Editoras nacionais entram na onda de relançar clássicos

Obras trazem um frescor para romances que nunca saem de moda e que ajudam a construir a história da literatura

por Nahima Maciel 25/06/2014 09:56

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Grua/Divulgação
Joseph Conrad é um dos autores que ganharam versão de bolso a R$ 19 (foto: Grua/Divulgação)
A edição de clássicos da literatura mundial sempre é um bom negócio para o mercado editorial e uma oportunidade para o leitor: na maioria das vezes, para tornar atraente o que já foi publicado mil vezes, as editoras apostam em volumes bem cuidados, ilustrados, acrescidos de ensaios inéditos sobre os autores e com traduções novas. O mercado brasileiro teve um primeiro semestre produtivo nesse quesito. Quatro editoras apostam em reedições que trazem às prateleiras nomes e títulos inevitáveis da literatura mundial.

A Grua Livros tem o projeto mais recente: vai lançar 50 títulos clássicos com novas traduções e em edições de bolso com preço fixo de R$ 19. Os primeiros quatro volumes -'A briga dos dois Ivans' (Nikolai Gógol), 'A lição do mestre' (Henry James), 'Bartleby o escrevente' (Herman Melville) e 'Freya das sete ilhas' (Joseph Conrad) - já estão na Livraria Cultura, parceira no projeto e única a vender a coleção da Grua. Os livros são a versão brasileira das edições da Melville House, uma editora independente norte-americana da qual a Grua comprou os direitos de publicação da coleção.

Somente a novela de Henry James, que até agora havia sido publicada apenas em coletâneas, não ganhou nova tradução. A Grua aproveitou uma tradução de Paulo Henriques Britto realizada para a Companhia das Letras, que cedeu os direitos para a coleção. Os outros três volumes ganharam novas traduções.

As edições são simples e não têm prefácios, mas estão cheias de notas de rodapé. Responsável pela revisão técnica de uma edição de Moby Dick da CosacNaify, Bruno Gambarotto tem tese de doutorado sobre Herman Melville e traduziu Bartleby. Eduardo Marks de Matos, professor da Universidade de Pelotas e especialista em Joseph Conrad, traduziu 'Freya das sete ilha's e Graziela Schneider trouxe a novela de Gogol do russo para o português.

Experimentalismo


A coleção da Grua incluirá também clássicos brasileiros e alguns autores menos conhecidos como Heinrich von Kleist e Sholem Aleichem. “Um clássico é um livro que poderia ter sido escrito num período muito próximo de você. E tem um frescor. A literatura contemporânea está passando por um grande experimentalismo, e literatura, em regra, é que nem vinho: precisa envelhecer um pouco. Os clássicos já deram essa envelhecida”, explica Carlos Eduardo, proprietário da Grua Livros.

Os clássicos carregam a memória e isso, na opinião de Mônica Figueiredo, professora de literatura portuguesa na Universidade Federal do Rio de Janeiro, já é suficiente para estimular a leitura. “Vivemos hoje uma realidade que tem a duração de segundos e que rege a experiência de vida na contemporaneidade. Sem memória, sem história”, diz. ”Estas ausências são temerosas porque constróem sociedades que vivem assombradas por um ‘futuro’ que afinal nunca chega; por um “presente” que é vivido sem reflexão crítica; e por uma rejeição impressionante a tudo que pode ser chamado de ‘passado’.”

Mônica assina o posfácio de 'Os maias', que integra um projeto de reedição de clássicos da Zahar. O volume em capa dura é ilustrado com desenhos realizados por Wladimir ALves de Souza, que integrou o Clube do Eça, grupo carioca dos anos 1950 conhecido por reproduzir os jantares descritos nos romances do escritor português. A editora lança também 'O misantropo', de Molière; e os infanto-juvenis 'O mágico de Oz' (L. Frank Baum) e 'Tarzan' (Edgar Rice Burroughs), todos pela coleção Clássicos Zahar.

Tratamento

Ernest Hemingway sempre foi bom de vendas. 'Paris é uma festa' e 'O velho e o mar' são dois clássicos que não fazem feio no mercado. Indicado como leitura obrigatória nas escolas brasileiras, a história do velho que luta para fisgar um peixe chegou a vender mais de 500 mil exemplares no Brasil.

“Hemingway é um clássico por esses dois títulos. Ele sempre vende bem e merecia um tratamento especial”, diz Rosemary Alves, editora da Bertrand Brasil empenhada desde o ano passado em relançar a obra do escritor norte-americano. Até agora, 10 romances foram reeditados, mas com preservação das traduções e orelhas originais. Até o final do ano, saem mais cinco, entre eles 'Tempo de viver' e 'Tempo de morrer', ambos com nova tradução de Roberto Mugiatti.

No selo Biblioteca Azul, da Globo Livros, a aposta é no relançamento da obra do britânico Aldous Huxley. Em março, a editora colocou no prelo os dois romances mais importantes do autor - 'Admirável mundo novo' e 'Contraponto' - e agora acabam de chegar 'Também o cisne morre' e 'Sem olhos em Gaza', considerado o romance de formação de Huxley.

Clássicos da literatura não envelhecem, carregam um frescor capaz de atravessar séculos e jamais ficam datados. Além de atemporais, são também portadores de informações importantes: contextos sociais e políticos que se reproduzem eternamente na história do homem, maestria da linguagem capaz de deleitar o leitor até hoje e o fato de serem os pilares da literatura, sobre os quais se constrói o presente. Se você ainda não se convenceu de que os clássicos merecem sua atenção, então lembre-se que, segundo os críticos e editores, apenas cerca de 10% da produção literária contemporânea ainda estará nas mãos dos leitores daqui a cem anos. Ou seja, se você tem em mãos um clássico, tem em mãos um sobrevivente, um herói da literatura.

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