“Olha mãe, é uma bola de futebol”, gritou, animado, o estudante João Pedro Alves Gualberto, de 5 anos, no passeio por Inhotim. Ele estava diante da Glove Trotter, instalação de Cildo Meireles com esferas de diversos tamanhos debaixo de uma malha de aço. Mas a brincadeira ali não tinha nada a ver com futebol, mesmo em época de Copa do Mundo. O desafio era encontrar a bola mais valiosa entre todas elas. Nada de Brazuca, mas uma autêntica pérola.
Acompanhada pelo padre Sebastián Kiwonghi e pela freira Bernadette Alekawa, ambos da República Democrática do Congo, Justine era só sorrisos em meio ao jardim. “Isso aqui é o coração da mãe natureza”, disse, poucos minutos depois de chegar. Radicado no Brasil e professor da faculdade Dom Helder Câmara, Kiwonghi é quem sempre apresenta Inhotim aos colegas de congregação. “Todos ficam encantados”, diz.
“Tem dois meses que estamos planejando essa viagem. Viemos especificamente para isso. Chegamos em Confins na sexta, vimos o jogo do Brasil lá mesmo, alugamos um carro e partimos direto para Brumadinho”, conta a gerente de expansões Ana Cristina Centrone. Ela e o grupo de cinco amigos de São Paulo compraram o passaporte para explorar o parque em dois dias. O casal de servidores públicos de Brasília, Luciana Sabino e Jorge Aguias, também tinha Inhotim como principal destino. Hospedados em Belo Horizonte, eles chegaram sexta, passaram o sábado no parque e retornam no domingo. “A visita ocupa um dia todo”, disse.
“Estou achando muito pouco tempo para ver tudo”, empolga-se o artista plástico e gastrônomo Orlando Glingane, que também dedicou dois dias para aproveitar a visita a Inhotim. Há tempos ele também planeja a vinda a Minas Gerais exclusivamente para conhecer o Centro de Arte Contemporânea. A rotina de trabalho, no entanto, não dava espaço. Ele, que trabalhava na criação de chocolates de uma importante multinacional do ramo, há 20 dias desistiu de tudo e veio se reabastecer. “É uma das poucas coisas que dão orgulho de ser brasileiro. Temos tantas áreas deixando a desejar e isso aqui é grandioso”, afirma.
Orlando Glingane “causou” em Inhotim. Dentro da obra Através, de Cildo Meireles, enquanto pisava nos cacos de vidro e explorava o labirinto proposto pelo artista, o arrepio era visível. A cada nova experiência, aproveitava para também para intervir, mesmo que minimamente, naqueles cenários. Glingane anda com uma máscara de cavalo a tiracolo. É o Pocotó, personagem, que encarna em diferentes situações. Aonde vai, leva a performance. “Já jantei assim no Louvre, em Paris, estive na África, na Suíça e em vários outros países. É um movimento artístico de intervenção no cotidiano. Causa estranheza e surpresa”, afirma. Quem passou por perto de Orlando, de fato, se divertiu com Pocotó.
“Pouca gente tem a dimensão do que realmente se encontra aqui. Fiquei sem respirar um pouco”, confessou a ceramista Regina Fisher. Ela é outra que se organizou para visitar exclusivamente Inhotim. Estava tão hipnotizada pelo parque que, na hora do lanche, quando se aproximou do auditório e viu que a exibição do jogo entre Argentina e Bélgica tinha audiência, ironizou: “Essa é realmente a obra mais importante que tem aqui para esse tanto de gente estar vendo”.
Popularidade
Embora Inhotim não tenha planejado atrações especiais para a Copa do Mundo, não esteve alheio ao campeonato. Quase todos os jogos foram exibidos no telão do auditório, com número considerável de adeptos na plateia. Até mesmo a partida entre Brasil e Chile, disputada em Belo Horizonte, reuniu cerca de 200 visitantes no parque.
Frequentemente, Inhotim tem sido tema de reportagens de publicações estrangeiras. Já esteve em páginas de jornais como The New York Times, The Guardian e Le Monde, entre outros, além das publicações especializadas em arte. A diferença, aponta Larissa, foi se dar conta de que a popularidade não está concentrada entre aficionados do universo das artes plásticas. “Foi gostoso ver a dona de casa holandesa que chegou aqui sabendo tudo de Inhotim”, exemplifica.
A americana Wendy Qi, de San Francisco, é uma das que desembarcaram em Brumadinho com tudo na ponta da língua. Ainda assim, se surpreendeu com a recepção que teve. Quando procurou pela visita guiada, descobriu que podia fazer o circuito com guias em inglês, praticamente à disposição dela. “Acho que ajuda muito para entrar na perspectiva do museu. Contribui para entender o que está por trás da ideia”, diz.
Infraestrutura e novas atrações
Os planos de Inhotim, como sempre, são ambiciosos. Na semana passada, o governador Alberto Pinto Coelho assinou a abertura do processo licitatório para construção de um novo acesso ao parque. Será uma via direta, sem passar pelo Centro de Brumadinho. Os investimentos previstos são de R$ 41 milhões. Outra medida também anunciada em parceria com o poder público é a elaboração do projeto de asfaltamento da estrada que liga o distrito de Casa Branca ao Centro de Arte Contemporânea.
Tem mais novidade: Inhotim abriu a agenda para a realização de casamentos por lá. A antiga capela do local foi reformada e está pronta tanto para receber a cerimônia religiosa, como também oferece espaço de recepção para até 300 convidados. Pelo menos 40 noivas já aguardam o início da reserva de datas, previsto para dia 15.
Logo depois da Copa do Mundo, Inhotim retoma a programação cultural. Entre os destaques da agenda, está a estreia do novo espetáculo da Cia. de Dança Palácio das Artes, com coreografia de Dani Lima. Em agosto, tem show de Naná Vasconcelos em parceria com o multi-instrumentista Lui Coimbra e, em setembro, será a vez de Lenine se apresentar aos pés de um frondoso tamboril. Em 2 de setembro, Inhotim inaugura galerias e serão abertas novas exposições de obras do acervo do instituto.
Na Liberdade
O interesse dos turistas em arte não foi privilégio de Inhotim. Os números consolidados no Circuito Cultural Praça da Liberdade dão conta de que houve recorde de público em junho. Durante a primeira fase de jogos da Copa do Mundo, pelo menos 125 mil visitantes passaram pelos equipamentos no entorno da praça. No mesmo período de 2013, foram cerca de 50 mil. Desde a sua criação, em 2010, o circuito já ultrapassa os 3 milhões de visitantes. Atualmente, 12 museus e espaços integram o Circuito Cultural Praça da Liberdade, todos com entrada franca.