Autor de peças de sucesso, Wesley Marchiori começou a escrever aos 18 anos

Mais de um milhão de pessoas já assistiram aos espetáculos do escritor

por Walter Sebastião 07/12/2014 00:13

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Marcos Michelin/EM/D.A Press
"Meu maior prazer é quando abre acortina e vejo personagens saltarem do papel para a vida no palco" (foto: Marcos Michelin/EM/D.A Press)
“Meu trabalho é servir o público”, afirma Wesley Marchiori, mineiro de Belo Horizonte, de 39 anos, que vive e trabalha na cidade. O nome pode ser pouco conhecido, mas são dele comédias que estão entre as mais vistas em BH. Exemplo: As barbeiras. Está é apenas uma das sete peças do autor em cartaz, algumas na capital, outras no interior. São elas: Amar é uma comédia, Ainda te pego, Por acaso não caso, Cada um tem a sogra que merece, Feliz cidade, Uma aventura saborosa. “E tem ainda as infantis”, observa.

O escritor nem se esforça para confirmar com números a enorme popularidade de suas peças. Apenas recorda que As barbeiras já chegou aos 500 mil espectadores. E que Na virada do sexo, em cartaz desde 2000, atingiu público de 200 mil pessoas. O que, somado à boa recepção de Vexame e Se os homens são todos iguais por que as mulheres escolhem tanto?, supera facilmente a marca de 1 milhão de espectadores. Nos últimos anos, ele tem mantido média de cinco espetáculos em cartaz durante a Campanha de Popularização de Teatro e Dança.

Destino

Wesley Marchiori, que se forma em letras pela UFMG este ano, conta que, apesar de ter começado como ator no Teatro Universitário, sempre soube que escrever peças era o destino dele. “Criança, já criava enredos e cenários ao brincar com meus bonecos do Comandos em Ação”, observa. Começou na atividade aos 18 anos, com As barbeiras, escrito para Dilson Mairon, mas que ficou por anos inédita. Foi com evocação ao teatro de revista, Alo Alo Brasil, de 1997, que viu seu texto montado pela primeira vez. “E espalhou-se no meio de teatro que havia um novo autor de comédias na cidade”, recorda. Daí em diante, ele não parou mais.

“Meu maior prazer é quando abre a cortina e vejo personagens saltarem do papel para a vida no palco”, conta Wesley Marchiori. “Não sento na primeira fila, para não travar quem está fazendo a montagem”, observa. Ele não é de ficar fiscalizando ou patrulhando a encenação, mas não gosta que fiquem acrescentando falas improvisadas no que escreveu. “Minha dramaturgia é limpa, ninguém precisa ficar adaptando o que escrevi. Diretor e ator são coautores, mas como diretor e ator. É montagem de um texto meu, não espetáculo baseado em um texto meu”, afirma.

“Sou feliz como autor. Ao longo do tempo, encontrei diretores que valorizaram o que escrevi”, conta Marchiori. E cita alguns: Kaluh Araújo, Inez Peixoto, Marco Amaral, Carlos Gradin. “Sou exigente comigo, mas não inseguro. Sei onde quero chegar: ao íntimo do espectador, fazer com que ele saia do teatro falando do que viu”, afirma. “A autocrítica faz com que você se prepare muito para cada texto que vai escrever”, garante. Há um ano, ele vem se preparando para escrever um musical. “Como é algo novo, tenho que pesquisar muito”, observa.

Debate

Por ser leitor voraz, “e considerando que precisava entender melhor a palavra”, Wesley Marchiori decidiu estudar letras na UFMG e está finalizando o curso. “Já estudava literatura, mas não tinha com quem debater. A universidade está me oferecendo essa possibilidade”, conta. Com relação aos autores que admira, cita os brasileiros Mauro Rasi e Nelson Rodrigues e o espanhol García Lorca. Eleitos por serem autores que colocam em cena o tempo presente (em obras que têm também aspectos atemporais), com personagens bem-construídos e boa técnica teatral.

“Admiro também Sérgio Abritta. Foi meu padrinho. Como eu, escreve drama e comédia, vive e trabalha em Belo Horizonte. Ouvi muito os conselhos dele. Um dia, ainda vamos escrever uma peça a quatro mãos”, conta Wesley Marchiori. “Fui muito estimulado a escrever por atores e produtores. Sem eles, minha carreira não seria nada”, afirma. No momento, ele experimenta “frio na espinha”: até janeiro de 2015, vai ser lançado seu primeiro romance, Se os homens são todos iguais por que as mulheres escolhem tanto?, versão de peça homônima. “Já li umas 100 vezes e revisei umas 400. Estou me sentindo como quando escrevi a primeira peça”, brinca.

Público para a comédia e o drama


.  Comédia – “Existe preconceito contra a comédia, mas eu ignoro. Tem sempre cinco para criticar e 5 mil para aplaudir. Vou dizer que os cinco estão certos e os 5 mil, errados? Tenho amigos que só fazem peça cabeça, que eu gosto muito. Mas ouço eles dizendo que o predomínio da comédia, na campanha de popularização, está acabando com o teatro; faço questão de discutir essa opinião. Do mesmo modo que também discuto e não aceito ver o pessoal da comédia chamando o teatro experimental de angu com angústia. Gosto das duas famílias. Seria chato se o teatro fosse uma coisa só. Há publico para as duas coisas, só que a comédia tem mais espaço e é mais popular.”

.  Dramas  – ‘‘Não só ganho dinheiro com teatro mas também gasto dinheiro com teatro, banco algumas coisas. Não faço apenas entretenimento, acredito em teatro autoral, com questões filosóficas, existenciais, de questionamento, no qual o essencial é a arte, e não o riso. É outro olhar. Sou estudante de teatro, não trabalho só para colocar comida em casa. Tenho compromisso com a linguagem do teatro, com a arte, tenho coisas a serem ditas que precisam de texto mais aprofundado, que permita chamar o público para discutir certos temas de forma igualmente mais aprofundada.”

.  Dramaturgia – “Teatro é arte coletiva, exceto a dramaturgia, que é solitária, exige silêncio, um mergulho em si mesmo. Trabalho à noite, sem ter horário para parar. A cidade está mais tranquila, a internet, mais rápida, o telefone não toca, a casa vazia inspira mais. Não é só escrever, tem leitura, pesquisa. Meus textos falam da vida, de ciúmes, desejos, sonhos, paternidade, amizade, família, de gente. As peças não têm manual, deixo o espectador livre para tirar as conclusões dele. Escrever é sempre o prazer do risco, não há fórmulas para fazer sucesso. Você nunca sabe o que vai ser. Pode ser que gostem, que não gostem, que só a metade do público goste.”

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