Juiz-forano Moyseis Marques estreia em musicais com 'Ópera do malandro'

Legalidade do jogo, prostituição e contrabando estão na trama de nova versão do musical de Chico Buarque

por Ailton Magioli 29/07/2014 08:06

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Leo Aversa/Divulgação
"Ele é um ladrão, enrolado e inconsequente, enquanto sou superfamília, com jeito ensaboado de viver, com leveza" Moyseis Marques, cantor e ator (foto: Leo Aversa/Divulgação)
A estreia do cantor em musical vinha “batendo na trave” há pelo menos dois anos, segundo diz, em oportuno malandrês, o próprio Moyseis Marques, de 35 anos, que protagoniza a nova versão de a Ópera do malandro, de Chico Buarque. Em turnê nacional, o espetáculo que marca a estreia de Moyseis como ator, sob a direção de João Falcão, tem datas agendadas no Grande Teatro do Sesc Palladium, em apresentações ainda a serem confirmadas, em novembro.


Enquanto participa da montagem, Moyseis, que nasceu em Juiz de Fora, na Zona da Mata, vai conciliando as carreiras na música e no teatro. Pai de uma menina de 2 anos, o cantor e agora ator também diz que deu um “relax” na vida noturna, vivendo período de verdadeira “higiene mental”. “Não sabia que ia fazer teatro”, confessa, surpreso, Moyseis, admitindo ter pensado que o personagem dele seria uma espécie de narrador da trama. Trata-se, na verdade, do protagonista Max Overseas, que vive de golpes e conchavos com a polícia carioca.

Inspirado em A ópera do mendigo, de John Gay, e em A ópera dos três vinténs, de Bertolt Brecht e Kurt Weill, Ópera do malandro, de Chico Buarque, conta a história do contrabandista que se casa em segredo com Teresinha, filha de Duran, poderoso dono de bordéis e cabarés da Lapa dos anos 1940. Antes de se mudar para Santa Tereza, onde vive atualmente, Moyseis Marques viveu pelo menos quatro anos na Lapa, quando a região “ainda não era tão legal”.

“Minha história artística se confunde com a Lapa. Crescemos juntos”, afirma o cantor e ator, que fez temporada em várias casas noturnas da região carioca. Já o personagem que interpreta no musical se parece com ele “até a página 3”. “Ele é um ladrão, enrolado e inconsequente, enquanto sou superfamília, com jeito ensaboado de viver, com leveza”, diz. Recorrendo ao mestre Bezerra da Silva, Moyseis afirma que “malandragem é inteligência”.

 Como viveu da zona norte à zona sul carioca, o cantor e ator atribui-se a condição camaleônica, com amigos de ponta a ponta na cidade. Com 20 dias de nascido, foi de Juiz de Fora para a Vila da Penha, onde viveu durante 18 anos. Depois, foi para a zona sul carioca e não parou mais de circular a cidade antes de chegar a Santa Tereza. Responsável pela atual versão de Ópera do malandro, João Falcão pinçou músicas do espetáculo original, do álbum Malandro e do filme dirigido por Ruy Guerra, ambos de 1985.

TOM ACIMA Prostitutas apresentadas como vendedoras de uma butique e a travesti Geni também estão na trama, que tem como pano de fundo a legalidade do jogo, a prostituição e o contrabando. O elenco masculino se sobressai na nova montagem do musical, com a participação de 14 atores (apenas uma mulher). Moyseis conta que no primeiro mês não sabia o que fazer. “Hoje, sei que João Falcão procurava alguém com perfil de protagonista”, afirma o cantor, que durante os ensaios teve de fazer aulas de capoeira, acrobacia, samba, tango e forró.

Com apenas um número solo no espetáculo, quando canta Aquela mulher, Moyseis faz duos com o também cantor e ator Alfredo del Penho e com a intérprete de Teresinha, além de cantar coletivamente com todo o elenco. “O difícil é estar em cena sem falar o texto”, confessa o ator, para quem teatro é sempre um tom acima.

 “Tento ser o mais natural possível”, acrescenta, salientando que na música a situação é contrária. “No teatro, a maior dificuldade é me despir de todos os pudores para estar no palco como outra pessoa. Na música sou eu mesmo, a minha maneira de cantar, o fraseado. No teatro tem de ser como o diretor quer.”

Com quatro discos solo lançados, o mais recente de voz & violão (gravado e lançado nos Estados Unidos e previsto para chegar ao Brasil, pela Fina Flor), o cantor diz que pretende fazer, agora, o primeiro DVD de carreira. Mesmo tendo que dar uma “pisada no freio” por conta dos ensaios de Ópera do malandro, Moyseis diz ser difícil não sair para cantar. No fim de semana mesmo, fez show no Samba Luzia, do Rio, além do Sesc Tijuca.

SAIBA MAIS

Intimidade com a Lapa


A espontaneidade, desenvoltura e naturalidade de Moyseis Marques certamente contribuíram para a escolha dele como protagonista da nova versão de Ópera do malandro, segundo o diretor João Falcão. “Apesar de mineiro, a vivência dele com o universo do samba e da Lapa colaborou”, constata João, para quem o cantor tem talento nato de ator. O diretor, que conhecia o trabalho de Moyseis na música, disse ter prometido a si mesmo que um dia o convidaria para trabalhar. “Chegou a oportunidade”, afirma, dizendo que o espetáculo tem tudo a ver com Moyseis. “O samba e a Lapa são íntimos dele, que me impressiona com seu talento”, elogia.


Pacote precioso

Com dramaturgia suficiente para bancar quantos musicais quiser escrever, Chico Buarque é autor de uma música que, ao contrário da de outros autores, ganha vida própria em discos, independentemente de terem sido escritas para o teatro ou não. Como prova, mais uma vez, em Todos os musicais de Chico Buarque em 90 minutos, que acaba de ser lançado pela Biscoito Fino.


Interpretado pelo elenco original do espetáculo de Charles Möeller e Claudio Botelho, ainda inédito na capital mineira, o repertório do álbum duplo passeia por todas as incursões do cantor e compositor no gênero: de Morte e vida Severina a Cambaio, passando por Roda viva, Gota d’água, Calabar e a própria Ópera do malandro.

Gravado em estúdio, a exemplo da montagem, o álbum duplo tem arranjos vocais de Jules Vandystadt e arranjos e orquestração de Thiago Trajano. Além de Soraya Ravenle e Claudio Botelho, destacam-se cantando Estrela Blanco, que vem a ser neta do bossa-novista Billy Blanco, e Malu Rodrigues, entre outros atores e cantores.

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