Bares e casas noturnas de BH investem em programação especial na segunda-feira

Contrariando a fama de dia preguiçoso, primeiro dia útil da semana ganha atenção principalmente no período de férias

por Ana Clara Brant 25/07/2016 08:00
Ramon Lisboa/EM/D.A.PRESS
A roda de Samba do Orlando, no Bairro Santa Tereza, surgiu como um encontro para ensaios e hoje chega a reunir 400 pessoas nas noites de segunda (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A.PRESS)

Segunda-feira é o dia mundial da preguiça, reservado para dormir cedo e recuperar as energias do fim de semana, certo? Errado. Não é de hoje que alguns bares e casas noturnas de Belo Horizonte têm investido em uma programação variada para atrair a clientela, sobretudo no período de férias. E tem dado certo. Samba, forró, funk, MPB, eletrônico, chorinho. Tem para todos os gostos. “Para muitas pessoas, a segunda é como se fosse o fim de semana. Tem muita gente que trabalha no sábado e no domingo ou acaba tendo outros compromissos, como ficar com os filhos, e aproveita o começo da semana para curtir mesmo”, afirma Fernando Evangelista, proprietário d’A Casa de Cultura, no Santa Efigênia, que há 12 anos tem o tradicional forró de segunda-feira.

Ele lembra que, quando a empreitada começou, praticamente não havia nada voltado aos amantes do estilo nordestino na cidade, ainda mais no “dia mais odiado da semana”. Mas assegura que, para quem é forrozeiro, qualquer dia é dia. “O forró é contagiante. Quem gosta de dançar não liga se é segunda, terça ou sexta. Nosso público é acima dos 30 e formado por muita gente casada, que tira esse dia justamente para poder aproveitar. Tem até quem saia daqui às 3h, 4h da matina e já vai direto para o trabalho com outro astral”, diz.

Próximo dali, no Bairro Santa Tereza, há três anos e meio rola uma roda do autêntico samba de raiz na praça do tradicional bar do Orlando, considerado o mais antigo da capital mineira. O evento é organizado pelo Bloco dos Pescadores, outro nome do estabelecimento, e que é formado por músicos de várias gerações. De acordo com um dos fundadores, Hernany Mendes, quando a agremiação surgiu a ideia era não só tocar no carnaval, mas ao longo do ano. Inicialmente, as segundas-feiras eram reservadas aos ensaios. O movimento cresceu e surpreendeu tanto que hoje chega a reunir de 200 a 400 pessoas. “E a nossa roda é completamente aberta, ou seja, qualquer um pode chegar e tocar. Esse é um dos nossos diferenciais. Sem falar na atmosfera de interior que tem essa região aqui e, claro, na figura do seu Orlando, que agrega e é superimportante para esse projeto ter dado certo”, avalia.

A historiadora Cecília Coelho, de 34 anos, é uma das frequentadoras assíduas do samba em Santê. Amiga de alguns dos músicos, ela descobriu um lugar com clima agradável e música boa pra começar com o pé direito a semana. “No Rio, é bem comum ter esses sambas em plena segunda. Todo mundo meio que se conhece aqui no Samba do Orlando e tem um ambiente muito especial”, diz.

Quem também tem batido ponto por ali é o professor de inglês Gustavo Caram, de 34, que não liga quando os amigos e principalmente a família estranham quando ele diz que vai sair na segundona. “Para te falar a verdade, segunda-feira é o melhor dia para sair. O fim de semana já passou, não é tão bagunçado, o clima é outro. Muitas vezes eu nem bebo aqui, venho mais para curtir o som, que é muito bom. É um programa mais light, então a gente aproveita mais.”

Foi no Samba do Orlando que Gustavo, que toca violão, acabou fazendo não só uma amizade, mas uma parceria profissional. Também músico, o funcionário público Luiz Campores, de 57, é flautista e frequenta o evento há dois anos. Além de vez por outra os dois integrarem a roda, eles decidiram formar uma dupla musical. “O repertório vai ser variado e de alta qualidade. Beatles, erudito, jazz, música mineira”, avisa Luiz.

“REBATER” Do outro lado de BH, no Caiçara, região Noroeste, há quem se espante de ver um bar tão cheio em plena segunda, o Auto Espeto. Nem os donos conseguem explicar a razão do sucesso nesse dia, em geral considerado meio morto. “Há uns três anos a gente decidiu investir em um projeto de encontro de músicos. Cada hora toca um estilo diferente. E tem dado muito certo. Começa como um happy hour lá pelas 17h30 e se estende até a 1h. Acho que o povo gosta de rebater o fim de semana”, brinca um dos sócios do espaço, Gustavo Nogueira.

Pelo fato de trabalhar com eventos e estudar, Arlanza Carol, de 26, tem justamente na segunda-feira o dia mais tranquilo da semana. Por isso aproveita para badalar. Frequentadora do Auto Espeto há um ano, ela acredita que a segunda tem suas vantagens. “Ao contrário de muita gente que acha que é um dia péssimo para sair, eu amo a segunda-feira. A gente começa a semana com outra energia. Não tem aquela muvuca do sábado e do domingo, as pessoas estão numa outra vibe. E aqui, particularmente, tem um clima bacana, gente interessante e música animada.”
Ramon Lisboa/EM/D.A.PRESS
A Casa de Cultura, no Bairro Santa Efigência, dedica as noites de segunda ao forró. "Quem gosta de dançar não liga se é segunda", diz proprietário (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A.PRESS)

A bióloga Renata Rocha, de 30, é outra que não abre mão de sair na segunda. Mesmo tendo que acordar às 5h da matina. “Começo na hora do happy hour e vou embora lá pelas 23h. É só não beber muito que dá para aproveitar muito bem. Se souber a maneira, é possível curtir a segunda-feira como qualquer dia”, afirma.

Mas para quem prefere um programa mais hard, mesmo no início da semana, também não faltam opções em BH. Os baladeiros de plantão tem à disposição há 24 anos uma das casas mais tradicionais da cidade, a Major Lock, no São Pedro. A segunda-feira sempre foi um dos dias que mais bombam na boate. Atualmente, os proprietários preferiram abrir nesse dia apenas durante temporadas. “A gente funciona nas férias, depois retoma em outubro, aí abre de novo em dezembro e janeiro. Ficou mais interessante. A segunda agora une dois eventos bem conhecidos do nosso público. O Dadinho, em que o cliente joga o dado com o garçom e, se tirar um número maior, leva uma cerveja de graça, e o Sino, em que sempre que o sino toca todo mundo tem direito a rodada dupla de alguma bebida”, conta Felipe Marreco, um dos sócios da casa.

Ele afirma que, de uns tempos para cá, muitos estabelecimentos têm tido dificuldades de se manter funcionando apenas com dois ou três dias de movimento na semana, e a segunda acaba sendo um coringa, já que nem todo lugar opta por abrir nesse dia. “Tem que inovar sempre, procurar atrair a clientela para vir na segundona, ainda mais em tempos de crise. A gente brinca que segunda-feira é sempre uma incógnita e é para guerreiro (risos). Difícil definir o público exatamente. Nas férias, tem muito universitário, mas geralmente temos muita gente que não é de BH e está na cidade a trabalho ou a passeio e quer sair na segunda. Seja você quem for, pode ter certeza de que alguma coisa muito especial vai lhe reservar a segunda”, assegura.

PROFISSIONAIS DO RAMO


Confira locais que oferecem atrações às segundas-feiras

» A AUTÊNTICA
(Rua Alagoas, 1.172, Savassi,
(31) 3654-9251 e (31) 99227-1275)
Autêntico Forró
Abertura da casa: 21h
Entrada: R$ 15 (antecipado/lista amiga) e R$ 20

» A CASA
(Rua Padre Marinho, 30, Santa Efigênia,
(31) 99753-2979)
Forró (hoje com Trio Gandaiera)
Abertura da casa: 22h
Entrada: R$ 12 (fem) e R$ 15 (mas)

» AUTO ESPETO
(Av. Dom Pedro II, 3.600, Caiçara,
(31) 3245-9414)
Vários tipos de música
Das 17h à 1h
Sem couvert ou 10%

» BAR DO SALOMÃO
(R. do Ouro, 895, Serra, (31) 9 8348- 6219)
Chorinho
Das 18h às 22h
Sem couvert

» DDUCK
(Rua Pernambuco, 1.316, Praça da Savassi,
(31) 3267-8472)
Funk
22h - 23h: mulher: R$ 15 e homem: R$ 25
23h - 0h: mulher: R$ 20 e homem: R$ 30
Após 0h: sob consulta

» MAJOR LOCK
(Rua Major Lopes, 729, São Pedro, (31) 99957-3757)
Balada
Abertura da casa: 22h
Entrada: R$ 10

» SAMBA DO ORLANDO
Praça do Bar do Orlando (Rua Alvinópolis, 460, Santa Tereza, (31) 3481-2752)
Das 19h30 às 23h
Sem couvert

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