Crítico Mauro Ferreira lança livro com ensaios sobre 25 cantoras do país

Textos ressaltam nomes como Maria Bethânia, Adriana Calcanhoto e Tulipa Ruiz

por Ailton Magioli 20/07/2013 06:00

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Cristina Granato/Divulgação
Maria Bethânia conquistou o adolescente Mauro Ferreira (foto: Cristina Granato/Divulgação)
Colecionador de discos que sempre gostou de escrever, o jornalista carioca Mauro Ferreira, de 48 anos, acabou se tornando um dos poucos críticos em atividade no país. Depois de passar pelos principais jornais e revistas cariocas, ele criou o blog Notas Musicais, com 6 mil acessos diários. Agora, Mauro lança o livro 'Cantadas – A sedução da voz feminina em 25 anos de jornalismo musical'.


De acordo com o DJ Zé Pedro, que assina a apresentação da obra, Mauro oferece ao leitor “um balanço afetivo sem perda da lucidez”. Ali estão perfiladas 25 cantoras que o impressionaram e o comovem enquanto admirador do canto feminino.

Os críticos Ana Maria Bahiana e Tárik de Souza foram as duas grandes fontes de inspiração. “Ana pela clareza e Tárik pelo estilo da escrita, brilhante”, diz Mauro. Com trânsito livre no meio musical, ele se preocupa em escrever para o leitor, e não para iniciados. “O livro tem isto: é jornalístico”, ressalta, explicando que o sucesso de seu blog não é medido pela quantidade de acessos, mas pela qualidade do público – não raramente, um leitor corrige detalhes do que foi postado. “Sou um dos pioneiros nessa área”, orgulha-se.

AGRESSÃO Para o crítico, a indústria das celebridades contamina demasiadamente o jornalismo cultural. “Inclusive a crítica musical, que hoje soa mais como releases disfarçados. Você se posicionar contra é quase agressão”, defende Mauro. No livro de estreia, ele reuniu 25 pequenos ensaios que vão de Adriana Calcanhotto (“O traço modernista da estilista da canção”) a Zizi Possi (“Sobre todas as coisas, uma bela voz”), passando por Maria Bethânia (“Drama majestoso em atos contínuos”) e Tulipa Ruiz (“Em movimento na floresta pop”).

Para quem sentir a falta de alguns nomes – no país das cantoras é impossível agradar aos fãs de todas elas –, o autor esclarece: “Trata-se, em essência, de uma análise da trajetória fonográfica dessas 25 artistas ao longo de meus 25 anos de atuação no jornalismo musical”. Eventualmente, foi necessário recuar no tempo para falar de artistas em ação antes de 1987. Em síntese, confessa Mauro, seu livro é uma declaração de amor a mulheres que cantam com paixão.

O segundo volume não está descartado. “O assunto não se esgota com esse primeiro livro, que, na verdade, captou bem a nossa diversidade. Mas momentos fortes ficaram de fora”, conclui Mauro Ferreira.

Cantadas - A sedução da voz feminina em 25 anos de jornalismo musical


>> De Mauro Ferreira
>> Organo Grama,
191 páginas, R$ 35


OUVIDO  CLÍNICO

>> CANTORA
“Sempre gostei de música e teatro, e Maria Bethânia foi a primeira que me pegou nesse sentido, apesar de também gostar de Clara Nunes, Alcione e Beth Carvalho antes. Bethânia me pegou na adolescência. Ela tem uma discografia impecável, é a que mais me magnetiza, embora Elba Ramalho e Nana Caymmi também tenham esse poder sobre mim. Maria Bethânia, no entanto, é mais teatral. Por isso ela me arrebatou.”

>> DISCO

Sobre todas as coisas, de Zizi Possi. Possibilitou a ela uma renovação. Mostrou como uma intérprete pode se reinventar. Para isso, bastam talento, voz e vontade que a coisa flui. Com Sobre todas as coisas, Zizi antecipa toda uma estética na música brasileira. E olha que de Estrebucha baby e de outros discos dela eu também gosto. Mas com aquele ela virou a mesa”.

>> SHOW
Leão do norte, de Elba Ramalho. Show antológico. Elba sempre fez grandes shows mas em Leão do norte, com o qual ganhou o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), ela se superou. Na mesma época, Bethânia fez Imitação da vida, um de seus melhores shows. Mas Elba veio com um momento especial. Sinto não haver o registro integral em DVD dessa apresentação, que na época saiu apenas em VHS.”

>> COMPOSITORA
Adriana Calcanhotto tem assinatura muito interessante. É também uma grande intérprete, mas a obra dela é essencialmente autoral. Ela é como Vanessa da Mata. A impressão que tenho é que as duas cantam porque compõem.”

>> SUCESSO
Resposta ao tempo, de Cristóvão Bastos e Aldir Blanc. Com esse bolero, Nana Caymmi arrebatou o Brasil. Não digo nem que tenha sido um divisor de águas na carreira da artista, que é tão coerente. Trata-se mesmo de um momento iluminado.

>> PARCERIA
Gal Costa e Caetano Veloso. Recanto, por exemplo, é ideia de Caetano, mas se a voz não fosse a de Gal, não seria o que é.”

>> REVELAÇÃO
 “Caracterizado pela artista como pop florestal, rótulo que alude à vivência de Tulipa Ruiz na bucólica cidade mineira de São Lourenço, onde ela morou dos 3 aos 22 anos, o som autoral da cantora e compositora se mostrou leve e feminino já no disco de estreia, Efêmera.”

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