LCD Soundsystem mata a saudade com disco póstumo

James Murphy liderou set de gravações em Londres antes de acabar com a banda

por Arthur G.Couto Duarte 13/09/2011 07:00
Marten van Dijl/AFP-4/5/10
James Murphy fez do LCD Soundsystem um dos melhores grupos para se ver e ouvir ao vivo (foto: Marten van Dijl/AFP-4/5/10)
LCD Soundsystem está morto; longa vida ao LCD Soundsystem. Mesmo sem um herdeiro à altura para o chacoalhante hibridismo sônico que seu mentor James Murphy forjou ao longo dos últimos anos, esse extinto projeto nova-iorquino continua na ordem do dia graças ao recém-editado London sessions. Gravado em tempo real ao longo de 24 horas com instrumentos de verdade, sem qualquer reedição ou adição posterior por intermédio de recursos eletrônicos, este CD só vem confirmar a reputação que Murphy e seus companheiros adquiriram como um dos mais empolgantes e vigorosos grupos ao vivo do depois da pós-modernidade. 

Valendo-se das dependências do estúdio londrino Miloco, enquanto faziam um pit-stop dentro de sua turnê mundial, em 29 de junho de 2010, os integrantes do LCD Soundsystem resolveram se atirar com gana sobre um repertório que poderia facilmente passar como uma espécie de “best of” de sua produção fonográfica. Uma vibração espontânea emana dessas sessões, marcadas por uma crueza e um despojamento que não costumam sobreviver à aridez padronizada dos engenheiros de som e produtores de plantão.

Sim, sempre se soube que James Murphy criou a quase totalidade dos discos do grupo sozinho, porém não é possível deixar de ficar impressionado diante da autêntica usina de força que o baixo de Tyler Pope e a bateria de Pat Mahoney geraram para este registro. Funky e ao mesmo tempo de uma rara complexidade, toda essa energia rítmica vem fustigar as guitarras geminadas de David Scott Stone e Mathew Thornley, com a resultante se engalfinhando com as maquinações electro geradas pela pilha de teclados vintage que Gavin Russon e Nancy Whang manipulam, com avidez de crianças esquecidas pelos pais em um playground.

Lembrando aquilo que Brian Eno, Prince, Talking Heads, Captain Beefheart, David Bowie, The Fall, Neu!, Silver Apples e New Order produziram de mais inovador no ápice de suas carreiras, mas com personalidade suficiente para impor marca autoral em tais registros, Daft Punk is playing at my house, All I want, I can change e Us vs. them se mostram tão ou mais potentes que em suas versões originais. Um caldeirão fumegante de acid-house, punk, pós-disco, krautrock, psicodelia, rock de garagem e popices a granel relativizados para uma era marcada por distorções temporais; passado recuperado e futuro antecipado, incessantemente se plasmando e se transformando em meio às fantasmagorias do presente.

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