele tem outro projeto na cabeça: fazer, ao vivo, a trilha sonora do espetáculo Alice no País das Maravilhas.

“É uma trilha gigante, com 26 músicas. Essa ideia de gravar a peça ao vivo é muito louca. Vou fazer, mas não tenho certeza se vai dar certo.” Bem, no início do projeto, ele pensava o mesmo de Música de brinquedo. Há três anos, a releitura do Pato Fu para canções pop com instrumentos infantis não sai dos palcos. Com aplausos de adultos e de crianças. 

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