Morre, aos 85, o professor, entomólogo e escritor Ângelo Machado

Autor de vários livros infantis, era um apaixonado por insetos. Velório será fechado para a família

Mariana Peixoto 06/04/2020 15:32

Ramon Lisboa/EM/D,A Press
Ângelo Machado em sua casa, na Pampulha (foto: Ramon Lisboa/EM/D,A Press)
Morreu na manhã desta segunda (6), aos 85 anos, o médico, professor, entomólogo e escritor Ângelo Machado. Com saúde frágil, pois sofria de uma doença degenerativa muscular, ele passou mal em casa na sexta-feira (3) e foi internado no CTI do hospital Biocor, em Nova Lima. Morreu após uma parada cardíaca.

 

O velório e sepultamento serão nesta terça (7), reservados para a família. Viúvo de Conceição Ribeiro da Silva Machado, teve quatro filhos.

 

 “Pretendo chegar aos 100. Mas quando chegar aos 99, peço prorrogação”, disse ele a Soares durante entrevista ao Programa do Jô, em dezembro de 2015. Na época, lançava seu primeiro livro para adultos, Borboletas eróticas.

 

Bem-humorado, o professor emérito da UFMG era conhecido pela voz fanhosa. “Achavam que por causa disto eu não poderia ser professor. Dei aulas 55 anos fanhoso. Os alunos se acostumam logo”, ele acrescentou.

 

Vivia bem próximo da universidade, na única casa que restou na Avenida Carlos Luz, na região da Pampulha, cheia de área verde e animais. Em 2015, Machado doou para a UFMG sua coleção de 35 mil exemplares de libélulas, a maior da América do Sul. Sua coleção, reunida ao longo de 65 anos, é composta por 1.052 espécies. Ele deu nome a cerca de 30 insetos, incluindo pelo menos oito libélulas, três borboletas, sete besouros e dois sapos.

 

A paixão vinha desde sempre. Era um adolescente quando foi desafiado por um padre a descobrir o nome científico de quatro besouros que havia guardado em uma caixa de fósforos.

 

Professor, entomólogo e ainda escritor. E como escreveu. Foram quatro dezenas de livros para crianças, o mais recente Cristóvão e os grandes descobrimentos (Caravana Grupo Editorial). A obra, lançada em 6 de dezembro de 2019 na Academia Mineira de Letras, acompanha a trajetória do piolho Cristóvão, que parte em uma jornada para saber se de fato a cabeça (no caso, a sua terra) é redonda ou não.

 

Da mesma família de autores como Maria Clara Machado, Lúcia Machado de Almeida e Aníbal Machado, era também o ocupante da cadeira 26 da AML, mesma já ocupada por Henriqueta Lisboa e Bartolomeu Campos Queirós

 

“Era de convivência fraterna, suave, elegante e, sobretudo, divertida. Tinha uma atitude leve diante das coisas. Mesmo com a saúde bem debilitada, não perdia o senso de humor. Coisa rara, dedicou-se à ciência e à literatura ao mesmo tempo. E na educação, formou gerações. Foi, há 50 anos, um pioneiro em defesa da ecologia, pois naquele momento ninguém falava disto”, destacou o jornalista Rogério Faria Tavares, presidente da AML.

 

Milhares de pessoas em Minas Gerais ainda descobriram Ângelo Machado através do teatro. É o autor de Como sobreviver em festas e recepções com buffet escasso, monólogo com o ator Carlos Nunes. Em sua conta no Instagram, Nunes publicou:  “Ganhei há 20 anos um pai, um amigo, um irmão e autor genial que confiou em mim a tarefa de levar para o palco sua primeira peça para adultos. Muito obrigado professor Ângelo Machado por mudar minha história de vida. O senhor combateu o bom combate como um guerreiro exemplar.”

 


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