Museu da Inconfidência apresenta obras do russo Dimitri Ismailovitch em Ouro Preto

Apóstolos da 'Santa Ceia' se inspiram nas esculturas do gênio do barroco. Exposição tem entrada franca

por Walter Sebastião 17/10/2014 00:13

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 Mariza Lima/divulgação
'Santa Ceia': apóstolos trazem feições de esculturas criadas pelo artista mineiro Antônio Francisco Lisboa (foto: Mariza Lima/divulgação)
Na década de 1920, o pintor e desenhista russo Dimitri Ismailovitch desembarcou no Brasil. Três anos depois de chegar, ele já estava à vontade no ambiente modernista, participando de exposições que propagavam a nova estética. Por influência de amigos brasileiros, veio a Minas atrás de um artista que eles adoravam: Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. O russo viajou por Ouro Preto, Congonhas e outras cidades coloniais para conhecer o legado do mestre do barroco. Admirado, pintou a 'Santa Ceia', em 1945, com figuras de apóstolos inspiradas nas esculturas do mineiro.

“Dimitri Ismailovitch foi um outro descobridor de Aleijadinho”, afirma Margareth Monteiro, curadora da mostra que será aberta hoje, em Ouro Preto. E destaca: a reverência do russo a Antônio Francisco Lisboa se deu numa época em que a obra do escultor estava praticamente esquecida.

Quem for à Sala Manoel da Costa Athaide, no Museu da Inconfidência, verá a Santa Ceia de Ismailovitch, estudos de aspectos de esculturas de Aleijadinho e 13 paisagens de cidades coloniais. O russo perambulou por Minas Gerais durante cerca de 20 anos.

Para Margareth Monteiro, a minúcia com que Ismailovitch desenha e observa as peças de Aleijadinho traduz a admiração vinda de um homem com sólida formação artística, estudioso da arte antiga. “Naquelas imagens está um olhar que analisa com acuidade realista o estilo, o movimento e o sentimento das obras de Aleijadinho. Nesse sentido, é um outro tipo de documentação”, explica. Até a moldura da 'Santa Ceia', feita pelo escultor Kamina Gai, segue a estética barroca e remete às volutas da arquitetura do século 18.

Ano passado, a exposição 'A Santa Ceia de Ismailovitch' foi apresentada no Museu Villa-Lobos, no Rio de Janeiro. Entre as peças está a pintura (um tríptico) que traz o pintor e seu amigo, o compositor Heitor Villa-Lobos, em blocos carnavalescos cariocas.

As peças pertencem ao colecionador carioca Eduardo Cavalcanti, que há uma década vem reunindo obras de Ismailovitch, amigo de seu pai.


Da Ucrânia ao Rio

Dimitri Ismailovitch nasceu na cidade ucraniana de Satanov, em 1890, e morreu em 1976, no Rio de Janeiro. Em 1918, ingressou na Academia de Belas-Artes da Ucrânia e depois estudou arte bizantina e persa em Constantinopla. Dimitri desembarcou no Brasil em 1927. Tornou-se amigo do escritor Graça Aranha, que o apresentou a intelectuais brasileiros.

O russo participou do Salão Revolucionário, realizado em 1931 na Escola Nacional de Belas-Artes, no Rio de Janeiro. Notabilizou-se como retratista, mas pintou abstrações, paisagens, naturezas-mortas e arte sacra, além de se dedicar a estudos etnográficos e à documentação da flora.

Obras de Ismailovitich estão no Museu Pushkin (em Moscou, na Rússia), no Harvard Art Museum (em Cambridge, nos EUA) e na Bibliothèque Nationale de France (em Paris). No Brasil, há trabalhos dele na Pinacoteca do Estado de São Paulo e nos museus Nacional e de Belas-Artes, ambos no Rio de Janeiro.


Vem aí: Coppola


O Museu da Inconfidência anuncia outra exposição sobre Aleijadinho. Em dezembro, a instituição
ouro-pretana receberá mostra de fotos do argentino Horacio Coppola (1906-2012). O evento vai encerrar as homenagens ao bicentenário de morte do mestre do Barroco.

 

'A CEIA BRASILEIRA DE ISMAILOVITCH'

 

Pintura e desenho. Abertura nesta sexta, às 20h30. Sala Manoel da Costa Athaide do Museu da Inconfidência, Praça Tiradentes, 139, Centro Histórico de Ouro Preto, (31) 3551-1121 e 3551-4977. De terça-feira a domingo, das 10h às 18h.
Entrada franca. Até 23 de novembro. 

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