Sempre um Papo completa 30 anos com mega encontro de autores em setembro

Para comemorar as três décadas de seu projeto, Afonso Borges almeja convidar escritores relevantes no mês do aniversário do programa

por Ana Clara Brant 03/01/2016 07:00
TULIO SANTOS/EM/D.A.PRESS
Afonso Borges (ao fundo) media encontro do escritor Xico Sá (Os machões dançaram) com o público, em edição do Sempre um Papo de novembro passado (foto: TULIO SANTOS/EM/D.A.PRESS)

Em 1986, Afonso Borges tinha 24 anos e se considerava um músico que fazia jornalismo. Foi quando teve a ideia de criar um projeto que aliava lançamento de livro com bate-papo. De maneira ainda amadora, convidou Frei Betto para a estreia. O local escolhido foi a antiga sede do La Taberna, na Rua Gonçalves Dias com Paraíba. Era o começo de uma empreitada que, em 2016, vai completar 30 anos e se consolidou como uma das iniciativas mais respeitadas de incentivo ao hábito da leitura do Brasil, promovendo a difusão do livro e seu autor, o Sempre um Papo.


“Era bem precário (no começo), e a gente tinha muita dificuldade de conseguir patrocínio. Os autores ficavam lá em casa, porque a gente não tinha condições de bancar hotel. Várias vezes, quando não tinha dinheiro, ia para o posto público da Telemig e comprava fichas para fazer interurbano, porque era muito caro na época. Nunca imaginaria que aquilo iria virar a minha vida”, diz Borges, que hoje acumula as atividades de produtor cultural, empresário e escritor.

Para celebrar as três décadas do Sempre um Papo, uma série de ações está sendo planejada. A abertura da temporada ocorre em fevereiro, com o lançamento do livro Felicidade foi-se embora?, que deve ter a presença de seus autores (Frei Betto, Leonardo Boff e Mario Sergio Cortella), embora o dia ainda não esteja definido. Em março, dentro das comemorações dos 45 anos da Fundação Clóvis Salgado, a convidada é a poetisa Adélia Prado. Para setembro, mês de criação do Sempre um Papo, a ideia é convidar os 30 autores brasileiros mais significativos desses 30 anos.

No La Taberna, onde deu os primeiros passos, o projeto permaneceu apenas por seis meses, migrando em seguida para o extinto Cabaré Mineiro, também na Rua Gonçalves Dias, esquina com Maranhão. “Tivemos encontros memoráveis ali. Lembro-me do Fernando Gabeira, da Ângela Gutierrez, que havia acabado de assumir a Secretaria de Estado de Cultura. Era um momento de abertura política, fim da ditadura e muito propício para a gente promover essas conversas e debates. O Sempre um Papo foi mudando de lugar de acordo com as possibilidades de patrocínio, mas o eixo sempre foi o Palácio das Artes. Nossos principais eventos ocorreram lá, como o de José Saramago, por exemplo”, cita Borges.

EXPANSÃO Além de Belo Horizonte, a iniciativa já esteve em outras 30 cidades e oito estados, além do Distrito Federal, onde teve a maior média de público de todo o projeto. Já houve edições também em Madri, na Espanha. Em Minas, a programação se estendeu a Araxá, Sete Lagoas, Ouro Preto, Ouro Branco, Congonhas, Itabirito, Moeda e Conselheiro Lafaiete.

Grandes nomes da literatura e da intelectualidade estiveram no projeto. Borges cita o Nobel peruano Mario Vargas Llosa, o norueguês Jostein Gaarder, o moçambicano Mia Couto e os brasileiros Darcy Ribeiro (1922-1997), Hélio Pellegrino (1924-1988), Fernando Sabino (1923-2004), Zélia Gattai (1916-2008), Thiago de Mello, Chico Buarque, Paulo Coelho, Fernanda Montenegro, Luis Fernando Verissimo, Zuenir Ventura, Gilberto Gil, Laurentino Gomes, Ruy Castro, Carlos Heitor Cony e Fernando Morais, entre outros.

“Ao longo desse tempo, o projeto foi se profissionalizando, mas até hoje a gente percebe que tem um nicho de mercado que não é devidamente explorado. O Sempre um Papo nunca mudou seu formato, que é alguém conversando com o público sobre sua obra. O que mudou foi a forma de divulgação. As mídias sociais facilitaram muito nesse processo”, avalia.

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