Artista transforma a própria casa em centro cultural na Pampulha

Espaço aberto pelo artista Fernando Pacheco será disponibilizado para todas as manifestações culturais. Evento de abertura homenageará Bartolomeu Campos de Queirós

por Ana Clara Brant 04/09/2014 08:32

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Fotos: Beto Novaes/EM/D.A Press
Fernando Pacheco abre as portas de sua casa para artistas e o público. Ao fundo, a instalação 'ConSerto de piano' (foto: Fotos: Beto Novaes/EM/D.A Press )
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É impossível ficar calado diante da obra do Fernando Pacheco e da poesia do João Cabral de Melo Neto. A função vital de qualquer obra artística é passar a palavra para aquele que vê, para aquele que olha, para aquele que frui. (…) A obra do Fernando Pacheco não é uma obra que ampara a gente no colo, que acaricia levemente. É uma obra à que a gente tem que pedir o colo. E ela não nos dá. A pintura do Fernando nunca é vista, está sempre por se ver. Cada vez que você passa diante dela, você descobre uma coisa nova. É pintura para ser apreciada. (…) Ela exige um olhar novo a cada dia. A fantasia recolhida, secreta, que a gente traz encontra lugar para conversar com a obra. É uma conversa interna íntima, profunda, que é a verdade maior de cada um.” Essas palavras são parte de um depoimento do escritor Bartolomeu Campos de Queirós (1944-2012) para um vídeo sobre o artista plástico Fernando Pacheco, ainda inédito.

O documentário é uma das atrações da primeira edição do projeto Arte na Pampulha (Artpam/2014), que vai homenagear o escritor, falecido há dois anos. Com concepção e direção artística de Fernando Pacheco e curadoria de Nina Pacheco e do produtor Lucas Guimaraens, o evento será realizado no próximo fim de semana e nos dias 13 e 14, em BH. Foram programadas exposições, instalações artísticas, performances teatrais e apresentações musicais.

A iniciativa vai marcar a inauguração do Centro de Arte Fernando Pacheco, na Pampulha. “Compramos esta casa de aproximadamente 1 mil metros quadrados há uns 30 anos para ser a sede do ateliê do Fernando. Sempre foi um lugar extremamente tranquilo e aprazível. A partir de agora, decidimos transformá-lo em centro de arte”, comenta Nina, mulher do pintor.

Pacheco brinca, dizendo que o espaço será “o menor museu a céu aberto do mundo”. O artista explica que passou uma temporada no exterior e decidiu investir em BH o que ganhou na China, Tailândia e Nova Zelândia. “Nasci em São João del-Rei e passei a minha vida toda em Minas. Construí minha carreira, minha história e minha linguagem aqui. Agora que estou realizado e expondo no exterior, decidi: aqui é o meu lugar. Queria investir o que conquistei lá fora na minha terra”, revela.

Além do ateliê, que foi revitalizado, o centro ganhou uma galeria, um instituto e um memorial que abriga catálogos, livros, reportagens, homenagens, medalhas, vídeos e objetos pessoais. A ideia é transformá-lo em espaço de convivência e diálogo entre as artes e as pessoas. O pintor destaca que pretende também resgatar a vocação cultural da Pampulha, região meio esquecida. “Temos circuitos de artes por toda a cidade. É importante lembrar que em nossa região temos obras relevantes de Oscar Niemeyer, Portinari, Burle Marx e Ceschiatti. Quis dar o exemplo com essa iniciativa particular. Quem sabe não estimulamos outras pessoas?”, frisa.

Quadros

Sábado, o público poderá conferir de perto o Centro de Arte Fernando Pacheco e a programação do Artpam. Uma exposição exibirá 26 quadros inéditos criados a partir de títulos de livros de Bartolomeu Campos de Queirós, como 'Vermelho amargo', 'Indez', 'Ciganos' e 'Por parte de pai'. Estará lá a instalação superinteressante 'ConSerto de piano' (com s mesmo), sugestão do próprio escritor. “Tanto o piano quanto o macaco de carro que o ampara são cenográficos. Ele não funciona, mas mesmo assim achava que deveria sair música dali. Colocamos um som interno e o piano fica ‘tocando’ Villa-Lobos, executado pelo Nelson Freire. Para compor, há quatro cadeiras coloridas com frases do Bartolomeu”, explica Fernando.

A instalação 'Eu gosto dos Beatles e de jabuticabas' fica logo na entrada do espaço, onde há um fusquinha todo decorado. Lá de dentro saem canções de artistas mineiros que têm alguma relação com o quarteto de Liverpool. O teatro também se fará presente, com performances de Ana Gusmão e Luiz Gomide, dirigidos por Pedro Paulo Cava. Cava aborda dois prismas da obra de Bartolomeu: o adulto ('Saudade da mãe', baseado no livro 'Vermelho amargo') e o infantojuvenil ('Aqui tem papo de pato').

Entre as atrações musicais, Tavinho Moura sobe ao palco no sábado para relembrar canções que marcaram época e suas parcerias com artistas do Clube da Esquina. Domingo será a vez do violonista e guitarrista Juarez Moreira. O pop e a MPB tomarão conta do Artpam no dia 13, com Eduardo Ladeira e Rodrigo Borges.

Fonte de inspiração disso tudo, Bartolomeu Campos de Queirós ganhará um túnel com painéis e telas em que seus textos analisam a obra de Pacheco. “Minha atuação como artista plástico é meio pop. Sempre interagi com músicos, escritores, atores e estilistas (o pintor foi tema até de desfile de Victor Dzenk). O próprio Bartolomeu foi meu amigo durante mais de 30 anos. Daí veio a ideia de usar isso aqui tanto para as artes visuais quanto para saraus, concertos ou lançamento de livros. É um espaço das artes”, resume.


PROGRAMA DE SÁBADO

14h – Abertura do Artpam e instalação Eu gosto dos Beatles e de jabuticabas, com Fernando Pacheco

14h30 – Performance teatral Aqui tem papo de pato, com o ator Luiz Gomide. Direção: Pedro Paulo Cava

15h15 – Instalação ConSerto de piano. Exposição de telas criadas a partir de livros de Bartolomeu Campos de Queirós

16h – Performance teatral Saudade da mãe, baseado no livro Vermelho amargo. Com a atriz Ana Gusmão. Direção: Pedro Paulo Cava

16h20 – Visita ao memorial com videodepoimento de Bartolomeu Campos de Queirós

17h – Show de Tavinho Moura

18h – Visita ao ateliê Fernando Pacheco

ARTPAM 2014

Dias 6, 7, 13 e 14. Centro de Arte Fernando Pacheco, Avenida Dora Tomich Laender, 301, Pampulha, próximo da Associação Atlética Banco do Brasil (AABB). Aconselha-se o uso de sapato baixo ou tênis. Todas as atividades são gratuitas, mas é preciso inscrição prévia pelo site www.artpam.com.br ou pelo e-mail artpambh@gmail.com. Lotação limitada. É obrigatório confirmar presença. Programação completa no site.

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