Petrobras corta verbas de 11 projetos culturais

Entre os contratos que não foram renovados pela estatal, estão sete de audiovisual, três de música e um de teatro. Eventos tradicionais, como as mostras de cinema de São Paulo, Rio e Brasília, estão na lista

por Estadão Conteúdo 17/04/2019 08:55
Festival de Brasília/divulgação
Sessão do Festival de Cinema de Brasília, em setembro de 2018: evento está entre os que não tiveram o patrocínio renovado pela estatal (foto: Festival de Brasília/divulgação)
A Petrobras iniciou o corte em seu programa de patrocínio cultural com a retirada de verbas de sete projetos da área audiovisual, três de música e um de teatro. Ao todo, a estatal deixou de renovar 11 iniciativas que “historicamente contaram com patrocínio”. Outros dois, na mesma condição, já não tinham sido contemplados em anos anteriores: os festivais de teatro Porto Alegre em Cena e o Festival de Curitiba.

Na lista dos projetos que não foram renovados estão algumas das mostras de cinema mais tradicionais do Brasil: Festival do Rio, Mostra de Cinema de SP, AnimaMundi, Festival de Cinema de Brasília, Festival de Cinema de Vitória, Sessão Vitrine e CineArte (SP). Na música, saem da lista de beneficiados o Prêmio da Música Brasileira, realizado há 30 anos no Rio de Janeiro, o Clube do Choro, uma das principais casas de música de Brasília, e a Casa do Choro, no Rio de Janeiro. As artes cênicas perdem o patrocínio do Teatro Poeira, no Rio.

Essas são as primeiras medidas desde que a empresa decidiu rever o seu programa de patrocínio, neste ano. Como antecipou o Estadão/Broadcast, no início de fevereiro, a empresa avalia romper contratos firmados nos governos anteriores, principalmente com grandes grupos de teatro e cinema. Na nova gestão, o foco passará a ser em educação na primeira infância, ciência e tecnologia.”A Petrobras segue realizando apoio a projetos culturais. O orçamento para patrocínios, assim como diversas outras áreas, sofreu redução à luz do Plano de Resiliência, divulgado em  8/3/19. Por essa razão, tivemos projetos nas áreas de audiovisual e artes cênicas já concluídos, que não foram renovados. Os contratos vigentes estão em andamento e com seus desembolsos em dia”, afirmou a empresa em nota oficial, acrescentando que a intenção é readequar seu orçamento e alinhar o apoio cultural ao seu posicionamento de marca. Até então, a ideia era ter o seu nome associado aos artistas brasileiros reconhecidos pela excelência em suas áreas.

A notícia de revisão do programa de patrocínio da Petrobras motivou dois deputados federais do Psol – Áurea Carolina (MG) e Ivan Valente (SP) – a questionar a estatal. Em documento oficial, a empresa respondeu aos parlamentares. No texto, diz que o “orçamento de 2019 está dimensionado para honrar contratos vigentes e projetos oriundos da chamada pública de música, cujos resultados serão divulgados”. Um edital aberto no final do ano passado deve contemplar com R$ 10 milhões no total 19 músicos de 2 mil inscritos. A divulgação dos vencedores já foi adiada por duas vezes.

INSPIRAÇÃO A empresa afirma ainda que utiliza três autores para repensar seu novo programa de patrocínio, que ainda está em estudo – Heckman, Rolnick e Grunewald. Não informa, porém, as razões de os três autores terem sido escolhidos. Os três são economistas norte-americanos que têm estudos na área de educação. James Heckman recebeu o Prêmio Nobel de Ciências Econômicas em 2000 e defende que investir na infância é mais eficaz do que distribuir renda. Rob Grunewald e Arthur Rolnick assinam artigos sobre os benefícios da educação na primeira infância para o desenvolvimento. O empresário José Maurício Machline diz que tudo estava acertado para que seu Prêmio da Música Brasileira seguisse com o patrocínio. “Eles afirmaram que, de todos os patrocinados, o Prêmio era o que mais dava retorno para a marca. Pediram, então, um projeto ainda maior de circulação e eu fiz, mas agora veio essa decisão.” Ele afirma que já está no mercado para conseguir captar verba via Lei Rouanet para fazer a próxima edição da festa. “Já tenho aprovação para esse projeto.” Se não tivesse, seria certamente impedido, desta vez, pelas mudanças na Lei Rouanet prestes a serem anunciadas pelo governo federal, que vai baixar o teto por projeto de R$ 60 milhões para R$ 1 milhão.

BNDES O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) gastará em patrocínios culturais neste ano R$ 5 milhões. O valor do orçamento é três vezes inferior ao de 2017, quando o banco de fomento investiu R$ 15,5 milhões com esse fim. Em 2018, foram gastos R$ 8,1 milhões. O orçamento de 2019 é 38% inferior ao do ano passado.Em nota, a assessoria de imprensa explicou que a queda no orçamento para patrocínio cultural se deve à queda na receita operacional bruta. “Qualquer alteração no regulamento de patrocínio é de alçada do Conselho de Administração do BNDES”, diz a nota enviada pelo BNDES. O banco informou ainda que dará prioridade, neste ano, aos projetos ligados à literatura. 

SEM VERBA

Projetos que não foram renovados

»  Festival de Cinema do Rio
»  Mostra de Cinema de SP
»  AnimaMundi
»  Festival de Cinema de Brasília
»  Festival de Cinema de Vitória
»  Sessão Vitrine
»  CineArte (SP)
»  Prêmio da Música Brasileira
»  Clube do Choro (Brasília)
»  Casa do Choro (Rio)
»  Teatro Poeira (Rio)

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