Zezé Polessa apresenta 'Quem tem medo de Virginia Woolf?' em BH

Desejos, sonhos e frustrações de relacionamentos amorosos são a tônica do espetáculo

por Helvécio Carlos 22/08/2014 09:45

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Helvécio Carlos
Erom Cordeiro, Zezé Polessa, Daniel Dantas e Ana Kutner dividem o palco em 'Quem tem medo de Virgínia Woolf?' (foto: Helvécio Carlos)
Zezé Polessa não idealiza personagens ou temas com os quais quer trabalhar. Mas a atriz reconhece ter interesse especial pelo relacionamento de casais. Tanto que em sua carreira soma três montagens de sucesso sobre o assunto. Ela chega nesta sexta a Belo Horizonte com Quem tem medo de Virgínia Woolf?, de Edward Albee, espetáculo que, acredita, fecha o ciclo do tema em sua carreira (as outras duas foram O submarino, de 1999, e Não sou feliz mas tenho marido, de 2011). “Esta é a peça máxima sobre relacionamentos, desejos, sonhos e frustrações numa relação a dois. Tudo isso elevado ao quadrado tamanha a potencialização dos sentimentos. Depois dela, não preciso mais falar sobre relacionamentos”, observa a atriz, que estará em cena ao lado de Daniel Dantas (seu ex-marido), de Ana Kutner e de Erom Cordeiro.


O encontro com o texto foi casual. “Durante a produção de Não sou feliz… Victor Garcia Peralta (diretor dos dois espetáculos anteriores) me falou sobre a peça. Assisti ao filme com Elizabeth Taylor e Richard Burton e achei pesado demais. Mas caí de quatro, me apaixonei, depois de ter lido o texto. Se pudesse teria parado a outra montagem para fazer”, conta a atriz, animada com o trabalho.

Entusiasmo e encantamento com o texto de Edward Albee não foram suficientes para a montagem de mais uma versão brasileira da história de Marta e Jorge. Foi preciso muita paciência. A batalha pelos direitos durou dois anos. Os ensaios antecipados acabaram sendo prejudicados com a saída do ator principal. “Como Daniel Dantas arrasou na primeira leitura do texto, tinha entendimento da peça e da personagem, nada mais natural do que convidá-lo”, diz a atriz. Zezé reconhece que trabalhar com o ex numa peça tratando justamente de relacionamentos teve suas dificuldades. “Tínhamos complicadores emocionais. O texto toca na dificuldade de relacionamento, mas, 10 meses depois, já estamos bem resolvidos”, diz, bem-humorada. Os laços de família não param por aí. Ana Kutner é filha de Paulo José com quem Zezé manteve um relacionamento de oito anos. João, que assina a tradução do texto e a codireção, é fruto do casamento de Daniel e Zezé.

O filme estrelado por Elizabeth Taylor foi a única adaptação vista por Zezé Polessa do texto. Ela não assistiu às montagens de teatro no Brasil. “Poderia ter visto a de Raul Cortez (e Tônia Carrero, em 1978), última peça com direção convencional de Antunes Filho, prestigiadérrimo por sinal. Não vi porque na época achava um teatro careta. Foi no mesmo período em que Antunes estava em cartaz com Macunaíma, com a qual fiquei louca e assisti oito vezes”. Ela também perdeu a versão de Marco Nanini e Marieta Severo, de 2000, pelo fato de terem sido poucas sessões.


Estrela

A trama se passa na casa de Marta e Jorge (Daniel Dantas), quando o casal recebe os jovens Nick (Erom Cordeiro) e Mel (Ana Kutner). A partir daí começa um verdadeiro embate entre os anfitriões (ele, professor universitário, e a mulher, filha do reitor) e os convidados. Num jogo cruel recheado de ofensas para todos os lados. A atriz conta que não teve dificuldades para montar sua personagem. “A peça é super bem escrita. Basta o ator se jogar. Claro que cada um faz suas escolhas, pela bagagem, pelo que quer falar naquele momento”, comenta, lembrando que em algumas versões internacionais viu Marta ser tratada com certo desleixo. “Elizabeth Taylor, aos 35 anos, fez a personagem quando estava gorda. Tenho a idade de Marta. Não precisei fazer nenhum tipo de envelhecimento”.

Para compor o visual, Zezé fez pesquisa em torno de Bette Davis, diva hollywoodiana. “A viagem da Marta é um pouco nessa onda de star, mas ela emburaca naquele câmpus (de universidade) numa época entre a Segunda Guerra e a Guerra do Vietnã, com intelectuais desesperançados, um marido estagnado, diferente do que havia projetado. Na verdade, ela quer que o marido realize o sonho que acredita ser o do pai”, afirma.

Crítica

Entre os elogios à montagem dirigida por Peralta, a crítica Barbara Heliodora disse que o texto de Edward Albee continua tão forte e impactante. Já as relações, graças a Deus, não são como nos idos anos 1960. “Caminhamos para um relacionamento melhor, principalmente em relação à posicão da mulher. Quando comecei a estudar a peça, fiquei muito revoltada com a Marta. Questionava: por que ela não estudou? Por que não é a chefe do departamento e por que não vai substituir o pai na reitoria?”, comenta Zezé Polessa. “O fato de a mulher ter conquistado espaço, ter independência, realizar os sonhos desafogou um pouco o casamento”, teoriza.

Na TV
Em Belo Horizonte, Quem tem medo de Virginia Woolf? encerra a temporada, mas não quer dizer que Zezé vá se esquecer de Marta tão facilmente. Ela conta que levou para a televisão a bagagem adquirida no projeto. “Estou usando a experiência de Virginia em Império (novela de Aguinaldo Silva, das 21h, na TV Globo). Magnólia é uma mãe perversa. Mas há um certo humor. Sem ele aquela família seria insuportável. Já no espetáculo, o humor vem da inteligência dos personagens, do brilhantismo do repertório. Eles têm vocabulário, brigam muito bem, não repetem abobrinhas”, afirma. Erom Cordeiro também está no elenco de Império; enquanto Daniel Dantas faz Boogie Oogie (novela das 19h da Globo). Até o ano que vem, Zezé, que é produtora do espetáculo, pretende circular novamente com a montagem por várias capitais. “Minha vontade é fazer uma viagem para formação de plateia, com ingressos a preços populares. Quem tem medo de Virginia Woolf? é uma peça diferente. Tem outro apelo. Não é musical nem comédia. Fizemos uma coisa contemporânea, da tradução à direção de um diretor que não tinha uma preconcepção do que seria a peça”, finaliza.

'QUEM TEM MEDO DE VIRGINIA WOOLF?
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Sexta, às 21h; sábado, às 20h, e domingo, às 19h. Cine Theatro Brasil Valourec, Praça Sete, s/nº, Centro. Ingressos inteira: Plateias 1 e 2 (mezanino) : R$ 60. Para a plateia 2 serão vendidos ingressos a R$ 50 (valor promocional limitado a 20% da capacidade da casa). Meia-entrada válida para maiores de 60 anos e para estudantes devidamente. Informações: (31) 3201-5211 e pelo site do Cine Theatro Brasil.

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