'Quero retribuir, usando a voz que me foi dada', diz Thelma Assis

Depois de vencer o BBB, médica usa espaço de fala para discutir racismo e abordar o novo coronavírus

Adriana Izel - Correio Braziliense 15/06/2020 08:10
Denis Cordeiro/Divulgação
Thelminha foi a quarta mulher negra a vencer o 'Big Brother Brasil' em 20 edições (foto: Denis Cordeiro/Divulgação)
Numa edição classificada como histórica, o Big brother Brasil 20 coroou a médica Thelma Assis como a grande vencedora. Thelminha, como ficou conhecida a participante na casa, conseguiu quebrar paradigmas dentro e fora do confinamento com atitudes coerentes e engajadas com o movimento feminista e negro. A noite da final emocionou grande parte do Brasil pela representatividade da vitória ao ver uma mulher negra e médica, em meio a uma pandemia que o país ainda passa, tendo lugar de destaque.

Essa foi apenas a quarta vez que uma mulher negra venceu o programa, antes Cida (BBB4), Mara Viana (BBB6) e Gleici (BBB18), e ocorreu exatamente um ano depois de uma edição que premiou uma participante que teve comentários racistas e de intolerância religiosa.

Mesmo não sendo uma personalidade do mundo artístico, a vitoriosa tem feito bom uso da projeção. Esteve em campanhas pelas medidas de combate ao novo coronavírus, assumiu um quadro no É de casa em que conversa com médicos e enfermeiros na linha de frente da covid-19 e se posiciona sempre nas redes sociais contra o racismo, inclusive nos últimos casos envolvendo as mortes de Gleorge Floyd por policiais brancos nos EUA, João Pedro também pela polícia em ação no Rio de Janeiro, e, mais recentemente, Miguel após ter sido deixado em um elevador pela patroa da mãe num grande prédio em Pernambuco, além do próprio sofrido em uma live no Instagram, o qual acionou a justiça. Ao Correio Braziliense, Thelma Assis fala da vida pós-BBB e do posicionamento que assumiu depois do programa devido ao lugar de fala.

Entrevista // Thelma Assis

Como avalia a sua participação no BBB?
Foi uma das maiores experiências da minha vida. Avalio de forma positiva, pois consegui mantendo meus princípios e valores, sendo quem eu sou. Sempre fui uma pessoa com muita garra e determinação. Sou grata pelo público ter enxergado essas características e ter me elegido como campeã da edição.

Como tem sido a vida após vencer o programa?
Tenho aproveitado todas as oportunidades que estão surgindo nesse pós-reality e me readaptando a essa nova vida. Venho recebendo uma onda de carinho muito grande e quero retribuir isso também, usando a voz que me foi dada. Tem sido muito especial.

Como foi para você sair do confinamento e se deparar com o Brasil em uma pandemia? Como médica e hoje pessoa pública acredita que uma das suas funções é ajudar, também, por esse outro meio da comunicação?
Foi um choque! Lá dentro do BBB não tínhamos noção da dimensão em que a pandemia estava. Eu acreditava que sairia da casa e a quarentena teria uma data para acabar. Quando saí é que consegui enxergar a proporção do que estava acontecendo aqui fora. Como médica, acho, sim, importante usar a minha voz para levar informação e conscientizar ainda mais as pessoas.

É um momento em que estamos buscando novas informações constantemente e venho conversando com amigos especialistas, para entender tudo o que está acontecendo e poder transmitir isso para as pessoas por meio desse lugar de fala que me foi dado nesse momento. Foi uma forma que encontrei para ajudar também.

Sua vitória e presença no reality show foi vista como um exemplo de representatividade. Como você enxergou isso quando saiu? Como foi se tornar um modelo para tantas mulheres?
Lá dentro as coisas aconteciam muito naturalmente, então não tinha muita noção da repercussão disso aqui fora. Essa edição abordou temas importantes como o machismo, o racismo e a representatividade. Fico feliz por terem me atribuído essa voz e quero continuar inspirando muitas mulheres e meninas que se inspiram na minha história.

Como você vê esse levante que tem acontecido nos Estados Unidos contra o racismo estrutural do país e que vem tomando força no Brasil?
É triste saber que em pleno século 21 as pessoas ainda são assassinadas por conta da cor da pele. A sociedade civil chegou no limite da tolerância, pois não aguenta mais tanta discriminação e impunidade. É um momento difícil, porém necessário na luta antirracista.

Sei que esse é um momento de incertezas ainda, mas quais são seus planos pós-BBB?
Nesse momento, estou me readaptando à minha vida, estudando e aproveitando todas as oportunidades que tem me aparecido. Quero continuar usando a minha voz, aliada é claro, à minha profissão, que é médica anestesista. Pretendo dar palestras, continuar usando minhas redes sociais e meu canal no YouTube para levar informação, sobretudo nesse momento e assim, que possível, ir voltando para a minha rotina como anestesista, que é o que eu amo.

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