Conheça Liminha, o faz-tudo de Silvio Santos que mora em BH

Diretor de palco do dono do SBT, Ailton Lima é casado com a mineira Fernanda Fiúza e vive no Bairro Castelo. Desde 1981 na emissora, ele se fantasiava de passarinho para dançar com Gugu, com quem trabalhou durante vários anos

Ana Clara Brant 11/01/2020 04:00
Leandro Couri/EM/D.A Press
Liminha e a família: o filho Gabriel, a mulher, Fernanda, e os malteses Minnie e Bidu (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Silvio Santos, Gugu, Hebe, Celso Portiolli, Rebeca e Patrícia Abravanel. As trajetórias de todos eles estão vinculadas ao SBT. Mais que isso, têm em comum uma figura que é sinônimo de alegria e faz parte da história não só da emissora, que viu nascer em 1981, como da TV brasileira. O nome dele é Ailton Sampaio Lima, o Liminha, de 54 anos.

Conhecido como animador de programas de auditório, atualmente ele é diretor de palco das atrações que envolvem Silvio Santos e sua filha Rebeca. Sua função é passar o roteiro ao apresentador, ajudá-lo com dicas e informações sobre os convidados. Paulistano da Vila Matilde, há um ano Liminha mora em Belo Horizonte com a mulher, a dentista mineira Fernanda Fiúza, de 39, e o filho Gabriel, de 14. “Adoro Minas Gerais. Os mineiros têm um carinho muito grande por mim. O engraçado é que muita gente me encontra na rua e fica em dúvida se sou eu mesmo. Poucas pessoas sabem que moro em BH. Vou para São Paulo gravar, mas a minha casa é aqui”, destaca.

É o casal de malteses Minnie e Bidu que recepciona a reportagem do Estado de Minas na casa da família, num condomínio no Bairro Castelo. Liminha surge com o boné e os óculos escuros que se tornaram sua marca registrada. E começa a relembrar o início de sua carreira. “Desde que me entendo por gente, tinha o sonho de trabalhar com Silvio Santos. Ele ainda era da Globo, e eu ficava na porta da emissora para tentar assistir às gravações. Nunca consegui. Certo dia, ele saiu num Camaro branco e acenou. Não sei por que, mas senti que aquele tchauzinho era pra mim”, conta.

O primeiro cargo no SBT foi como apontador de produção. Era o “cara-crachá”, encarregado de anotar o nome e a função de todos que entravam e saíam da empresa. Quando o serviço acabava, ele dava um jeito de não ficar ocioso. “Comecei a ajudar em outras coisas. Montava e desmontava cenário, ajudava na contrarregra, na iluminação e no maquinário. Queria aprender, fazer alguma coisa. Era um faz-tudo”, diz.

Não demorou para esbarrar com Augusto Liberato, então produtor e diretor do programa Domingo no parque. A empatia foi imediata. Quando a função de Liminha foi extinta, Gugu o indicou para trabalhar com Humberto Garin, que comandava o Departamento Musical do SBT. Ele passou a ajudar os calouros e organizava partituras dos integrantes das orquestras que se apresentavam no SBT. Acabou conhecendo – sem querer – o ídolo Silvio Santos. “Um cara faltou no Show de calouros e me chamaram para segurar as cartolinas com as falas dele”, revela.

De cara, Silvio se impressionou com o jeito extrovertido daquele funcionário que teimava em chamar de Lucas. “Ele nunca gostou de chamar os outros pelo apelido. Eu falava: Sou Liminha, Lima... Não sei por que ele só me chamava de Lucas (risos). Só um tempo depois é que se acostumou”, recorda. Liminha foi trabalhar exclusivamente para o “dono do Baú” – a única exceção eram os programas de Gugu –, e está com ele até hoje. Ao lado de três “patrimônios” do SBT (o locutor Lombardi, o assistente de palco Roque e de Joaquim Neto, responsável pelo microfone do patrão), ele faz parte do chamado “núcleo do Silvio Santos”. “Não estou no custo da produção dele. Estou nessa panelinha, digamos assim. Nós quatro estamos lá há anos”, explica.

“Silvio é fundamental na minha vida”, diz Liminha. “Você não tem ideia do carinho dele e da família por mim. Sou tratado como filho. A Silvinha (filha do apresentador) fala que sou um Abravanel.” Categórico, defende o apresentador das críticas de quem o acusa de fazer comentários preconceituosos durante os programas. “O Silvio pode ser tudo, menos ultrapassado. Muito pelo contrário. Ele está tão à frente que as pessoas não têm noção. Tem 89 anos e está agora em Orlando, de férias, bolando coisas pra gente fazer no programa quando voltar, depois do carnaval. Ele é criativo demais.”

Moacyr dos Santos/divulgação
Gugu e Liminha no programa Domingo legal (foto: Moacyr dos Santos/divulgação)

FICHA 
Liminha se emociona ao falar de Gugu. Diz que “a ficha ainda não caiu”, ao comentar a morte do apresentador, em novembro, em acidente doméstico nos EUA. “Ele é muito importante pra mim e sempre será. Devo muito a ele. Em todos os lugares, as pessoas me associam ao Gugu, querem saber dele. Dizem: 'É o Liminha do Gugu', 'é o Liminha do Silvio Santos'.” Aliás, planeja lançar um livro contando suas histórias com o apresentador, com quem trabalhou em Sessão premiada, Viva a noite e Domingo legal. Aliás, Liminha criou a música-tema desse programa (Uau, domingo legal). No Viva a noite, além de animador de plateia e assistente de palco, chegou a se fantasiar de pássaro para contracenar com Gugu enquanto ele cantava Baile dos passarinhos.

Apesar dessa forte ligação, Liminha recusou três convites de Gugu para ir para a Record e ganhar mais. O apresentador estreou na emissora em 2009. “Agradeci, mas justifiquei que tenho um carinho e uma gratidão enormes pelo SBT e pelo Silvio Santos. Dou muito valor a tudo o que conquistei lá. Não queria deixar o Silvio desamparado no momento em que ele precisava de mim. O Gugu entendeu perfeitamente”, diz.

Lourival Ribeiro/divulgação
Liminha e o 'Patrão' nos bastidores do Programa Silvio Santos (foto: Lourival Ribeiro/divulgação)

AMOR 
A vida de Liminha deu uma guinada por causa da dentista mineira Fernanda Fiúza. Ele estava de férias no Rio de Janeiro, onde ela morava, quando a conheceu. O primeiro encontro foi na inauguração de uma casa noturna. “Eu o conhecia pouco. Só me lembrava de que tinha um certo ranço, pois era o cara que mordia o braço das pessoas no quadro da TV em que famosos tinham que descobrir um bicho por meio do tato”, recorda ela.

Na época, Fernanda se recuperava de uma separação e não queria envolvimentos afetivos. “Ele já foi chegando e colocando o braço na minha cintura. Depois, pediu uma bebida pra gente. Como não aceitavam cartão e ele não tinha dinheiro, tive de pagar. Vê se pode!" (risos), diverte-se Fernanda.

Liminha não desistiu. Passou vários meses tentando convencer a mineira a namorar com ele. Até que, num fim de ano, ligou para Fernanda e ela quis saber o que faria no Natal. “Respondi que ia ficar sozinho mesmo. Ela me convidou para passar com a família dela, em BH. O espírito natalino despertou tudo. A gente estava começando a ser amigo”, lembra Liminha.

A relação foi se estreitando, eles se casaram e estão juntos há 11 anos. Em setembro de 2018, Liminha teve um problema de saúde que mudou os planos da família. Enquanto se preparava para gravar, sentiu que o rosto estava torto. Achou que era AVC, mas se tratava de paralisia facial batizada de Bell. “Ainda não há diagnóstico preciso, mas ela pode ser causada por picos de estresse e imunidade baixa”, explica Fernanda, que acabou se especializando na doença.

“Mexia com outra área, implante, e mudei totalmente a minha vida pessoal e profissional. Passei a estudar a paralisia. A mudança para Belo Horizonte tem a ver com isso, para me dedicar ao Liminha e ao tratamento dele. Sem contar que nosso filho também queria vir para cá. Unimos o útil ao agradável”, diz.

“Minha mulher é a parte mais importante da minha carreira. Ela é meu norte, meu ponto de referência”, comenta Liminha. O casal criou um projeto social sem fins lucrativos, o Sorriso Bello (@projetosorrisobello), voltado para quem enfrenta esse problema. “Faço atendimento gratuito para pessoas de todo o país com essa pa- ralisia. É muito mais gente do que você imagina. A laserterapia melhorou bastante as condições clínicas do Liminha e tem melhorado a vida de muita gente”, informa Fernanda Fiúza.

Paralelamente ao trabalho no SBT, Liminha viaja o Brasil dando palestras motivacionais. “Acho importante passar o que vivi para os ou- tros. Muitas vezes, o funcionário não consegue crescer dentro da empresa porque não acredita em si próprio. Você tem que acreditar, mesmo se ouvir 50 nãos. O sim já está com você. Na vida, a gente é aquilo que a gente quer, e não o que as pessoas querem que você seja”, enfatiza.

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