Leonard Cohen lança Old ideas, primeiro álbum de inéditas em oito anos

CD traz o cantor, compositor e poeta canadense em sua expressão máxima

por Mariana Peixoto 07/02/2012 08:59

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 Joel Saget/Divulgação
Décimo-segundo álbum do canadense tem músicas que foram refinadas durante as quatro décadas de carreira (foto: Joel Saget/Divulgação )
É uma dose e tanto de egoísmo, mas fãs de Leonard Cohen devem muito à sua ex-empresária. Em 2005, depois que passou alguns anos retirado num monastério budista, o cantor, compositor e poeta canadense descobriu-se sem um tostão. Ela havia desaparecido com todas as suas economias (algo na casa de alguns milhões de dólares, vale dizer). Sem dinheiro, teve que sair em turnê mundial (700 mil ingressos vendidos em 84 apresentações), o que resultou no CD e DVD Live in London (2009). Os shows ainda renderam, um ano mais tarde, Songs from the road, que abrange registros de diferentes cidades. Já com a situação financeira restabelecida, ele voltou à carga produtiva e lança seu 12º álbum de carreira, Old ideas. Ou seja, não tivesse Cohen sido roubado, sua carreira discográfica poderia ter se encerrado antes do que deveria. Um viva à ganância alheia. Leonard Cohen, um dos mais influentes compositores da língua inglesa da segunda metade do século 20, tem 77 anos. O que as 10 faixas de Old ideas trazem é uma produção que o bardo vem refinando em carreira, que soma quatro décadas. Poeta antes de cantor, Cohen tem produção visceral, vide canções como Suzanne, So long, Marianne, I’m your man, Tower of song, First we take Manhattan. A instrumentação é geralmente sutil, econômica, e as letras, verdadeiros poemas, sempre foram mais recitadas do que cantadas. Na maior parte das vezes, são doloridas, com interpretação idem. A voz, para quem o conhece desde seu antológico álbum de estreia, Songs of Leonard Cohen (1968), sofreu drásticas modificações no decorrer dos anos. Sua tonalidade tornou-se, disco após disco, mais grave. No caso dele, a mudança enriqueceu ainda mais o registro. Em Old ideas, primeiro álbum de inéditas em oito anos, tal característica adquire sua expressão máxima (ele também assina os desenhos que acompanham o encarte). Cohen recita em boa parte do disco. No trabalho, gravado com antigos colaboradores (Patrick Leonard, Ed Sanders, Dino Soldo e Anjani Thomas, sua atual companheira), ele não faz nada diferente do que tenha feito até aqui (o que em si não representa uma crítica, mas uma constatação). Analisado sob esse ponto de vista, o título Old ideas (Velhas ideias) é autoexplicativo. A sonoridade passeia por batidas jazzísticas, folk e embalos blueseiros. O esmerado trabalho de backing vocals, outra marca nos discos dele, está presente em várias faixas, caso de Different sides e Banjo. Show me the place, que ele praticamente sussurra, tem belíssimo arranjo de cordas. Com letra tão ou mais importante que a própria música, Old ideas fala de espiritualidade, mortalidade, perda, assuntos que Cohen vem tratando desde sempre. Ainda que o material seja inédito, algumas faixas ele executou na turnê anterior (Lullaby, uma canção de ninar com letra meio torta, e Darkness, sombria como o próprio título, e com a canção com instrumentação mais pesada). A idade avançada lhe permite uma franqueza que impressiona. Em Going home, faixa que abre o álbum, Cohen fala de si na terceira pessoa, sem qualquer reparo; em Amen, ele canta/recita os versos como “quando estiver limpo e sóbrio, quando encarar o horror”. Não há espaço algum para a autoindulgência. • Discípulos de Cohen » Jeff Buckley Filho do cantor e compositor Tim Buckley, Jeff Buckley só lançou um álbum em vida, Grace (1994). Morto precocemente e de maneira trágica (afogado no Rio Mississipi, aos 31 anos), é um dos mais cultuados cantores de sua geração. Grace tem 10 faixas, boa parte delas autoral. Mas a mais conhecida é a gravação de Hallelujah, de Cohen, naquela que se tornou sua versão definitiva. » Nick Cave Com sua banda, The Bad Seeds, Nick Cave tornou-se protagonista de uma sonoridade que mistura blues, gospel rock e pós-punk. Suas letras são ora violentas, ora bizarras, nunca comuns. Mas sua maneira de cantar, sempre recitado, é influência direta de Leonard Cohen. Tanto que ele foi um dos participantes do documentário Leonard Cohen: I’m your man (2005), que reúne boa parte de seguidores do mestre. » Rufus Wainwright Outro com forte herança musical (filho de Loudon Wainwright III e Kate McGarrigle,) Rufus Wainwright sempre prestou as devidas reverências a Cohen, gravando inclusive a mesma Hallelujah que Buckley (era também fascinado pelo cantor). Dividiu, quando jovem, uma casa com Lorca, filha de Leonard Cohen. Ficaram tão próximos que, no ano passado, tiveram uma filha, Viva Katherine Wainwright Cohen. Ouça Darkness! Ouça Amen!

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