João Quaglia apresenta exposição de desenhos em BH

Pintor diz que o desenho é fundamental para o artista plástico. Professor aposentado, ele recomenda a técnica aos jovens colegas dedicados à arte contemporânea

por 18/06/2014 08:30

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Fotos: Errol Flynn/reprodução
O gesto humano ganha destaque nos quadros do baiano João Quaglia (foto: Fotos: Errol Flynn/reprodução)
“Desenhar é documentar o gesto sobre um suporte. Sabe desenhar quem domina o gesto”, afirma o artista plástico João Quaglia, que expõe pinturas na Galeria de Arte do PIC Cidade, em Belo Horizonte. O baiano, de 86 anos, trocou a terra de todos os santos por Minas Gerais – ele mora em São João del-Rei desde o início da década de 1960. Trinta e cinco trabalhos trazem figuras humanas e naturezas-mortas. João explica que as obras expõem sua própria personalidade: homem não acadêmico, ele gosta de texturas, de trabalhar a cor e é fiel – apenas o suficiente – ao desenho.


Quaglia estudou na Escola Nacional de Belas-Artes, no Rio de Janeiro, onde passava horas e horas aprendendo a desenhar. “Desenho é primordial. O artista, como o poeta, tem de dominar a língua que usa”, afirma. “Há linguagens pictóricas, como a tachista, que não carecem dele, mas trabalhos como a geometria dos concretistas se valem dele para suas construções.”

O artista plástico aprendeu litografia fora da escola. Primeiro, ao frequentar o ateliê de Mario Cravo, na Bahia, onde ele comprou prensa e começou a experimentar a técnica. O aperfeiçoamento veio por meio de Darel Valença, no Rio de Janeiro. Já morando em São João del-Rei, Quaglia adquiriu uma prensa e 200 pedras litográficas de uma gráfica desativada.

“A litografia é espetacular. Consegue-se uma textura impossível de ser obtida no desenho”, observa, ponderando que esse foi o processo mais rico para a construção de sua própria linguagem. Entretanto, a dificuldade de comercialização o distanciou do desenho, enquanto a idade o afastou da lito. “Não tenho mais físico para rodar prensa. Sinto saudades da litografia”, conta.

LIBERDADE Professor aposentado, João Quaglia deu aulas a vida inteira. Para ele, são positivas as múltiplas estéticas trazidas pela arte contemporânea, que oferece ampla liberdade de expressão. Mas não deixa de observar que isso traz impasse para o ensino de arte. Homem da época em que existiam o neoclássico e linguagens mais modernas, o expressionismo e o cubismo, João observa: “Com o surgimento das vanguardas, a situação se complicou. O aluno propõe coisas que não há como avaliar, mas, ao mesmo tempo, você não pode desanimá-lo”. A ênfase no experimental, explica, faz com que o aluno não se preocupe com o aspecto artesanal, com o manuseio do lápis e do pincel, por exemplo.

Curso histórico

João Quaglia é figura histórica. Em 1961, um curso de litografia artística, ministrado a pedido da gravadora Lotus Lobo, fez dele introdutor da técnica em Minas Gerais. Frequentaram aquelas aulas, no Palácio das Artes, Sara Avila, Jarbas Juarez, Eduardo de Paula, Yara Tupynambá e Álvaro Apocalypse, entre outros destaques das artes visuais do estado. “Foi uma reunião de pessoas que só pensavam em arte, todas com desenho muito pessoal. Um ambiente muito agradável”, recorda Quaglia. A preocupação da turma era se aprimorar. “A vanguarda surgiu depois, vinda justamente desse grupo”, lembra ele. Um álbum de litos de João Quaglia, surgido no fim dos anos 1960, ganhou apresentação do poeta João Cabral de Melo Neto.

REVIVENDO O FIGURATIVO

Pinturas de João Quaglia. Galeria de Arte do PIC Cidade, Rua Cláudio Manoel, 1.185, Funcionários, (31) 3516- 8282. Até sexta-feira, das 8h às 19h; sábado (último dia), das 8h às 16h.

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