Lira Neto lança em Belo Horizonte o terceiro volume da biografia de Getúlio Vargas

Jornalista destaca a astúcia e as contradições do estadista que mudou a cara do Brasil

por Carlos Herculano Lopes 27/10/2014 07:00

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Leandro Couri/EM/D.A Press
Lira Neto defende que suicídio de Vargas gerou comoção popular que adiou o golpe civil-militar no Brasil por 10 anos (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Mais importante político brasileiro do século 20, a vida e trajetória de homem público do gaúcho Getúlio Dorneles Vargas, que em 24 de agosto de 1954 deu um tiro no coração, consumando uma das maiores tragédias da história do país, já foram motivo de vários livros. De todos, provavelmente, os mais importantes são os do historiador e jornalista cearense Lira Neto.

Lançados pela Editora Companhia das Letras, os volumes 'Getúlio, 1882-1930, dos anos de formação à conquista do poder'; 'Getúlio, 1930-1945, do governo provisório à ditadura do Estado Novo'; e 'Getúlio, 1945-1954, da volta pela consagração popular ao suicídio' compõem a mais completa biografia sobre o político brasileiro. O autor conversa hoje com o público de BH, sobretudo sobre o terceiro volume de sua obra, dentro da programação do Sempre um Papo

Para Lira Neto, é impossível definir Getúlio Vargas em uma única frase. “Ele era um homem ambíguo, contraditório, permeado de ambivalências. Tinha a capacidade de seduzir e, por vezes, cooptar adversários. Era um hábil negociador, um político astuto, que sabia usar da afabilidade para desconcertar e desarmar o interlocutor mais ríspido. Ao mesmo tempo, quando exerceu o poder na condição de ditador, agiu com mão de ferro para silenciar a oposição e as vozes dissonantes”, diz.
 
Se nos dois primeiros volumes o biógrafo esmiuçou a vida do caudilho, de seu nascimento em uma fazenda em São Borja, no interior do Rio Grande do Sul, em abril de 1882, à tomada do poder em 1930, no terceiro livro ele trata da última fase da vida do estadista. Aborda em detalhes a volta gloriosa ao Palácio do Catete, pelo voto direto, em 1950, chegando ao desenlace trágico, com o suicídio, em 1954. De acordo com Lira Neto, no auge da tensão, Getúlio já vinha conversando com Tancredo Neves sobre a necessidade de abrir a campanha sucessória, como forma de impor nova pauta à imprensa e tirar o foco da crise.

“Falou, textualmente, que seu candidato em potencial seria o então governador de Minas, Juscelino Kubitschek. A morte trágica do presidente impediu que o golpe civil-militar, que estava em plena execução naquele mês de agosto, fosse abortado. Os udenistas, junto com os generais, brigadeiros e almirantes, que já se julgavam donos do poder, tiveram que retroagir diante da grande comoção popular que tomou conta do país”, afirma o biógrafo. JK acabaria sendo eleito, ainda na esteira da mesma mobilização, e seu maior cabo eleitoral foi o impacto provocado pelo gesto extremo de Vargas.

Também no terceiro volume, Lira Neto transcreve a lendária “Carta testamento”, que teria sido esboçada por Vargas e reescrita pelo amigo José Soares Maciel Filho. Para Lira Neto, que também é autor das biografias de Padre Cícero, José de Alencar e da cantora Maysa, Getúlio Vargas, ao dar um tiro no peito, não teria cometido um gesto de fraqueza e covardia. “A autoimolação de Getúlio o tornava um mártir e, para o imaginário coletivo nacional, um símbolo heroico de resistência”.


Três tempos

Legado

“Getúlio deixou ao país, no mínimo, dois grandes legados. Um, os frutos de seu projeto nacional-desenvolvimentista. O outro, a legislação trabalhista. Ressalte-se que o trabalhismo não foi uma concessão de um pai magnânimo. Foi uma conquista histórica da classe trabalhadora, do sindicalismo livre dos anos 1920, que pressionava patrões e governos por direitos e pelo devido equilíbrio na relação entre capital e trabalho. Getúlio teve a astúcia e a sensibilidade histórica de perceber isso.”

Suicídio

“O desfecho da história de Getúlio foi a crônica de uma morte anunciada. Entre 1930 e 1954, ele escreveu pelo menos cinco cartas de despedida, anunciando o suicídio, sempre que confrontado com situações-limite. Portanto, ele vinha meditando longamente, durante anos, sobre a força e eloquência do seu gesto. Um gesto que, sem dúvida, mudou a história do Brasil.”

Posteridade

“A atual dicotomia que vive o país tem origem na era Vargas. O confronto entre dois projetos distintos de poder nasceu naquele momento. De um lado, os que acreditam no papel do Estado intervencionista como indutor do desenvolvimento, agente de políticas públicas de redistribuição de renda e de redução das desigualdades sociais. De outro, os adeptos do chamado Estado mínimo, crentes de que a mão invisível do mercado dará conta de todos os problemas que afligem um país tão injusto e desigual como o nosso.”

Getúlio, 1945-1954
Lançamento do livro e bate-papo com Lira Neto. Hoje, às 19h30, no Auditório do Hospital Mater Dei, Rua Gonçalves Dias, 2.700, Barro Preto, BH, no Projeto Sempre um Papo. Entrada franca. Informações: (31) 3261-1501.

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