Paul McCartney canta para mais de 45 mil pessoas em Goiânia

Repertório da apresentação foi o mesmo de Belo Horizonte

por Diego Ponce de Leon 07/05/2013 09:34

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Iano Andrade/CB/DA Press
(foto: Iano Andrade/CB/DA Press)
Acostumado a clássicos do futebol, o Estádio Serra Dourada não estranha longas filas. Mas, se o assunto for música, o evento foi especial. A Polícia Militar acredita que mais de 30 mil pessoas chegaram ao estádio ainda antes da abertura oficial dos portões, que aconteceu somente às 19h.

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Confira as imagens do show de BH

O atraso, quem diria, foi causado pelo próprio britânico Paul McCartney, que fez uma passagem de som tardia e postergou em meia hora, inclusive, o início da apresentação.

O ex-Beatle fez história na capital goiana ao levar a superprodução 'Out There!' para o Serra Dourada. Ninguém ligou para o curto atraso assim que a primeira canção ('Eight days a week') tomou conta do local e provou reações histéricas da massa de beatlemaníacos. Depois, foi uma sucessão de sucessos e os tradicionais cumprimentos em português (carregados de sotaque), como “Oi Goiânia!”, “Vocês são demais” e infinitos “Obrigados”.

Aos 70 anos, Sir Paul esbanjou energia no palco e interagiu diversas vezes com o público, que lotou o estádio. Os fãs foram ao delírio em músicas como 'Lei it be' e 'Live and let die'. A apresentação se encerrou com explosões no palco. Os fãs vibraram, se emocionaram e cantaram junto do inglês. O momento mais emocionante da apresentação foi quando o Beatle cantou 'Hey Jude' com a ajuda de um coro de 45 mil vozes.

Primeiras
As brasilienses Jéssica Azevedo e Giovana Martins saíram da capital federal às 4 da manhã para garantir um bom lugar na fila. E valeu a pena. Eram as primeiras representantes de Brasília na Pista Premium, o espaço mais próximo ao palco. “Valeu muito a pena. Já fiz antes e farei novamente”, disse Jéssica.

Elas não eram as únicas de Brasília, claro. A produção do evento acredita que a capital federal possa ter representado, pelo menos, metade do público presente. A estudante Paula Pimentel aproveitou a carona de um amigo que veio com a família e não perdeu a chance de conferir Sir Paul McCartney pela segunda vez: “Quando o vi no Rio, conheci ainda mais o repertório dele. Passei a acompanhar o trabalho. Hoje, estou ainda mais ansiosa”, disse, enquanto esperava na fila com os outros 10 ocupantes da van alugada em Brasília.


Os goianos estavam orgulhosos. Além do histórico concerto, que será recordado nos anos por vir, eles encheram o peito para lembrar que receberam Paul antes de Brasília. E podem, realmente, comemorar.

O show de Goiânia teve o mesmo repertório do apresentado em Belo Horizonte. Leia abaixo a crítica da apresentação deste sábado, no Mineirão, escrita pelo editor-chefe do Estado de Minas, Carlos Marcelo:

Mágica Misteriosa

“Get back! Get back!”, ordenou o beatle, já na reta final do show. Não precisava. A viagem ao passado já começara bem antes de ele subir ao palco. Primeiro, no som de aquecimento, com versões remixadas de alguns dos maiores clássicos do século 20. Foi quando outro beatle, morto em 1980, se fez presente no Mineirão e, de forma perturbadora, pediu e repetiu: “You can talk to me!”. Depois, com a sequência vertiginosa de fotografias nos telões: família, amigos, mulheres, bandas, o resumo de uma existência. Só que algumas pessoas daquelas projeções, de repente, se mexeram; na verdade, estavam em trechos de vídeos. Ali se vislumbrou o encanto: imagens, acordes e melodias eternizadas na memória ganharam vida quando Paul McCartney, todo lampeiro, mandou 'Eight days a week' e decretou: acabaram as noites solitárias, BH.

No maior estádio da cidade, Paul entrou vestido de azul. Depois, tirou o casaco e ficou de camisa branca, com gola e listra pretas. Mineirão e Independência juntos? Sim, ele pode. Naquela noite, as cores estavam unidas, amalgamadas em sorrisos: aquele mar de gente feliz é a festa da torcida campeã. Três cadeiras à minha frente, o pai quarentão e o filho adolescente se abraçam para cantar a iluminada 'Let it be'. Ao meu lado, em efeito Cocoon, um senhor calvo agita os braços e declama para a sua senhorinha os versos de 'All my loving'. Coladinhos, casais se beijam enquanto curtem 'And I love her'. Barbudos dançam de braços dados, senhoras remexem as ancas nos refrões “música de brinquedo” de 'Ob-la-di, Ob-la-da' e 'All together now'. Somos crianças, adolescentes, amantes, velhos, solitários e enamorados, todos juntos agora, no pula-pula de 'Mrs. Vandebilt'. Ô, ê, ô! Compramos ingresso para um show de rock e ganhamos uma overdose de elixir da juventude. Ô, ê, ô! Assim você nos mata, Paul.

Mas John pediu para falar com ele, não dá mais para evitá-lo. O diálogo se estabelece de forma direta, na letra de 'Here today' (“Você esteve aqui hoje, na minha canção...”), mas também na surpreendente inclusão de 'Being for the benefit of Mr.Kite!', cantada por Lennon no mítico 'Sgt.Peppers', de longe o momento mais desconcertante da noite. Logo as coisas voltam ao prumo seguro e solitário. Paul rasga a voz e os corações em uma interpretação devastadora de 'Maybe I’m amazed', promove catarse coletiva na homenagem a George em 'Something', comanda roda de violões em 'Hope of deliverance', redescobre a paixão em 'My valentine', massacra tímpanos em 'Helter Skelter'. E mais surpresas no repertório, muitas iscas para fisgar fãs: a deliciosa 'Lovely Rita', a deslizante 'Listen to what the man said'... Não, senhores. Quem viu um show de Paul McCartney não viu todos.

Eis um homem que faz o passado se mover. E nada mais representativo – e comovente – dessa misteriosa mágica do que vê-lo cantar 'Your mother should know' enquanto os beatles, de terninho branco, dançam e se divertem gaiatamente na telona. Cinquenta anos separam aquele jovial senhor que está no palco dos quatro jovens no telão, mas naquele instante eles formam uma só imagem. De novo, ontem e hoje estão unidos. Todos juntos somos fortes, inabaláveis, indestrutíveis. Nem a morte, muito menos a Yoko, é capaz de nos separar.

Em 4 de maio de 2013, eu ouvi Paul McCartney falar “uai” em Belo Horizonte. Naquela noite eu vi um menino de 70 anos correndo, cantando, pulando, fazendo caretas, aprontando (para de puxar as calças, garoto!), sorrindo no palco. Eu vi o tempo.

Confira o set list:

- Eight days a week

- Junior’s Farm

- All my loving

- Listen to what the man said

- Let me roll it

- Paperback writer

- My valentine

- 1985

- Long and winding road

- Maybe I´m amazed

- Hope of deliverance

- We can work it out

- Another day

- And I love her

- Blackbird

- Here today

- Your mother should know

- Lady Madonna

- All together now

- Mrs Vanderbilt

- Eleanor Rigby

- Mr. Kite- Something

- Obla di obla da

- Band on the run

- Hi hi hi

- Back in the USSR

- Let it be

- Live and let die

- Hey Jude

- Day tripper

- Lovely Rita

- Get back

- Yesterday

- Helter Skelter

- Golden Slumbers / Carry that weight / The end

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