BH recebe hoje a 20ª edição do FID com forte presença de mulheres no palco

Programação inclui debates e prossegue até o próximo dia 28

por Walter Sebastião 02/11/2015 07:00
Domitille Chaudieu/Divulgação
Cena e 'La part du rite', da coreógrafa francesa Latifa Laâbissi, que apresenta também no FID o espetáculo 'Adieu et merci' (foto: Domitille Chaudieu/Divulgação)

O espetáculo 'Ha!', da marroquina Compagnie O, que abre a 20ª edição do Festival Internacional de Dança (FID), hoje, em Belo Horizonte, é de tirar o fôlego. O aviso vem da belga Dorothé Depeauw, diretora artística e coordenadora de produção do festival. No palco, segundo Dorothé, cinco mulheres valem-se da voz para tratar do tema da loucura por meio da expressão corporal. E põem em discussão os lugares dos sentimentos, das obsessões, dos temores e dos modos de ver, viver e entendê-los. “O que está em cena é a outra pessoa que cada um tem dentro de si e, muitas vezes, teme”, diz a coordenadora. A montagem é inspirada em textos do poeta sufi do século 13 Jalal Ad-din Rumi.


As mulheres no palco são uma das marcas do FID 2015, assim como a abordagem de temas políticos, observa Dorothé. Segundo ela, essas características estão presentes na edição deste ano do festival menos por uma decisão deliberada da curadoria e mais por serem questões candentes do momento. “Não selecionamos as montagens por tratar de um tema, mas pela relevância de cada realização e buscando o que o público precisa conhecer”, conta. “Quanto mais variados forem os ingredientes para o preparo de uma comida, maiores são as chances de a comida ficar mais gostosa”, compara.

Nilmar Lage / Divulgação
A companhia de Ipatinga Hibridus Dança participa do festival com a apresentação de quatro solos (foto: Nilmar Lage / Divulgação)

VISIBILIDADE O FID oferece também atenção especial à produção local. “Existem trabalhos importantes em Belo Horizonte que são pouco conhecidos e ficam sem visibilidade”, avalia a diretora artística. Para tentar diminuir essa lacuna, o festival convida curadores e diretores de outros eventos de dança para virem a Belo Horizonte conhecer as montagens locais. Com poucos incentivos financeiros e pequena visibilidade, muitos artistas e grupos de dança acabam tendo que manter uma segunda atividade em paralelo para sobreviver. “Isso tira tempo e foco, que são essenciais à criação”, diz Dorothé.


São também fatores contrários ao amadurecimento da produção da cidade o fato de haver poucas oportunidades para apresentar os trabalho, público reduzido e ausência de crítica. A consequência de tal contexto é a “qualidade superficial” de muitas peças. “Nós, da dança, nem somos reconhecidos como profissão”, diz a coreógrafa, defendendo a necessidade de enfrentar essa questão. Até porque essa situação faz com que profissionais expostos a riscos – “Muitas vezes nos machucamos”, diz ela – não contem com direitos trabalhistas, sejam os ligados à saúde ou à aposentadoria.


Esta 20ª edição do FID prevê a realização de uma mesa para discutir políticas públicas para a área de dança. A Associação Dança Minas vem lutando, entre outros objetivos, pelo reconhecimento da profissão e por mais incentivo para a área.



Temporada de festivais

A agenda cultural de Belo Horizonte registra neste mês ao menos três outros festivais, além do FID, que começa hoje. Na próxima quarta-feira, o Festival Internacional de Teatro de Bonecos dá a partida em sua 15ª edição, com a abertura de exposição de 250 fotos que traçam uma retrospectiva das edições passadas. As imagens são assinadas por Guto Muniz, e a mostra fica em cartaz até o próximo dia 22, no CCBB. As apresentações dos cinco espetáculos internacionais e dos três nacionais selecionados para esta edição ocorrem entre os dias 11 e 22.


Já o FIQ (Festival Internacional de Quadrinhos) ocorre entre os dias 11 e 15, na Serraria Souza Pinto. Tendo o baiano Antonio Cedraz como homenageado desta sua nona edição, o FIQ promove exposições, oficinas e lançamentos, além de sediar, pela segunda vez, uma rodada de negócios, em parceria com o Sebrae.


No fim do mês, entre os dias 25 e 29, o FAN (Festival de Arte Negra) realiza sua 20ª edição e promete um encerramento em grande estilo, com a presença dos baianos do Ilê Aiyê capitaneando um cortejo seguido de encontro de blocos do qual devem participar Baianas Ozadas, Afoxé Bandarerê, Tambolelê, Fala Tambor e Magia Negra.

 


 

 

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