Apesar dos trabalhos na TV, Mateus Solano não deixa de investir nos palcos

Em entrevista, o ator falou sobre as dificuldades do gênero e da importância do teatro na formação de um ator

por Diego Ponce de Leon 08/09/2014 09:59

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Divulgação
"Nomes como Tônia Carrero e Paulo Autran não devem voltar a aparecer. Atualmente, tudo é muito pulverizado, efêmero", diz Mateus Solano (foto: Divulgação)
Quando tinha apenas 3 anos, Mateus Solano foi ao teatro pela primeira vez. Estava nos Estados Unidos, por conta do pai diplomata. Ainda pequeno, passou por Portugal e desembarcou de vez no Rio de Janeiro. Nascido em Brasília, cidade com a qual pouco se relacionou, Mateus descobriu a vocação para as artes cênicas ainda na adolescência. Formou-se e foi enfrentar o teatro. Televisão e cinema vieram bem depois.

A ainda curta carreira, de cerca de 13 anos, rendeu personagens memoráveis, a exemplo dos gêmeos Miguel e Jorge de 'Viver a vida', ou ainda o recente Félix, de 'Amor à vida', pelo qual entrou para a história da dramaturgia ao protagonizar o primeiro beijo homossexual masculino na tevê aberta, ao lado de Thiago Fragoso.

Mas é dos palcos que ele tira alimento, energia. Em entrevista, o ator falou sobre as dificuldades do gênero e da importância do teatro na formação de um ator. “É onde busco as ferramentas para encarar qualquer papel. Onde tenho contato em profundidade com o ofício. Só o teatro traz isso.”

Adversidades
Apesar do rosto conhecido e do apelo que exerce no público, Mateus conhece bem as dificuldades de encarar uma temporada pelos palcos do país. “Não é fácil para ninguém. Falta tudo, principalmente incentivo do governo. Algo que deveria ser primordial, fica em segundo plano na esfera pública”, lamentou.

O artista defende um acesso gratuito e irrestrito, promovido pelo Estado. “O ideal é que o teatro fosse de graça, patrocinado pelo governo. Com a Lei Rouanet, o governo tirou o corpo fora e não precisa mais se comprometer com a qualidade dos espetáculos”.

A crise do setor, segundo ele, está ligada também às novas formas de interação: “Estamos tão presos às mídias sociais. O teatro é um encontro cada vez mais raro e caro”. Mesmo no Rio de Janeiro, aclamado como um dos centros culturais do país, o panorama não anda dos melhores. “Aqui não é diferente. São muitas panelas. O mercado acaba fechado.”

Brasília

Embora não acompanhe de perto o panorama da cidade natal, o ator lamenta que os artistas locais ainda precisem buscar espaços em outras cidades e não possam viver do cenário local. “Grandes talentos que florescem em Brasília precisam se deslocar para Rio e São Paulo. É uma pena.”

Em agosto, Mateus esteve na capital federal com a peça 'Do tamanho do mundo', escrita pela esposa, Paula Braun, e levou 2 mil pessoas ao teatro durante um único fim de semana. Há 10 anos, ele não se apresentava n cidade natal.

Enquanto muitos creditam a ávida busca por ingressos ao personagem Félix, o ator não parece muito preocupado com a insinuação: “Pelo contrário. É uma das vantagens da visibilidade da televisão. Muitos nem iriam ao teatro se não fosse por isso. Então, temos que agradecer por essa motivação”. O desafio, segundo ele, é “aproveitar a oportunidade para fazer com que a pessoa volte para casa carregando muito mais coisas do que quando entrou na sala”.

Projetos
Os percalços relatados parecem não corromper a vontade do ator de permanecer nos palcos, “onde se investiga e se constrói um personagem como em nenhum outro lugar”. Na jornada como ator, Mateus contabiliza muito mais papéis no teatro do que no cinema ou na televisão. Entre eles, ganhou destaque na montagem de 'Hamlet', ao lado de Wagner Moura. “Uma pena que esses trabalhos não recebam a mesma atenção do público”. Mas ele insiste.

Em novembro, o artista encara novo enredo em uma encenação inédita. “Vou reencontrar (o ator) Miguel Thiré, com quem já fiz algumas comédias. Vamos falar dessa febre das selfies e da relação intrincada com os malditos celulares”, antecipou.

A menção do nome de Miguel Thiré, neto de Tônia Carrero, provocou um ar filosófico ao ator: “Os atores mudaram. Tínhamos esses bruxos do teatro, pessoas inatingíveis”, comentou, em tom elogioso. O ator desconfia que o cenário atual não permitirá que grandes intérpretes se imortalizem, como antes: “Nomes como Tônia Carrero e Paulo Autran não devem voltar a aparecer. Atualmente, tudo é muito pulverizado, efêmero”. Para evitar qualquer sinal de negativismo, ele arremata: “Como toda regra, exceções são bem-vindas”.

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