Mascaro conta como decidiu abandonar a arquitetura para se tornar fotógrafo

Ele explica sua paixão por registrar cidades e o hábito de andar pelas ruas, que cultiva desde criança

por Walter Sebastião 03/05/2015 11:21

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Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press
O fotógrafo Cristiano Mascaro, em Belo Horizonte. Ao fundo, projeção de uma de suas fotografias da série realizada em Tóquio (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press )

Foi fugindo de aulas da disciplina resistência de materiais, em que não entendia nada, durante o curso de arquitetura, que o paulista Cristiano Mascaro, de 70 anos, caiu na biblioteca da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU/USP). Tirou um livro ao acaso das prateleiras do setor de fotografia e viu fotos do cotidiano, diferentes das imagens do pôr do sol ou de guerras que ele conhecia. “Chamou-me a atenção o modo de transformar o mundo pelo olhar”, recorda. O livro era Images à la sauvette, de Henri Cartier-Bresson.

“Peguei a câmara de meu irmão e fiz uma viagem de trem ao Peru, muito comum entre colegas da minha geração. Fui fotografando tudo. Na volta, mostrei as fotos para os colegas. Eles elogiaram, e eu acreditei”, brinca Mascaro. E não parou mais. Passou, a partir de 1966, por redações das principais revistas brasileiras. “Aprendi a fazer foto na marra, cumprindo pauta”, explica. Desde metade dos anos 1970, vem se dedicando ao trabalho autoral. É um dos mais importantes fotógrafos brasileiros em atividade.

Um conjunto de fotos realizadas entre 1975 e 2013 está no livro Cristiano Mascaro, da Coleção Ipsis, organizada por Eder Chiodetto, dedicada à fotografia brasileira (e feita no Brasil). “É um livro precioso para mim”, diz. E enumera os motivos: mostra o percurso trilhado até agora, depois de deixar a atividade de repórter. É um volume com padrão de excelência, no que se refere à impressão de fotos em preto e branco, o que é raro.

Estão no livro ainda, explica, temas caros à sua produção: a cidade, a arquitetura, o interior das moradias, retratos, detalhes de situações urbanas. “Rever o que você fez traz ideias para continuar certos trabalhos. Mas, sobretudo, permite descobertas de coisas que, na primeira visão, foram desprezadas.”

Ele exemplifica: uma foto de um paredão deteriorado, que foi deixada de lado num trabalho feito para o relatório de banco, por não se enquadrar no clima positivo que a encomenda pedia, acabou sendo capa de outro livro sobre cidades. “Há contextos que renovam a forma de ver a foto.” Em seu novo livro, há fotos de 2013 de muros e paredes corroídos pelo tempo. “Sei que é pretensioso querer tornar extraordinário coisas ordinárias, mas é isso que me move”, afirma. Os registros de cidades traduzem, segundo diz, sua admiração pela vida urbana e as edificações. “A cidade, mesmo quando desumana, é humana. Para o bem ou para o mal, é o melhor lugar para morar. O ser humano foi morar na caverna porque estava de saco cheio de chuva na cabeça.”

Ele começou seus registros de cidades fotografando o bairro onde morava, o Braz, na capital paulista. Surpreende-se, ainda hoje, com tempos em que ele batia na porta da casa das pessoas, pedia para fotografar o interior da casa, e (“incrível!”), elas permitiam.

Em Ouro Preto, foi atendido por uma empregada que, antes de autorizar a foto, foi ao quintal e trouxe um bouquet de copos-de-leite para colocar num vaso. “As coisas que as pessoas têm na casa delas são também um retrato delas”, avalia Mascaro.

CAMINHADAS A prática de andar pela ruas ele cultiva desde criança, quando a família, trocou o interior pela capital. Mascaro nasceu em Catanduva e aos 5 anos se mudou para São Paulo. Ele se viu fascinado por prédios, bondes e a vida da metróple. “Cidade não é só o contruído, existem as pessoas”, acrescenta, vendo nas populações a alma dos lugares.

“A arquitetura representa conhecimento humano”, afirma Mascaro, lembrando que processos construtivos, materiais, projetos, indicam saberes, às vezes centenários, condensados em um prédio. O que leva o paulista a falar tanto em retratos das cidades quanto especialistas a verem nos retratos de Mascaro estrutura arquitetônica.

Atualmente, Mascaro anda fazendo fotos para um personagem ilustríssimo: o escultor norte-americano Richard Serra. Viajou ao Catar, a pedido do artista, para fazer registros das obras que Serra fez por lá.

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