Projeto 'Nessa Rua Tem um Rio' ocupa os dois quarteirões da Padre Belchior, no Hipercentro, com intervenções artísticas

Objetivo é integrar adolescentes em situação de risco por meio da arte

por Sérgio Rodrigo Reis 27/05/2013 09:14

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Marcos Michellin/em/d.a press
Thereza Portes é uma das idealizadoras do projeto na Rua Padre Belchior, onde nasceu e viveu durante 10 anos (foto: Marcos Michellin/em/d.a press)
A artista plástica Thereza Portes nasceu numa casa que existe há 75 anos, na Rua Padre Belchior, no Hipercentro de Belo Horizonte. Durante 10 anos ela esteve nos dois únicos quarteirões que formam essa que já foi considerada uma das ruas mais feias da capital. Ali cresceu vendo a mesa sempre posta, com a avó disposta a coar um cafezinho cada vez que aparecia visita. E eram muitas. Quando, há alguns anos, resolveu ocupar novamente o casarão com atividades do Instituto Undió, ONG voltada ao ensino de arte para crianças carentes ou em situação de risco da região, ela retomou o antigo hábito da família, de um jeito diferente. A cada edição do projeto 'Nessa Rua Tem um Rio' – referência ao rio canalizado –, Thereza convida artistas a realizarem intervenções efêmeras. Para encerrar, cafezinho em farta e democrática mesa de guloseimas. No sábado, o local voltou a ter a rotina alterada.

As lojas que ficam embaixo da casa – apelidadas de “loja nada” pelo fato de permanecerem fechadas e só venderem arte – foram ocupadas pelas performances do coletivo Piseagrama, por projeções de filmes e intervenções de artistas como Sávio Leite e Marta Neves. A agitação se estendeu pela rua com outras ações coordenadas pelos demais participantes. Funciona assim: a cada edição, são convidados artistas, que ganham um pro labore simbólico para propor projeto estético. Depois da ação inaugural, que dura enquanto ocorrer o evento (das 9h30 ao meio-dia de sábado), a pesquisa continua em futuras edições e os desdobramentos voltam a ser apresentados, mensalmente. “Depois da ação inicial, a rua se torna espécie de laboratório deles. Já tivemos grandes momentos graças a nomes como Fernando Cardoso, além dos coletivos Xepa e Poro”, conta Thereza. A agitação tem conseguido envolver os comerciante e a população em torno das provocações de artistas contemporâneos.

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Elisa Rezende experimenta camisetas na "loja nada", aberta apenas durante o evento (foto: Marcos Michellin/em/d.a press)
Cristina da Conceição Viana, dona de um bazar vizinho à sede do projeto, é das entusiastas da ideia. “Conheci o trabalho e comecei a gostar desse tipo de arte. Sinto que é uma coisa diferente.” A amiga Patrícia Campos, também dona de bazar, diz sentir-se feliz com a agitação inusitada que toma conta da Padre Belchior. “Mesmo sem entender, acho interessante porque me traz alegria.” A idealizadora do projeto, a artista Júlia Portes, vê com satisfação a reação. “É legal porque tudo isso sensibiliza. O que oferecemos é arte, música e poesia.” A ocupação artística tem efeito transformador na realidade da rua, poluída pela poeira de um trânsito intenso, formada por pequenos e singelos comércios de roupas usadas, bares com aspecto decadente, estacionamentos e até um cinema pornô. “São dois quarteirões no Centro em que, quando a arte aparece, é bacana ver o lugar sendo modificado com essa outra função”, comenta a artista Nydia Negromonte, uma das frequentes participantes. Recentemente, coube a ela ocupar a casa de número 280 com uma instalação inspirada nas reminiscências da família Portes.

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A rua no Hipercentro, que já foi considerada a mais feia da cidade, tem a rotina alterada pelo projeto (foto: Marcos Michellin/em/d.a press)
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Transgressões


O projeto 'Nessa Rua Tem um Rio', do Instituto Undió (criado há 30 anos), é realizado mensalmente desde 2006. A cada edição, artistas contemporâneos adeptos das intervenções urbanas são convidados a propor ações na Rua Padre Belchior. “O projeto ocorre independentemente de qualquer coisa: bastam a rua, a vida e as pessoas. Não há formato fechado. É a vida na rua. A ideia consiste em convidar nossos alunos a conviver com propostas dos artistas”, explica Thereza Portes. Segundo ela, nesses anos todos de desenvolvimento da proposta, conseguiu visualizar com clareza a aproximação do trabalho dos adolescentes e dos artistas. “Tanto um quanto outro usam a mesma ferramenta para se expressar: a transgressão.” Com esse material efêmero, rico e transformador, eles têm conseguido parar a rua.
Informações sobre o projeto em www.nessaruatemumrio.word press.com

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