Kimura Schetino volta ao palco em Relatório para uma academia, quinto trabalho com o diretor Eid Ribeiro

Mineiro de Belo Horizonte, ele encena o primeiro texto de Franz Kafka

por Ana Clara Brant 27/06/2014 06:00

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Juarez Rodrigues/EM/D.A Press
(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press )
O primeiro nome é japonês, Kimura, que significa árvore da vila, do aconchego, da proximidade. O segundo, Schetino, é italiano, e remete à origem do pai. Na verdade, ele é Gilberto e adotou essa denominação artística pela sonoridade. “Achei poético, bonito. É sarará com japonês. Mas sou mineiríssimo, de Belo Horizonte”, conta o ator de 66 anos, que está em cartaz até o fim de julho com a monólogo 'Relatório para uma academia', no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).

Kimura andava meio sumido do mundo. Tanto é que muita gente celebrou seu retorno aos palcos, agora no começo do mês, especialmente nas redes sociais. Foram pelo menos sete anos afastado do teatro. “Precisava fazer algo relevante. E aí veio o Kafka. Queria algo que me tocasse e tambèm às pessoas”, justifica.

Ator “desde a barriga da mãe”, como gosta de brincar, Kimura conta que começou a atuar de fato na década de 1970, com o Grupo Dinossauro. Era o chamado ‘teatro de resistência’. A parceria com o diretor Eid Ribeiro também surgiu na época. A dupla chegou a fazer pelo menos quatro peças antes da atual: 'Risos e facadas' (1976), 'Cigarro souza câncer' (1977), 'Delito carnal' (1979) e 'As criadas' (1980). “A família do meu pai é italiana. Então, lá em casa era aquela gritaria. Acho que isso influenciou também. Não fiz faculdade nenhuma. Sou ator por teimosia, por intuição. E isso requer muita disciplina”, diz.

Cinema

Mas não foi só nos palcos que ele se fez. Kimura Schetino marcou presença na telona. Quem não se lembra do Geleia, o assistente do Sr. Kapa, interpretado pelo saudoso Wilson Grey no filme 'A dança dos bonecos' (1986), de Helvécio Ratton? Até hoje muita gente ainda o chama pelo nome do personagem nas ruas e o artista mineiro se lembra com carinho dos tempos da gravação na região de Diamantina, sobretudo em Biribiri. “Geleia foi o meu melhor personagem no cinema. E aquela região de Biribiri, com aquela geografia, as pedras, algo meio pré-histórico, era muito interessante. A cidade tinha um clima bem propício. Foi muito bacana e a parceria com o Wilson Grey foi fantástica”, recorda ele, que coleciona no currículo outras obras: 'O fantasma do cinema' (2012), 'Amor perfeito' (2004) e 'Um filme 100% brasileiro' (1985).

Pai de Ana Clara, de 24 anos, e André, de 33, e avô do pequeno Angelus, de apenas seis meses, Kimura se divide entre duas residências. Uma no Retiro das Pedras, outra no Caiçara, que na verdade é o seu principal refúgio. Mas na hora de escolher qual é a grande paixão, ele não titubeia: o teatro. “É diferente. O teatro é a arte do ator por excelência. Se ele erra, ele passa por cima do erro. E o cinema é a arte do diretor. Ele edita e corta do jeito que ele quiser”, resume.

'Relatório para uma academia' é fruto de um projeto que começou como leitura no Espaço 104, ao lado do pianista Henrique Cabral, que executava a trilha sonora ao vivo. “Teve uma ressonância muito grande e ali foi o embrião. Quando o Eid pegou o texto e me dirigiu, aí foi outra coisa”, frisa.

Humanização

Kimura nunca havia encenado Franz Kafka antes, apesar de já ter lido muito de sua obra. 'Relatório...' conta a história de um ex-macaco convidado a relatar o seu processo de humanização para uma plateia de acadêmicos. “A força do escritor e da palavra é muito grande nessa peça. Kafka é universal. Ele mexe com a nossa estrutura e tem sido uma experiência muito forte”, observa.

Apesar de estar em cartaz exatamente no período da Copa do Mundo, o ator não pode se queixar da frequência do público. O teatro do CCBB tem ficado lotado praticamente todas as noites. “O espetáculo está azeitando, amadurecendo. Tem sido muito recompensador para mim, e acredito que para a plateia. Na minha vida sempre foi assim; ela é easy rider. Sou um ator meio underground. O destino foi meio me tocando e as oportunidades foram aparecendo. Então, vamos aproveitá-las da melhor maneira”, filosofa.

RELATÓRIO PARA UMA ACADEMIA
Em cartaz às quintas e sextas, às 20h; sábados e domingos, às 19h. Até 13 de julho. Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB-BH), Praça da Liberdade, 450, Funcionários, (31) 3431-9400. Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia). Não haverá apresentação em dias de jogos do Brasil na Copa do Mundo.

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