Rodrigo Hilbert recusa posto de homem especial e diz que aprendeu tudo com as mulheres

'Não sou chef, sou cozinheiro', avisa o ator e apresentador

por Rebeca Oliveira 13/08/2017 11:09
GNT/Divulgação
'Tive a sorte de crescer ao lado de mulheres fortes' (foto: GNT/Divulgação )

Rodrigo Hilbert nunca entrou na sala de aula para aprender a melhor técnica de cozimento a vácuo ou o molho apropriado para o magret de pato. Tudo o que sabe sobre cozinha – e sobre a vida – é fruto da relação familiar. Suas receitas são simples, sem invencionices. A mãe, Suzete Hilbert, ensinou-o a suprir as próprias necessidades – inclusive, preparando o almoço para os irmãos. O menino curioso de Orleans, em Santa Catarina, pinta, borda e se sente à vontade com as atividades domésticas. Derruba preconceitos, assim como faz sua mulher, Fernanda Lima, que discutiu tabus corajosamente no programa Amor & Sexo, da Rede Globo. Gravado na Paraíba, o episódio de Tempero de família com Rodrigo tecendo uma peça de crochê rendeu-lhe o apelido de “Homão da Porra”. Mas ele não aceita o “título”, argumentando que nada faz de extraordinário. “Há tantas outras pessoas no mundo fazendo mais do que eu... Quantas mulheres não lutam por causas maiores?”, rebate ele. À frente da nova temporada de Tempero de família, Rodrigo está no ar às quintas-feiras, às 20h, no canal pago GNT.

Como você aprendeu a cozinhar?

Comecei a cozinhar por necessidade. Minha mãe trabalhava fora e eu precisava terminar o almoço, que ela deixava pré-pronto, para todos comerem. Aprendi muito com essa experiência e também olhando minha avó e minhas tias na cozinha, além do meu avô, que adorava cozinhar e reunir a família. Mas aprendi muito também nas minhas andanças com Tempero de família. Nas últimas temporadas, visitei inúmeros lugares e famílias, aprendi muito mais sobre culinária do que poderia imaginar. Pra mim, cozinhar é a possibilidade de reunir quem mais gostamos em torno da mesa e de prolongar os dias da melhor maneira possível.

Tempero de família, que se tornou um dos programas mais assistidos do GNT, revolucionou sua carreira. Você se vê mais como chef, apresentador ou modelo? Ou o misto dos três?
Antes de tudo, preciso esclarecer um equívoco muito comum: não sou chef, sou cozinheiro. Nunca estudei gastronomia, cozinho por diversão e prazer. Dito isso, destacaria que sou um misto de muitas coisas. Comecei a trabalhar aos 12 anos, auxiliando meu avô na oficina dele. Aos 17, fui para São Paulo trabalhar como modelo e, mais tarde, mudei-me para o Rio de Janeiro, onde iniciei a vida artística e tive a oportunidade de experimentar várias interseções nas artes. Sou um cara disposto a aprender com a vida. Espero ainda aprender e vivenciar experiências que acrescentem ainda mais à pessoa que sou hoje.

Como se dá o casamento entre entretenimento e gastronomia?
Assisto a outros programas de culinária, mas não sou um cara muito ligado em televisão. Posso falar sobre a experiência do Tempero. A ideia surgiu quando a Fernanda convidou uma grande amiga nossa para um almoço de domingo lá em casa. A Gisela Matta filmou toda aquela bagunça e, muito tempo depois, aquilo acabou virando o projeto de um programa criado por mim, pela Fernanda, pelo Antonio Amancio e pela Gisela. Foi tudo muito despretensioso e inesperado, mas, para nossa surpresa, tudo deu muito certo. Fizemos a primeira temporada em Santa Catarina e tivemos um retorno muito bacana do público. Desde então, já se vão 19 temporadas e dois livros de receitas.

Nos programas, você mostra como vivem os produtores rurais. O Brasil, majoritariamente urbano, distanciou-se muito dessas raízes?
Venho de uma cidade do interior de Santa Catarina. Até algum tempo atrás, restaurantes e afins não eram comuns lá. Quando criança, lembro-me de minha família e de meus vizinhos terem horta, criação de animais. Nós nos alimentávamos daquilo que produzíamos. Hoje, continuo tentando me alimentar assim. Lá em casa, eu, a Fernanda e as crianças consumimos muitas coisas produzidas no nosso sítio. É uma forma saudável tanto de nos alimentarmos quanto de sabermos a procedência daquele alimento. Em nossas andanças com o Tempero, percebemos que muitas outras muitas famílias vivem assim: plantando, criando, consumindo, vendendo e tirando o seu sustento da terra. Acredito que já tivemos o momento em que as pessoas se esqueciam de onde vêm os alimentos. Aos poucos, a consciência vem retornando. A cada dia, as pessoas têm dado importância ao que colocam na mesa de casa.

Em uma entrevista, você declarou não se sentir confortável com o título de “Homão da Porra”. Afirmou que não fazia mais do que as mulheres fazem diariamente. A mulher é subvalorizada?
Tive a sorte de crescer ao lado de mulheres fortes. A minha criação, a dos meus irmãos, primos e de toda a família foi baseada em grandes exemplos femininos: minha mãe, minha avó, minhas tias. Acho essa história de “Homão da Porra” uma grande brincadeira. Não aceito o “título”, pois não considero nada do que faço extraordinário. Há tantas outras pessoas no mundo fazendo mais do que eu... Quantas mulheres não lutam por causas maiores? Quantos discursos precisamos engrossar para voltarmos a ser autônomos, donos de nós mesmos? Acho legal ser inspiração para mais pessoas se arriscarem na cozinha. Ou para que mais gente se arrisque a se meter a faz-tudo. Acho ainda mais legal darmos voz a quem merece realmente e tem algo a nos ensinar.

Cozinhar, tricotar, fazer artesanato. Suas habilidades são atribuídas ao sexo feminino. Como vê a questão de gênero? Sua mulher, Fernanda Lima, derrubou tabus em Amor & Sexo. Vocês levam esses assuntos para casa, para a criação dos gêmeos?
Como já disse, tive a sorte de ser criado pelas mulheres da minha família. Tenho certeza de que muitas das minhas habilidades vêm dessa raiz, assim como outras herdei do meu avô e outras nasceram comigo. É assim que se formam as personalidades. Tenho em casa uma mulher forte, decidida, estudiosa. Assim como eu, ela teve exemplos de força feminina dentro da família. Fernanda é uma mulher incrível e se propôs a debater abertamente com o público assuntos até então velados pela sociedade. Criamos nossos filhos em parceria, tentamos orientá-los, explicando que as diferenças precisam ser respeitadas.

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