Mostra de Guilherme Cunha no metrô revela rostos dos moradores do Aglomerado da Serra

Exposição de fotos retrata pessoas que ajudaram a escrever a história real da região

por Ana Clara Brant 09/12/2014 07:00

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Guilherme Cunha/Divulgação
(foto: Guilherme Cunha/Divulgação)
Na semana em que Belo Horizonte completa 117 anos, na sexta-feira, a população tem a oportunidade de conhecer a história de um lugar que faz parte das raízes da cidade, mas que nunca teve o destaque merecido. O trabalho 'Memórias da vila – História dos primeiros moradores do Aglomerado da Serra' é resultado de um projeto de resgate da memória oral e visual das seis vilas e comunidades que integram o maior aglomerado de BH, e que vem sendo desenvolvido desde 2010 pelo artista visual e fotógrafo Guilherme Cunha.

Parte dessa iniciativa é o ensaio fotográfico inédito, com 30 imagens de moradores do Aglomerado da Serra, que vai ocupar a partir de amanhã – até o dia 30 de abril de 2015 – as estações Central, Calafate e São Gabriel do metrô da capital. “Há quatro anos, participei de uma ação em BH chamada Maratona fotográfica, cuja proposta era construir um processo de reflexão poética sobre a cidade. Fiquei pensando em como conhecer Belo Horizonte. Não era apenas sair andando pelas ruas, mas buscar suas origens, entender as complexidades, os embates sociais, as diferentes visões de mundo”, analisa Guilherme.

Desenvolvendo um trabalho voluntário numa associação que auxilia pessoas na região do Cafezal, ele decidiu unir as duas pontas de seu trabalho. Durante quatro anos de visitas e encontros, o fotógrafo teve contato com histórias, expectativas e visões de mundo de mais de 40 moradores da região. A partir de registros fotográficos e recolhimento de relatos, o artista decidiu colaborar para o resgate de um patrimônio imaterial da população belo-horizontina.

“Descobri um potencial histórico muito interessante ali. Gente que ajudou a construir a capital. Como você vai entender a cidade sem entender a favela? Isso faz parte da nossa vida como pessoa. Não estamos fazendo nada técnico, nenhum levantamento histórico, mas queremos ampliar esse sentimento de identidade da cidade e incluir essas pessoas que estão lá”, frisa o fotógrafo.

Mesmo frequentando a região há 12 anos, por conta do trabalho social, Guilherme Cunha revela que ficou impressionado com as histórias que ouviu. Para chegar aos personagens retratados, contou com a colaboração de uma moradora local, Kelly Cristina, que se tornou seu braço direito nesse esforço de resgate da memória oral e visual da região.

“A maioria desses indivíduos nunca foi à escola e são analfabetos; outros viveram em situações de semiescravidão, porque vieram do interior e se contentavam em morar e trabalhar em qualquer lugar. Tinha uma senhora que me contou que amassava jornal com água quente e dava para os filhos para enganar a fome. Fora a luta de vários para conseguir o que parece ser trivial, como uma rua calçada, água encanada e saneamento básico. Histórias que estão aqui do nosso lado e que parecem invisíveis ou localizadas apenas no passado distante. Esta é também a nossa história”, destaca.


Voz e imagem

O ensaio fotográfico que estará nas estações do metrô não terá a identificação dos personagens e nem de suas histórias. Serão apenas as fotografias em grandes painéis. Como forma de tornar disponíveis e acessíveis a memória e as narrativas dos primeiros moradores das comunidades visitadas – um desejo manifestado pelos integrantes da Associação Comunitária Vila Santana do Cafezal, que se envolveram com o projeto –, os depoimentos e imagens reunidos durante o trabalho de campo serão compilados em uma publicação, realizada em parceria com a jornalista Joana Tavares.

Atualmente em fase de produção, o livro será lançado em 2015. “A foto é a história visual daquela pessoa, é o rosto por trás da palavra. A exposição é uma prévia, para revelar essas pessoas aos milhares de habitantes da cidade que embarcam diariamente nas estações de metrô. Mas no livro o registro será bem mais completo e rico e, possivelmente, teremos material para uma segunda publicação”, planeja.

Guilherme, que é um dos criadores e diretores do Festival Internacional de Fotografia (FIF), revela que maior lição de 'Memórias da vila' é a carga de humanidade e de generosidade que as pessoas do Aglomerado da Serra carregam. Ele espera que seu trabalho possa transmitir o que ele sentiu. “Principalmente nos dias de hoje, quando vivemos esse esvaziamento de sentidos, há ali um reerguer dos valores, uma generosidade oculta e anônima. Isso foi o mais impressionante para mim”, resume.

Memórias da Vila – História dos Primeiros Moradores do Aglomerado da Serra

Fotografias de Guilherme Cunha. De amanhã a 30 de abril de 2015. Diariamente das 5h15 às 23h, nas seguintes estações do metrô:
. Estação Calafate, Rua Extrema, 120, Calafate
. Estação São Gabriel, Av. Cristiano Machado, 5.600, Bairro São Paulo
. Estação Central, Praça Rui Barbosa, s/nº, Centro

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