Vanessa da Mata não foge da briga nas redes e avisa: 'Preciso falar'

Cantora e compositora faz show em BH, nesta sexta (28), para lançar o disco 'Quando deixamos nossos beijos na esquina'. De acordo com ela, o mundo está doente, vítima da intolerância

Pedro Galvão 28/06/2019 08:55
Rodolfo Magalhães/divulgação
A cantora e compositora Vanessa da Mata diz que não seguiu 'o caminho fácil' da música sertaneja (foto: Rodolfo Magalhães/divulgação )
No hit Não me deixe só, com mais de 15 milhões de execuções no Spotify, Vanessa da Mata canta que é “perigosa”, “macumbeira”, “de paz” e “de bem”, mas “tem medo do escuro, do inseguro e dos fantasmas da minha voz”. Dezessete anos depois do lançamento dessa canção, a mato-grossense, de 43 anos, parece mais segura de si, firme para defender aquilo em que acredita. Especialmente, o entendimento pacífico entre as pessoas. Essas ideias permeiam seu novo disco, o mais autoral, cuja turnê chega a BH nesta sexta-feira (28).

Além de compor as 11 faixas, Vanessa assina a produção musical do álbum Quando deixamos nossos beijos na esquina. “Sempre houve interferência nos meus discos. Às vezes, eu não tinha tanta força na hora da mixagem, mas respeitava tanto os mestres que trabalhavam comigo que ficava sem coragem de interferir. Depois de muito aprendizado, achei que este era o momento certo”, diz ela, referindo-se ao seu papel no novo projeto.

Na sugestiva faixa-título, a ideia central do amor surge como o elemento necessário em nosso caótico cotidiano urbano. “Tudo veio a partir do nome (do álbum). A ideia me trouxe a referência inteira, que é a exposição de um beijo em meio à falência do mundo, à polarização cada vez mais fanática, à vaidade sem profundidade de um querendo impor, de qualquer maneira, sua opinião sobre o outro”, explica. A letra é clara: “Que o mundo está doente / Todos sabem, mas não tratam/ O mundo precisa de mais amor, por favor”.

A mesma temática inspirou outras canções – Só você e eu (“Nesse mundo cão de tantas malvadezas/ você é um presente que eu não posso perder”) e Nossa geração (“Mata o diferente/ padronizam frutos, flores e gente”), por exemplo. Tudo com a musicalidade característica de Vanessa, que congrega samba, reggae e ritmos afro em sua proposta, geralmente colocada na prateleira do pop e MPB. Ao comentar as letras e o contexto que as inspirou, a artista se mostra preocupada com a nova geração, “incompetente em lidar com as diferenças e com o afeto”.

“Não sou expert, mas sou muito observadora. Quando não há educação, não há diálogo e a pessoa vira bicho. Hoje, há uma massa, uma geração ligada ao celular o tempo inteiro. Pesquisas sérias mostram a queda vertiginosa de QI, que o cérebro começa a fazer outro caminho para lidar com o cotidiano. A pessoa fica incapaz de qualquer leitura mais profunda das coisas. Fica no superficial, manipulada, independentemente de estar à esquerda, à direita, reto... Não importa”, argumenta Vanessa da Mata.

A cantora se preocupa com as consequências sociais dessas patologias comportamentais. “As pessoas têm descontado as frustrações nas outras. Existe, por exemplo, essa coisa criminosa de botar nas religiões afro-brasileiras a culpa das incompetências delas. O caminho é procurar conversar, entender que a principal ideia de uma religião é ensinar amor, valores. Jamais atacar um homossexual por achar que ele é errado. Isso é loucura, incompetência da própria religião de jogar sujeira no outro, criando uma guerra ainda maior no Brasil. É caso de polícia até”, defende.

Em seus perfis nas redes sociais, Vanessa demonstra que essa questão é realmente cara a ela. Sem medo das reações acaloradas e agressivas comuns nos ambientes virtuais, defende firmemente as religiões de matriz africana e a diversidade sexual.

“São duas vertentes a seguir. Numa delas, eu poderia ser mais uma que só canta, caminho fácil para continuar com muitos fãs. Mas nunca fui de grana. Senão, cantaria sertanejo. Sou mato-grossense, ouvi sertanejo a vida toda e estaria com eles e os milhões que o agronegócio investe nisso. Só que preciso falar. Sou compositora, uma pessoa que se expressa. Não aguento ver algo que me incomoda e não falar sobre”, afirma Vanessa, que diz já ter “dançado” por excesso de espontaneidade. “Não faço media training, não ensaio respostas. Em muitos momentos, posso não estar certa, mas tenho personalidade.”

NEYMAR 

Essa postura colocou a artista no meio de uma das maiores polêmicas do último mês. Ela publicou um meme no Twitter, em que a modelo Najila Trindade, que acusa Neymar de estupro, pergunta, em um balãozinho: “DJ ganha quanto?”. Criticada por defender o jogador, Vanessa manteve seu ponto de vista em discussões com seguidores.

Em uma réplica, ao comentar um vídeo relativo ao craque e à modelo, disse: “Agressão contra mulher? Mas essa agressão é contra o homem e contra um nome que dá muito emprego e mantém um monte de família. Não confunda uma golpista com mulheres que realmente sofrem. Aí você me decepciona”.

Depois do furacão de comentários na internet, Vanessa mantém sua opinião. Remete a polêmica a um contexto mais amplo, pois entende que alguns conflitos resultam de “pessoas que colocam nos outros sua frustração, falência e falta de gerência pessoal, como homens e mulheres que não aceitam um não”. E avisa: “Pra mim, ser adulto é se reinventar e ver os próprios erros. Tive de me analisar muito. Tinha uma autossabotagem no começo da carreira, fiquei dos 21 aos 26 para gravar o primeiro disco, com pânico da fama. Fiz análise para ser hoje o que sou.”

VANESSA DA MATA
Turnê Quando deixamos nossos beijos na esquina. Nesta sexta-feira (28), às 21h. Palácio das Artes, 
Av. Afonso Pena, 1.537, Centro, (31) 3236-7400. Inteira: R$ 160 (plateia 1), R$ 140 (plateia 2) e R$ 120 (plateia superior). Meia-entrada na forma da lei. Informações: www.ingressorapido.com.br e (31) 3236-7400.



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