Lançado em 2008, livro sobre Guimarães Rosa já pode circular

"Preservar a intimidade é uma forma de defesa muito séria", diz a filha do escritor mineiro, em meio à polêmica sobre censura de biografias

por Carolina Braga 11/10/2013 08:50

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Eugênio Silva
(foto: Eugênio Silva)
Em meio à polêmica sobre a censura a biografias não autorizadas publicadas no Brasil, o goiano Alaor Barbosa tem motivos para comemorar. Seu livro 'Sinfonia de Minas Gerais – A vida e a literatura de João Guimarães Rosa' (LGE) foi liberado pela Justiça. Desde 2008, a primeira biografia do autor mineiro estava impedida de circular devido à ação movida por Vilma Guimarães Rosa, filha do romancista.













O juiz Maurício Magnus, da 24ª Vara Cível do Rio de Janeiro, julgou improcedente a alegação de que a obra causa graves danos morais à imagem do escritor, viola direitos autorais e plagia fragmentos de Relembramentos: João Guimarães Rosa, meu pai (Nova Fronteira), escrito por Vilma. A decisão se baseia em perícia técnica feita nos respectivos livros.

Em 'Relembramentos...', a autora reproduz a correspondência trocada com o pai. “O livro não conta nada da vida de Rosa”, afirma o diretor executivo da Editora LGE, Antônio Carlos Navarro. Cinco mil exemplares foram recolhidos por força da liminar. “A memória de Guimarães não foi ofendida. É exaltação, de ponta a ponta”, alega o editor. Para ele, o impedimento está ligado a questões familiares.

Vilma Guimarães Rosa diz que a Nova Fronteira planeja questionar a sentença, emitida em agosto. Segundo ela, o processo foi movido, principalmente, por plágio. Mas isso não foi confirmado pela perícia. “Meu pai não gostava de biografia. Dizia que, além de perigoso, isso é muito delicado, pois penetra muito na intimidade das pessoas”, alega a herdeira.

Vilma se alinha ao grupo Procure Saber, formado por Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Roberto Carlos e Djavan, contrário à publicação de biografias não autorizadas. Nana Caymmi, Lobão e Alceu Valença discordam dos colegas, alinhando-se a biógrafos como Fernando Morais, Laurentino Gomes, Ruy Castro e Lira Neto em defesa da liberdade de expressão. “Preservar a intimidade é uma forma de defesa muito séria. Tem pessoas que vão ganhar dinheiro fazendo sensacionalismo. Isso não é justo. Sou a favor da diplomacia na biografia não autorizada”, diz Vilma.

Alaor Barbosa pretende reeditar 'Sinfonia...' em dois volumes depois de excluir citações a 'Relembramentos....', alegando que elas “não só não são necessárias a meu livro como se tornaram inconvenientes a ele”. Alega que escreveu sobre a obra de Guimarães Rosa antes de focalizar a vida dele, ainda em 1981. “Meu intuito foi defender a cultura e a literatura brasileiras, que considerava ameaçadas pelo colonialismo cultural estrangeiro.” O goiano revela que, em 2003, tentou fazer contato com a família do romancista, mas foi destratado pelas herdeiras.

Mário na lista

Mário de Andrade é outra personalidade do panteão dos “intocáveis”. Há três anos, o jornalista Jason Tércio se dedica à pesquisa sobre a trajetória do intelectual paulista. “Quero fazer um livro o mais completo possível. Não encontrei nenhum entrave, porque, por enquanto, não busquei autorização de ninguém”, conta ele.

O jornalista considera “vergonhosa” a situação pela qual passou Alaor Barbosa. Segundo ele, ter livro confiscado e enfrentar processo devido à ausência de autorização é reflexo da mentalidade provinciana que ainda impera no Brasil. “No caso específico das biografias, vejo a mistura de hipocrisia e mesquinharia, pois nenhum dos herdeiros está realmente preocupado com a imagem moral e a privacidade do seu parente, está é interessado em se dar bem, ganhar uma grana extra, como se o escritor estivesse lucrando muito sem fazer nada. Trabalho de biógrafo é muito difícil, demorado e dispendioso”, afirma. (CB)

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