Marcos Coelho Benjamim abre mostra de novos trabalhos em galeria, na Savassi

Artista trabalha sem curadoria e apresenta livros feitos de lona e reflexões filosóficas

por Walter Sebastião 28/11/2013 09:10

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Márcia dos Anjos/Divulgação
(foto: Márcia dos Anjos/Divulgação)

Uma exposição incorreta, sem sustentabilidade, experimental e cheia de poemas. Ou: pequena mostra despretensiosa, safada e divertida. É assim que Marcos Coelho Benjamim define 'Borracharia Duchamp', mostra que ele abre hoje, às 19h, na Galeria Murilo de Castro. “Reivindico o direito de estar sozinho, de fazer exposição com menos assessoria, sem curador, interferências, artifícios e sem ficar explicando demais as coisas. E com clima igual ao do meu ateliê. Que seja um momento de prazer e permita visão menos anfetamínica do trabalho de arte”, conta. O artista fez, literalmente, tudo, inclusive o autorretrato que está nesta página.

A mostra reúne trabalhos realizados nos últimos cinco anos. Estão na exposição dois livros de lona com reflexões sobre a arte; conjunto de fotos que o artista define como “arqueologia pop metafísica”; e objetos realizados com vários materiais (espuma, plástico, chumbo, ferro, couro etc.), inspirados em cartuns que realizou há décadas. Tudo, conta, traduzindo visão de mundo e falando de “temas banais e, por isso, eternos”: vida, morte, traição, alegria, mágoas, ódio, cobiça... “Depois de época de obras silenciosas, sem nenhum texto, voltei a gostar da palavra, do literário, de colocar títulos nas peças, de criar personagens”, conta.

“Sempre fiz de tudo e era patrulhado. Hoje, não dou mais atenção a isso. Como não vou me aposentar, faço o que quero. Continuo um clínico geral e mais radical, pois estou também escrevendo”, acrescenta Benjamim. O que, observa, tem deixado ele feliz e por vários motivos. Tal postura, explica, faz com que fique mais próximo de seu processo criativo e trabalho puxa trabalho, nem sempre com o mesmo material, do mesmo gênero ou criado com a mesma técnica. “Deixo fluírem distintas possibilidades. Sinto que essa profusão de caminhos é riqueza, complexidade. Gosto da multiplicidade e tenho certa habilidade para fazer várias coisas”, afirma.

Benjamim relativiza até a inclusão do que faz no campo da geometria, sem negar admiração por tal estética: “O problema da geometria é que o artista fica circulando dentro do quadrado. A geometria no meu trabalho é fortuita, ocasional, brinco com a matéria”, conta. “Faço geometria sem rumo, que flui sem controle, orgânica, e é a mesma natureza da flor, do cabelo que vai crescendo”, garante.

“Arte talvez não transcenda, mas cura”


Duchamp – A palavra no título da exposição remete ao francês Marcel Duchamp (1887-1967), que, nos anos 1910, levou objetos do cotidiano para as galerias, questionando ideias convencionais sobre o que é arte. E assim antecipou proposições da pop art e da arte conceitual. “É ironia. Vi tempos em que havia uma ditadura Duchamp e isso sempre me incomodou, foi pesado para mim”, observa Benjamim, lembrando-se de época em que a ênfase nas ideias do francês marginalizou quem não tinha afinidades com estética avessa a práticas artesanais. “Admiro a obra dele, mas não é o que gostaria de fazer. É obra de pensador, não de artista plástico. As pessoas acham que é a mesma coisa, mas quem pega na massa sabe que não é. 'Acho o Grande' vidro pensado demais, mas gosto da 'Fonte e a Roda', pela atitude de levar o objeto cotidiano a outro patamar, o que também faço.”

Atos – “Nunca fiz obra para alguém que não seja eu mesmo. Todo ato de interferir, de reinventar o mundo, é ato pessoal. O que busco é a compreensão de mim mesmo. Mas é preciso ter coragem para se compreender, para admitir o quanto se é frágil, o que também é mágico. Quando penso no que realizei fico preocupado. Não com a obra si, mas me pergunto: onde me encaixo?”.

Pop-metafísico – “Sou ligado a alguma metafísica sim. Até os cartuns, do início da carreira, são assim. Não acho que seja algo religioso, embora sinta o fazer coisas como um ritual. Não acredito em Deus, mas acho que ele leva fé em mim. E gosto do pop, acho movimento aberto, que vem do popular, o que é minha cara. Tenho muitas obras que se referem ao utilitário, a temas banais, e que, por isso, são eternos.”

Arte – “Nunca penso em arte achando que vou melhorar o mundo, penso nela como solução para mim. Arte talvez não transcenda, mas cura. Considero uma espécie de autorrealização, caminho um pouco de alquimista tentando transformar merda em ouro, sofrimento em bem-estar. A energia que se gasta para fazer arte e para ser um bandido é a mesma, mas acho que fazer arte é melhor.”


O artista


Marcos Benjamim tem 62 anos, vive e trabalha em Belo Horizonte. Começou fazendo cartuns e histórias em quadrinhos nos anos 1970. Ganhou projeção nacional com o movimento Desenho mineiro, que agrupou vários criadores em torno da linguagem gráfica. Aos poucos dedicou-se a trabalhos tridimensionais; primeiro objetos, depois grandes esculturas e instalações, apresentados no Brasil e no exterior. A produção da última década reúne trabalhos de parede que confrontam matéria e luminosidade. Trata-se de um dos mais importantes artistas brasileiros, com obras já apresentadas nos principais eventos de arte.

BORRACHARIA DUCHAMP
Mostra de objetos e fotos de Marcos Benjamim. Abertura quinta-feira, às 19h. Galeria Murilo de Castro, Rua Antônio de Albuquerque, 377, sala 1, Savassi. Aberta de segunda a sexta, das 10h às 19h; sábado, das 10h às 14h.
Até 21 de dezembro. Entrada franca.


 

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