Jô Bilac celebra uma década de carreira com sete peças pelo país

Dramaturgo profissional já soma 21 textos montados. BH recebe na próxima semana 'Infância, tiros e plumas'

por Carolina Braga 08/08/2015 07:00

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 LUZ COMUNICAÇÃO/DIVULGAÇÃO
Cena de 'Infãncia, tiros e plumas', texto de Jô Bilac, cuja montagem por Inez Vianna estreia em BH na próxima semana (foto: LUZ COMUNICAÇÃO/DIVULGAÇÃO )

Jô Bilac, de 31 anos, completará 10 anos de carreira como dramaturgo profissional no ano que vem. Um passar de olhos pelo currículo do rapaz faz recordar a relatividade do tempo. Ele soma 21 peças lançadas desde 2006, sete delas estão em cartaz neste momento no Brasil. São montagens protagonizadas tanto por atores veteranos (como Marco Nanini), como por colegas de escrita, como Mário Bortolotto e sua Cia Cemitério de Automóveis, assim como obras escolhidas pelos formandos da tradicional escola de teatro Martins Pena, no Rio de Janeiro.


O ritmo de produção e, principalmente, a qualidade do que escreve são características que fazem de Jô Bilac um dos nomes mais incensados da dramaturgia contemporânea brasileira. 'Infância, tiros e plumas', seu texto mais recente, estreia em Belo Horizonte na próxima sexta, no Centro Cultural Banco do Brasil, em montagem da Cia OmondÉ. A direção é de Inez Vianna.

No mês passado, Bilac também frequentou a agenda cultural da cidade com 'Amanda', solo protagonizado pela atriz Rita Clemente. Do mesmo autor, a mineira dirigiu em 2012 'Delírio e vertigem', espetáculo com os formandos do Oficinão do Galpão Cine Horto. Ainda passaram pela cidade no último ano 'Beije minha lápide' (2014) e 'Conselho de classe' (2013), com a Cia dos Atores – ambos textos dele.

“Estou escrevendo há muito pouco tempo. Faço parte do movimento que ainda busca entender como produzir dramaturgia hoje”, afirma. Bilac é um dos fundadores e integrantes da Cia Teatro Independente, do Rio de Janeiro. Depois de se tornar conhecido na nova cena carioca, ele fez as malas e se instalou em São Paulo há quase um ano e meio. Abandonar zonas de conforto para ampliar a comunicação com o outro é algo que sempre procurou fazer. “Tive uma criação muito intercontinental. Por causa disso, percebia as diferenças. Comecei a prestar atenção naquilo que poderia nos aproximar.”

Filho de pai indiano e mãe brasileira, Bilac passou a primeira infância em Madri. Foi em solo espanhol, e graças a uma babá que fazia as vezes de professora de português, que percebeu o gosto pela escrita. “A gente treinava muito, e fui pegando o gosto. Durante muito tempo, pensei que fosse entrar para a literatura. Mas, na adolescência, me encantei pelo teatro”, conta.

Tinha 19 anos quando rascunhou 'Sangue em caixa de areia', seu primeiro texto, já vivendo no Rio de Janeiro. Como a escola de dramaturgia nunca foi o forte por aqui, resolveu fazer as vezes de ator para conhecer mais do universo teatral. Entrou para o curso de artes cênicas da Martins Pena e, desde a formatura, em 2005, nunca mais pisou em um palco como intérprete. 'Bruxarias urbanas' (2006) é considerada a estreia profissional.

FUTEBOL Fã de futebol, Jô Bilac não vê tanta diferença entre uma boa partida e uma dramaturgia redonda. “O jogo bom não é aquele que seu time ganha de lavada. É quando você vê que está todo mundo suando, participando, interessado. Para mim, é o que define um bom texto: aquele que pode proporcionar o jogo entre os atores, o espetáculo e o público. Um bom texto parte de uma boa provocação”, afirma.

Fábrica de Imagens / Divulgação
O dramaturgo Jô Bilac (foto: Fábrica de Imagens / Divulgação)
O dramaturgo diz que procura não se prender a fórmulas prontas ou padrões de criação. “Cada trabalho determina uma dinâmica. Prefiro me deixar levar.” Conselho de classe era um tema sobre o qual ele gostaria de falar. Bateu na porta da Cia dos Atores fazendo a oferta. De Marco Nanini, recebeu a encomenda de criar algo relacionado ao universo do escritor Oscar Wilde. O resultado foi 'Beije minha lápide'.

Cada peça é um caso diferente. Para escrever 'Infância, tiros e plumas', a quarta da carreira da Cia OmondÉ, Bilac embarcou na proposta do elenco, formado por 11 atores. Todo o espetáculo se passa dentro de um aeroporto e de um voo que está a caminho da Disney. Nas entrelinhas, é uma peça sobre a decadência humana. Se é que existe um padrão naquilo que escreve é o interesse constante pelo conflito do social com o individual. “A natureza humana é contraditória e acho que essa condição está nos textos desde 'Rebu' (2009).”

O teatro, na visão do dramaturgo, é a resposta ao reflexo daquilo que está ocorrendo na sociedade. “Não é o espelho. Acho que quebra o espelho. É mais forte. Não só representa, mas coloca uma opinião. Provoca uma experiência e é por isso que o teatro existe até hoje e resiste.” É o efêmero que lhe interessa. “Todo dia parece que é igual, mas é diferente. É como a vida”.

Edição de textos ainda engatinha

Os textos de Jô Bilac são daquele tipo que o espectador sai da sala de espetáculos à procura do livro para levar para casa. No entanto, poucos ganharam a versão impressa. “É um movimento que tenho provocado nas produções. É muito difícil para o autor estar nessa sozinho”, diz. Até hoje, foram publicados 'Conselho de classe' (2013), 'Alguém acaba de morrer lá fora' (2011) e 'Infância, tiros e plumas' (2015), este por iniciativa da diretora Inez Vianna.


Todas as vezes em que vai a um espetáculo e recebe uma bem cuidada – e aparentemente cara – versão do programa, Bilac diz lamentar a dificuldade de se publicar dramaturgia. “Por que não publicou o texto, gente? As produções ainda continuam a gastar uma grana para fazer o programa, que só interessa aos jornalistas. Um livro pode ter todas as informações”, diz.


NAMORO COM A TV

Apesar de não ter dúvidas de que seu lugar é no teatro, Jô Bilac também flerta com a televisão e com o cinema. Foi um dos roteiristas da série 'Vizinhos', exibida pelo canal a cabo GNT, e atualmente trabalha na adaptação da peça 'Limpe todo o sangue antes que manche o carpete' (2008) para o cinema. A direção será de Valentina Homem. “Ela é documentarista, e o desafio nasceu justamente disso: queria saber que tipo de filme pode surgir desse encontro”, conta. Estão confirmadas no elenco as atrizes Taís Araújo e Drica Moraes.

'Infância, tiros e plumas'

De 14 de agosto a 7 de setembro. Sexta, sábado e segunda, às 20h; domingo, às 19h. CCBB (Praça da Liberdade, 450, Funcionários, (31) 3431-9400). R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).

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