Luto na dramaturgia: Ruth de Souza sai de cena aos 98 anos

Primeira atriz negra a subir ao palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, carioca é considerada uma das grandes damas do teatro brasileiro e também foi pioneira na TV

por Redação EM Cultura 29/07/2019 09:30
 Globo/divulgação
Trajetória de Ruth de Souza abriu caminhos para o artista negro no Brasil (foto: Globo/divulgação)
A atriz Ruth de Souza morreu no fim da manhã de ontem, aos 98 anos, no Rio de Janeiro. Ruth estava internada no Hospital Copa D'Or, em Copacabana, na Zona Sul da cidade. Ela faleceu em decorrência de complicações de um quadro de pneumonia. Nascida em 12 de maio de 1921, no bairro carioca do Engenho de Dentro, Ruth foi a primeira atriz negra a se apresentar no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, numa peça de Eugene O'Neill, O imperador Jones, em 1945. Ainda no teatro, esteve em 30 produções e sua trajetória abriu caminhos para o artista negro no Brasil.

Ruth de Souza também foi pioneira no Teatro Experimental do Negro e estreou no cinema em 1948, no filme Terra violenta, adaptado do romance Terras do sem fim, de Jorge Amado. A atriz atuou em dezenas de programas na televisão, desempenhando o último papel de sua vida na minissérie Se eu fechar os olhos agora, exibida pela TV Globo em abril deste ano. Na obra recriada por Ricardo Linhares a partir do romance original de Edney Silvestre, interpretou Madalena, uma senhora abandonada. A personagem era “adotada” pelos meninos Paulo Roberto (João Gabriel D’Aleluia) e Eduardo (Xande Valois) antes de ser assassinada.

Ela foi também a primeira atriz brasileira a ser indicada ao prêmio de melhor atriz num festival internacional de cinema, com Sinhá moça, no Festival de Veneza, em 1954, e atuou em cerca de 40 filmes, entre eles O assalto ao trem pagador, Orfeu negro e Filhas do vento.

Na televisão, a atriz trabalhou em programas de variedades e musicais desde as primeiras transmissões da TV Tupi. Também adaptou para a televisão, com Haroldo Costa, a peça O filho pródigo, que havia encenado no Teatro Experimental do Negro. A primeira novela foi A deusa vencida (1965), de Ivani Ribeiro, na TV Excelsior. Passou pela TV Record e, em 1968, foi contratada pela Globo para atuar na novela Passo dos ventos, de Janete Clair.

Ruth de Souza tornou-se ainda a primeira atriz negra a protagonizar uma telenovela: A cabana do Pai Tomás (1969). Além deste folhetim, esteve ainda em Os ossos do barão, O rebu, Duas vidas e O clone. Ao todo, foram 32 novelas e dezenas de outros trabalhos, como os seriados Memorial de Maria Moura e Na forma da lei.

Ruth não tinha filhos, apenas sobrinhos. Em 2019, foi homenageada pela escola de samba Acadêmicos de Santa Cruz durante desfile da Série A do carnaval do Rio, com o enredo Ruth de Souza – Senhora liberdade. Abre as asas sobre nós.

Filha de um lavrador e de uma lavadeira, carregava desde a infância o sonho de ser atriz. “Era apaixonada por cinema. Queria ser atriz, mas naquela época não tinha atores negros, e muita gente ria de mim: ‘Imagina, ela quer ser artista! Não tem artista preto’. Ficava meio chateada, mas sabia que ia fazer; como, não sabia", declarou a atriz em entrevista ao site Memória Globo.
Luciano Mattos/divulgação
Atriz interpretou a mineira Carolina Maria de Jesus em uma série do canal Futura (foto: Luciano Mattos/divulgação)

REPERCUSSÃO Vários atores e personalidades lamentaram a morte da atriz.  "Ela é uma figura muito importante para a cultura brasileira. Fez o Teatro do Negro. Foi uma pioneira”, disse Paulo Betti, destacando que acompanhava a “brilhante trajetória” de Ruth na televisão, no teatro e no cinema. “É uma perda. Lamento muito”.
O cineasta e imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL) Cacá Diegues destacou que Ruth de Souza não foi só uma grande atriz, “como também foi um símbolo da ascensão da qualidade do trabalho dos negros, todos grandes atores”.
Até o fechamento desta edição não havia sido divulgadas informações sobre local e horário do velório.

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