Pedro Bandeira comemora 30 anos de 'A droga da obediência'

Trama que deu início às aventuras do grupo Os Karas segue encantando novas gerações de leitores

por Pedro Siqueira 16/09/2014 09:46

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Editora Moderna/Divulgação
O escritor Pedro Bandeira comemora 30 anos do livro 'A droga da obediência' (foto: Editora Moderna/Divulgação )
Eles são amigos, descolados, até um pouco hipsters, se o termo existisse na época, e acima de tudo, eles vão salvar o dia. Magri, Crânio, Miguel, Calu e Chumbinho formam o grupo conhecido como Os Karas. Criados por Pedro Bandeira em 1984, a primeira aparição da turma foi em 'A droga da obediência', que agora, 30 anos depois, recebe nova edição. Para comemorar a data, Pedro Bandeira também lança um romance inédito. Intitulado 'A droga da amizade', o livro é o sexto volume das aventuras d'Os Karas.

Entrevista >> Pedro Bandeira

Em 30 anos de 'A droga da obediência', pode-se dizer que o livro já foi lido por gerações de jovens completamente diferentes. A que você credita essa longevidade?
As gerações não são "completamente diferentes". Todas as pessoas, quer as do século 10 até o século 30, são e serão iguais para a lLiteratura. Tanto os jovens de 1984, quando este primeiro livro foi publicado, quanto os de hoje e os de amanhã sempre amarão, odiarão, sentirão medo, ciúme, inveja, desespero, sonharão com um futuro feliz e terão medo do escuro. As peças de Shakespeare, que já têm mais de 400 anos, até hoje emocionam todo mundo, pois tratam de amor, de ciúme, de ambição, de sentimentos humanos que não mudam e jamais mudarão. Meu livro trata da amizade entre adolescentes, trata de sua união, de seu despertar para a consciência dos problemas do mundo, do seu desejo de tornarem-se independentes, de conquistar a própria opinião, de atuarem no mundo, de escolherem seus próprios caminhos. Assim era no século 16, de Shakespeare, como será para sempre.

O livro foi inicialmente pensado como livro didático, mas acabou tendo uma "vida útil" mais longa do que outros do mesmo gênero, como você vê isso?

'A droga da obediência' jamais foi um livro “didático”. Sempre foi um livro de literatura para adolescentes. Livros didáticos são aqueles feitos para ensinar geografia, história, química ou gramática. Livros de Literatura para jovens, se agradam, acabam tendo vida longa, como até hoje os jovens se divertem com 'A ilha do tesouro', 'Os meninos da Rua Paulo', 'A guerra dos botões', 'A ilha perdida', 'Tom Sawyer', 'Oliver Twist', 'O mistério do 5 estrelas' ou 'O gênio do crime'. Todos estes livros que citei têm de 150 a 40 anos e todos agradaram desde seu lançamento, e continuam sendo lidos geração após geração. O que ocorre no Brasil é que, como poucas famílias compram livros para seus filhos ou os incentivam a ler, acabou cabendo às professoras recomendarem leitura de Literatura extra-classe para que as crianças e jovens treinem a compreensão leitora. E eu tive a sorte de ver esta minha 'A droga da obediência' tornar-se um clássico e ser lida por gerações já há 30 anos.

Há planos de levar as aventuras dos Karas para as telonas?
Desde a década de 90 venho assinando contratos para a filmagem dessas aventuras. Mas os contratos sempre acabam caducando devido ao alto custo dessas produções. No momento, está em vigência um contrato com uma grande produtora de cinema que até já obteve aprovação da Ancine para a captação de recursos.

Quais desafios você enfrenta para prender a atenção da geração atual?
Os desafios são a compreensão dos sentimentos, da psicologia do meu possível leitor. Não é nada fácil. O que ocorre na cabecinha de uma menina de 13 anos quando se apaixona e o rapazinho de quem ela gosta nem liga pra ela? Se o artista não tiver a capacidade de penetrar nos cérebros, no coração dessa gente, ele jamais conseguirá criar algo que sirva de alimento para a sensibilidade dessa ou de qualquer geração de seres humanos. Essa é a missão do artista, seja ao compor uma música ou escrever um livro: compreender o íntimo do ser humano, de qualquer idade. É difícil, puxa vida, como é difícil! Mas, quando a gente consegue, que delícia!

Você chegou a ser considerado o "Paulo Coelho da juventude", o que acha disso?

Essa comparação talvez tenha a ver com o sucesso de vendas do Paulo Coelho. Mas as intenções de nossos livros são muito diferentes. Parece que ele procura apontar caminhos, aconselhar as pessoas com seus textos. Eu, ao contrário, só provoco, só mostro espantos, só apresento dúvidas, para que meu leitor, junto comigo, pense em soluções para os problemas que apresento. Quem sabe se, juntos, não encontremos algum caminho que ajude nosso País a progredir em direção à Justiça e à Liberdade? Prefiro ser comparado com João Carlos Marinho ou com Marcos Rey.

De onde vieram as maiores influências para as aventuras de Os Karas?

Tudo o que você lê, tudo o que você aprende durante a vida, fica morando dentro de você e influenciando o que você faz. Quando criei a turma, é claro que não pensei nisso, mas se você prestar atenção, verá que a Turma dos Karas tem semelhanças com 'Os três mosqueteiros', de Alexandre Dumas. Miguel, Crânio e Calu seriam Athos, Porthos e Aramis, enquanto Chumbinho seria D’Artagnan. Ou, se você pensar em 'Os meninos da Rua Paulo', do húngaro Ferenc Mólnar, verá que a criação de meu personagem Miguel talvez tenha sido influenciada pelo jovem Boka, e a de Chumbinho pelo trágico Nemestchek. Quanto ao conteúdo, a primeira aventura é uma metáfora sobre a censura da ditadura militar, pois quando eu a escrevi ainda era um jornalista que há quase 20 anos vinha sofrendo sob a censura à imprensa. A droga da obediência é a droga do cala-a-boca!

Podemos esperar mais aventuras deles?

Não paro de pensar no assunto, mas pensar e desejar não é conseguir. As aventuras com eles são muito complicadas. Você não imagina quantos textos já iniciei, rasguei e desisti! Estou com uma ideia que parece boa, mas é difícil demais, pois meus enredos baseiam-se na realidade, mas têm de ser “metaforizados”, como o fiz com a droga da obediência, com a destruição da natureza, com as doenças sexualmente transmissíveis, com o Holocausto, com o nazismo...

Que mensagem você deixaria para os jovens leitores que estão começando a ler as suas obras?
Se você não estiver gostando, largue o livro na hora e vá procurar um melhor. Ficar sem ler nada é que é chato demais. Viver sem Literatura para alimentar os pensamentos e a sensibilidade é como viver sem comida. É um tipo de morte de fome. Se não for a morte, é o desespero. E desespero se cura com colo. A Literatura é o colo em letra de fôrma.

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