Desde 1983, quando uma turma de amigos que jogava futebol ia tomar uma cervejinha e tocar e cantar samba, o Raça Negra nunca parou de se apresentar, embora o sumiço da mídia desse a impressão contrária. “As pessoas estão acostumadas a ver o artista na TV e quando ele não aparece lá, acha que sumiu ou largou a carreira. Isso é errado. Lugar de artista é no palco e, nesses 30 anos, nunca saímos dele. Optamos por buscar novos horizontes. A gente estava se apresentando no interior do Nordeste e do Norte do país. Mas o Raça Negra nunca acabou”, assegura o vocalista e líder da banda, o cantor e compositor Luiz Carlos.
Outra notícia negada pelo artista é sua saída do grupo. Apesar de ter se dedicado a dois discos solos, Luiz nunca abandonou os companheiros. “O Raça Negra é meu, a empresa é minha, como é que vou sair? Quando tive a proposta para fazer esse trabalho sozinho, me sugeriram gravar outro ritmo que não fosse o samba. Era o charme que, curiosamente, hoje está bombando com nomes como o Naldo”, observa.
Muitos consideram o surgimento do Raça Negra como um divisor de águas na história do samba mais popular, especialmente o romântico, estilo que eles consagraram. Na década de 1990, o grupo chegou a se apresentar e a lotar casas de espetáculos que tradicionalmente eram mais voltadas a artistas da MPB, como o Canecão, no Rio, e o Olympia, em São Paulo.
“Naquela época, o samba era uma coisa meio marginalizada, que veio do morro, que era tocado no boteco e muitas pessoas torciam a cara. A gente veio com uma proposta diferente, porque tínhamos a influência de Tim Maia, Jorge Ben Jor, Martinho da Vila, Roberto Carlos. Foi um estrondo e começamos a vender demais. Aí, todas as gravadoras viram que a coisa dava certo e foram atrás. Lançaram bandas e artistas que cantavam igual ou parecido com o Raça Negra. Boa parte dos grupos de samba que surgiram nessa época veio no nosso encalço”, ressalta Luiz.
Em relação aos outros estilos de música popular, que parecem disputar um terreno concorrido, o cantor e compositor garante que sempre conviveu bem com o sertanejo. “Nunca teve disputa, até porque são dois ritmos que sempre foram meio discriminados e são legítimos representantes da música popular brasileira. Samba e sertanejo têm o seu espaço. São eles que comandam a MPB”, avalia Luiz Carlos.
Pagode
O vocalista do Raça faz questão de frisar que, embora tachados por muitos como pagodeiros, o grupo é de samba e que uma coisa não tem nada a ver com a outra. Luiz Carlos não esconde que desaprova quem põe os dois estilos na mesma panela. “Pagode não é samba e não tem nada a ver com o samba. Quem inventou isso não entende nada de música. Pagode é uma festa, é uma dança, e o próprio Zeca Pagodinho, o Revelação, o Fundo de Quintal são todos representantes do samba”, frisa.
Nascido na Vila Nhocuné (uma corruptela de Nhô Coronel, que mandava na região, localizada na Zona Leste de São Paulo), o grupo mantém praticamente a mesma formação desde 1983: Luiz Carlos (vocal), Fabinho César (pandeiro e violão), Fena (surdo), Fernando (tantan), Fininho (bateria) e Irupê (sax e flauta). O único integrante que saiu foi Gabu, que teria deixado o grupo depois de desentendimentos com os companheiros. E é esse espírito de união, além de se manter fiel ao estilo que o consagrou, que são, na opinião de Luiz Carlos, o segredo para o sucesso da banda.
“Há 30 anos, praticamente as mesmas pessoas estampam as capas dos nossos discos. O integrante que está há menos tempo entrou há 17 anos. O comprometimento que o Raça tem com o público é a nossa marca principal. Nunca mudamos nosso estilo, mesmo quando isso foi sugerido para que vendêssemos mais. Tanto que não é à toa que qualquer pessoa que nos escuta sabe identificar de cara: ‘Isso é Raça Negra!’”, resume o cantor.
Só na amizade
O último trabalho, o CD e DVD 'Raça negra e amigos', foi lançado em 2012, gravado em Goiânia, no Atlanta Music Hall. O show contou com a presença de 7 mil pessoas e teve participações especiais de Michel Teló, Alexandre Pires, Amado Batista, Belo, Bruno (Sorriso Maroto), Juliana Diniz, além dos filhos do cantor Luiz Carlos, Raffa e Juliana.
Raça em números
30 anos de carreira
25 trabalhos originais lançados, entre CDs e DVDs
16 coletâneas
30 milhões de cópias vendidas
Raça Negra
Quarta-feira, a partir das 22h, na Galopeira (Av. Tereza Cristina, 179, Prado). Ingressos: pista, de R$ 40 a R$ 60; área VIP, de R$ 50 a R$ 70; camarote, de R$ 70 a R$ 90. Abertura com PDN Pagode Universitário. Informações: (31) 2514-0007.
Assista trecho do DVD Raça Negra e amigos: