Festival Internacional de Quadrinhos começa nesta quarta e tem diversidade como uma de suas marcas

Nova edição confirma a presença cada vez maior das mulheres na criação

por Mariana Peixoto 11/11/2015 08:51
Reprodução
A norte-americana Gail Simone, roteirista de Mulher-Maravilha e Batgirl, marca presença no evento (foto: Reprodução)
Os quadrinhos são responsáveis por uma série de eventos Brasil afora. Tem alguns voltados para o público infantojuvenil, outros para o universo dos animês e dos super-heróis. Dando início hoje à sua nona edição, o Festival Internacional dos Quadrinhos (FIQ), que será realizado até domingo, na Serraria Souza Pinto, é o mais abrangente deles. Atende a todos esses públicos, mas também, e principalmente, àquele interessado no quadrinho autoral, independente e adulto.

Tanto por sua abrangência quanto por seu tamanho – são mais de 100 convidados –, ele não tem um tema único. Mas a diversidade e a questão de gênero, um debate caro à Fundação Municipal de Cultura, realizadora do festival, é um foco relevante desta edição. A presença das mulheres nas HQs, que vem crescendo graças à internet, também se reflete no FIQ, que pela primeira vez traz uma curadora: a gaúcha Ana Luiza Koehler, que divide a função com Daniel Werneck.

A programação oficial engloba exposições, encontros com artistas e oficinas. O baiano Antônio Cedraz, morto em setembro de 2014, aos 69 anos, é o quadrinista homenageado. Com uma obra extensa, que privilegiou o cenário e os personagens nordestinos, ele ficou conhecido com as histórias da Turma do Xaxado. Ganha exposição que reúne cinco desenhos originais, além de 48 artes realizadas por quadrinistas e caricaturistas.

“Ele fez um trabalho infantil, mas sempre com um ponto de vista crítico em relação ao Nordeste e à política da seca. Questionava a fome, os lucros governamentais com a seca e, ao mesmo tempo, mostrava a magia e a beleza de se morar no sertão”, afirma Lucas Pimenta, que assina a curadoria dessa exposição específica.

Cosplayers Outra mostra que deve chamar a atenção do público é a que leva o nome de Heroica. Cinco heroínas e vilãs dos quadrinhos – Mística, Feiticeira Escarlate, Psylocke, Elektra e Hera Venenosa – foram reinterpretadas por quadrinistas brasileiras: Estúdio Seasons, Mariana Cagnin, Priscilla Tramontano, Pri Wi e Laura Athayde. As personagens vão sair do papel e ganhar vida: cinco cosplayers, com as novas interpretações, vão circular pela Serraria.

As visões são bastante críticas, conforme explica a curadora Ariane Rauber. “Olhando como as personagens femininas são desenvolvidas, percebe-se pouca diferença entre elas. A visão tradicional é de que elas são criadas para agradar a um público masculino. Mas é possível ver uma mudança. O que as editoras antes acreditavam ser minoria –  por exemplo, público feminino adolescente –, agora se apresenta como um público numeroso e rentável, e nota-se uma estratégia de tentar atingi-los. A melhor referência desta nova fase é a nova Miss Marvel, uma heroína adolescente muçulmana, de pele escura, que usa camiseta e jeans como uma menina de sua idade. Ela se torna muito mais tangível e fácil de identificar.”

Uma das preocupações da curadoria foi não deixar a produção realizada por mulheres num nicho. “Que é o que ocorre em outros festivais”, diz Ana Luiza Koehler. “Nossa ideia foi tratar do assunto como se (as mulheres) não precisassem de um espaço especial, tanto que elas estão presentes em tudo”, acrescenta.

Gail Simone Quadrinistas estrangeiras de prestígio marcam presença no FIQ. Ana Luiza destaca a norte-americana Gail Simone, roteirista de Mulher-Maravilha e Batgirl, que em 1999 participou da criação do blog Women in refrigerators (Mulheres na geladeira), expondo a quantidade de personagens femininas que eram assassinadas e estupradas apenas para criar impacto na história dos protagonistas masculinos.

Outro nome de peso, de acordo com a curadora, é a alemã Birgit Weyhe – “que trabalha muito a questão política do feminino” – e a costa-marfinense Marguerite Abouet – “que faz um retrato da infância e adolescência na África muito diferente do que se vê na mídia, com personagens femininas muito fortes”.

Além dos eventos oficiais, a programação paralela é muito extensa, com sessões de autógrafos e encontros com quadrinistas. Um dos destaques é o lançamento da antologia O fabuloso quadrinho brasileiro de 2015. E há ainda ações fora da Serraria, como a feira Faísca, dedicada à produção gráfica independente (no sábado, debaixo do Viaduto Santa Tereza) e o Festival Traço, que reúne bandas e desenhistas em apresentações conjuntas (sexta e sábado, no Sesc Palladium).

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